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Brancos e Índios que se entendam

Carta Capital
Autor: SANTILLI, Márcio
24 de Jan de 2004

Brancos e Índios que se entendam
O conflito em Roraima é pequeno perto do que está por vir em Mato Grosso do Sul

Roraima, Mato Grosso do Sul, Bahia. Os históricos conflitos indígenas pipocam no País. Lula iniciou o governo com a função de homologar 23 áreas indígenas já demarcadas e agora falta só Raposa/Serra do Sol, em Roraima. Na opinião de Márcio Santilli, que presidiu a Funai em 1995 e 1996 e é membro do conselho diretor do Instituto Socioambiental, o embate mais difícil envolve a etnia dos guaranis-caiovás, que ocupam áreas não-contínuas, cercadas por fazendas em Mato Grosso do Sul.

Carta Capital: Os conflitos indígenas neste momento estão acontecendo em maior quantidade?

Márcio Santilli: São casos antigos que, em momentos diferentes, voltam ao radar, como é o caso de Raposa/Serra do Sol, em função do anúncio da homologação pelo governo federal. No caso do Mato Grosso, pelas iniciativas dos índios de ocupar as fazendas.

CC: A homologação de Raposa vai se concretizar?

MS: Vai. A maior demora está na discussão sobre as providências de assentamento e pagamento de indenizações. Depois, a tendência é que esses conflitos se resolvam. Já em Mato Grosso do Sul, a situação é bem mais complicada e pode durar meses.

CC: Por quê?

MS: Os caiovás, que constituem a maior etnia brasileira, se viu reduzida a uma terra pequena, com forte densidade de ocupação agrícola e pecuária. Ainda não há uma providência do governo engatilhada para resolver o caso, e há forte mobilização de índios pela desocupação das terras. Os não-índios detêm o título formal de posse das terras, o que dificulta o seu reconhecimento como indígenas.

CC: Qual a solução, ainda que utópica?

MS: A desapropriação das terras um dia terá de acontecer. A história dos guaranis-caiovás é trágica. Eles foram os principais aliados dos colonizadores portugueses e massa de manobra dos jesuítas nas missões, mas acabaram penalizados pelo governo brasileiro da época por terem se aliado ao inimigo na Guerra do Paraguai. Por isso, ficaram com uma porção relativamente pequena de terra.

CC: Politicamente, Lula perde ou ganha se apóia os índios?

MS: Na relação de forças de local, perde porque fere interesses de fazendeiros e de grupos econômicos, além de envolver governadores do próprio PT, o Flamarion e o Zeca. Mas ganha na opinião dos grandes centros e de fora do País. A questão é saber se o governo toma como referência a posição local ou a opinião difusa da sociedade.

Carta Capital, 24/01/2004

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