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Brasil ainda tem municípios que não chegaram ao século XXI

O Globo, País, p. 10
01 de Jun de 2014

Brasil ainda tem municípios que não chegaram ao século XXI
País avança, mas desigualdade entre regiões ainda é grande, diz estudo da Firjan

Carolina Benevides

RIO - Mesmo com as transformações sociais e econômicas da última década, alguns municípios do Brasil ainda não chegaram ao século XXI. O dado é do Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM). De acordo com o estudo, os 500 municípios com menores IFDMs estavam, em 2011, 13 anos atrás dos 500 na liderança do ranking. O índice analisa três áreas - Educação, Saúde e Emprego e Renda - e varia entre 0 e 1. Quanto mais perto de 1, melhor.
Segundo o levantamento, em 2011, o IFDM do Brasil foi de 0,7320 pontos, 1,8% maior do que em 2010. Os indicadores de Saúde e Educação melhoraram em 65% e 81% das cidades, respectivamente. O indicador Emprego e Renda, no entanto, recuou: em 2011, a geração de empregos foi 23% menor do que no ano anterior.
Mas, ainda que o país tenha avançado, a desigualdade entre as regiões cai em ritmo lento. Sul e Sudeste concentravam as cidades com maiores índices de desenvolvimento - São Paulo ocupava as dez primeiras posições do ranking. Entre as capitais, o Rio aparecia em 9o lugar, tendo atingido status de alto desenvolvimento. O Centro-Oeste, pela primeira vez, não teve nenhuma cidade com baixo desenvolvimento. Mas Norte e Nordeste tinham apenas três cidades com alto desenvolvimento: Palmas, no Tocantins, e Euzébio e Sobral, no Ceará. Os últimos dez colocados no ranking geral eram dessas regiões.
Santa Rosa do Purus, no Acre, com pouco mais de quatro mil habitantes, segundo o Censo 2010, tinha a pontuação mais baixa do Brasil. De acordo com o estudo, por lá, a nota média do Ideb era 24,4% inferior à nota média nacional. Na Saúde, a taxa de óbito de menores de 5 anos por causas evitáveis foi quase quatro vezes maior que a média nacional. Além disso, entre 2008 e 2011, a geração de emprego formal no município foi nula.
- Mesmo com o país tendo avançado, são dois Brasis. Houve uma mudança significativa entre 2000 e 2010, mas o Brasil ainda tem desafios, quando comparado com o mundo e também com as regiões mais desenvolvidas do país - diz Guilherme Mercês, gerente de Estudos Econômicos da Firjan.
Médica e professora da UFRJ, Ligia Bahia acredita que, para diminuir a disparidade regional, é necessário que haja prioridade orçamentária e de recursos humanos:
- Sem planejamento, sem articulação entre o social e o crescimento econômico, essa desigualdade não acaba. Não adianta só repassar verba, não pode ficar mais achando que política social é melhorar renda e só. Se melhora a renda e não melhora, por exemplo, a qualidade da Saúde oferecida, em algumas cidades a pessoa vai continuar morrendo sem diagnóstico. Diminuir a disparidade é dar também mais chance de sobrevivência, de uma vida melhor.

Entre 2010 e 2011, avanço no Norte e no Nordeste
Mesmo com melhora nos índices, cidades não têm alto desenvolvimento
por Carolina Benevides
31/05/2014 19:00

Mesmo com a disparidade entre as regiões, quando reunidas as cem cidades que mais avançaram no IFDM geral entre 2010 e 2011, 83 são municípios do Norte e no Nordeste. Ainda que tenham avançado, nenhuma das cem atingiu o patamar de alto desenvolvimento. O primeiro da lista, Várzea do Poço, na Bahia, com pouco mais de oito mil habitantes, segundo o Censo 2010, teve crescimento nos três indicadores. Educação apresentou a maior evolução. Ainda assim, Várzea do Poço ficou com IFDM geral de 0,4043, tendo saído do baixo desenvolvimento para o regular, e permaneceu entre os 500 piores resultados do país.

- Educação avançar é regra. Se não houver guerra ou crise, uma geração não tem resultado pior que a anterior. Agora, o bom gestor faz avançar de forma acelerada. E se investir, por exemplo, como em Sobral (CE), que há 20 anos tem política de continuidade, a Educação reflete em outras áreas, na Saúde, na Segurança - diz Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos Pela Educação, lembrando que cidades pequenas tendem a avançar mais rapidamente. - Se a população é pequena, o que acontece em vários municípios do Norte e do Nordeste, uma rede com dez, 15 escolas pode fazer a diferença, pode mudar a realidade num curto tempo. Agora, se o gestor entender que o investimento em Educação é o que mais rende, aí o crescimento realmente pode surpreender.

Professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas (FGV), Kaizô Beltrão concorda com Priscila e diz que o investimento em educação básica pode alavancar várias áreas. Beltrão lembra ainda que todas as cidades, mesmo as mais desenvolvidas, têm um desafio: crescer com qualidade.

- O índice da Firjan analisa, por exemplo, óbitos por causas mal definidas. Se as cidades apresentam melhora nisso, pode ser que a qualidade do diagnóstico tenha avançado. Agora, se as cidades melhoram a educação básica, então podem alavancar várias áreas, porque isso afeta a renda das pessoas, faz com que elas saibam onde procurar seus direitos, faz até com que procurem ter mais acesso à Saúde.

Coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara acredita que, para que haja avanço em todo o país, é necessário que o governo federal comece a garantir um padrão mínimo para todos os municípios:

- O problema é estrutural, são muitos recursos concentrados na União e poucos nos estados e municípios. As políticas públicas são feitas pelo governo federal, que pede que os municípios se filiem. O caminho devia ser a cooperação, que causaria um efeito equalizador.

O Globo, 01/06/2014, País, p. 10

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