FSP, Ciência, p. A16
03 de Jun de 2008
Brasil abriga 130 invertebrados sob ameaça de extinção
Levantamento do IBGE mostra que mata atlântica é lar da maioria dos insetos, aracnídeos e vermes em risco de sumir
Cientistas já declararam a extinção de uma espécie de formiga, uma de abelha e duas de minhoca; outras 27 estão em perigo "crítico"
Denise Menchen
Colaboração para a Folha, no Rio
Um mapa lançado ontem pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra que a maior parte dos 130 insetos e outros invertebrados terrestres ameaçados de extinção no Brasil vive em região de mata atlântica. São Paulo é o Estado que concentra o maior número de espécies e subespécies em risco: 46. Rio de Janeiro, com 41, Minas Gerais, com 35, e Espírito Santo e Bahia, com 24 cada, vêm em seguida.
Segundo Licia Leone Couto, coordenadora de Recursos Naturais do IBGE, a maior ameaça a esses animais é a destruição de seu habitat. "Eles têm uma área de ocorrência muito restrita e são endêmicos, ou seja, não se adaptam com facilidade a outros locais", diz.
Ela explica que o mapa, batizado de "Fauna Ameaçada de Extinção: Insetos e outros Invertebrados Terrestres", foi formulado com base no último balanço de espécies ameaçadas divulgado pelo Ibama, de 2003. O documento anterior, baseado em dados de 1989, continha apenas 33 espécies.
Em relação ao mapa anterior, foi verificada a saída de 14 espécies da lista de perigo. A entrada de novos animais, porém, quase quadruplicou o número de invertebrados sob risco.
Mapa do perigo
Apresentado na escala de 1 por 5 milhões (em que 1 cm no mapa corresponde a 50 km de território), o mapa é ilustrado e tem como objetivo retratar o estado de conservação das espécies ameaçadas e incentivar projetos voltados para a preservação da biodiversidade.
Ele oferece como pano de fundo a vegetação primitiva, a área modificada pelo homem e a delimitação dos biomas. "Os recursos visuais facilitam a compreensão do problema", afirma Couto.
Ela manifestou preocupação com o aumento no número de espécies ameaçadas. "Por serem pequenos, alguns até com um milímetro de tamanho, os insetos não recebem a devida atenção. Mas eles têm uma grande importância para o equilíbrio do meio ambiente", disse. Segundo ela, muitos têm função decompositora e polinizadora, e outros são alimento de animais vertebrados, como sapos e macacos.
A lista inclui 96 espécies e subespécies de insetos e 34 de outros invertebrados terrestres, como aranhas, minhocas e caracóis. Elas são distribuídas geograficamente e classificadas em quatro categorias: extintas, criticamente em perigo, em perigo e vulnerável.
Do total de 130, quatro já são consideradas extintas: a formiga Simopelta minima, que podia ser encontrada na Bahia, a libélula Acanthagrion taxaense, do Rio de Janeiro, e as minhocas Fimoscolex sporadochaetus (minhoca-branca) e Rhinodrilus fafner (minhocuçu ou minhoca gigante), que tinham ocorrência em Minas Gerais.
Ao todo, 27 espécies foram enquadradas na categoria de "criticamente em perigo de extinção". A maior parte dos animais nessa condição são borboletas. Com 55 espécies e subespécies na lista geral, elas representam mais de 55% do total de insetos ameaçados no Brasil.
Até o fim do ano, o IBGE pretende lançar o mapa das espécies de peixes e invertebrados aquáticos ameaçados de extinção, completando a série que começou em 2006, com a publicação do mapa das aves. Em 2007, foi feito o mapa dos mamíferos, répteis e anfíbios. No total, são 632 espécies e subespécies em risco de desaparecer.
O mapa dos invertebrados em risco está à venda por R$ 15 nas livrarias do IBGE em todo o país e também na loja virtual do instituto. Ele também pode ser encontrado no site do instituto (www.ibge.gov.br), na seção destinada aos mapas.
FSP, 03/06/2008, Ciência, p. A16
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