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BR entra na geracao de energia

GM, Energia, p.A1,A10
16 de Fev de 2004

BR entra na geração de energia
Distribuidora procura parcerias na co-geração a partir do bagaço de cana. A BR Distribuidora está decidida a participar da co-geração de energia por meio do bagaço da cana-de-açúcar. Dezenove usinas dos estados de São Paulo, Goiás e Mato Grosso já assinaram com a BR um protocolo de intenções para que possam gerar um excedente de 350 MW de energia para ser comercializado, depois dos estudos de viabilidade ora em curso.
Os investimentos são pequenos, da ordem de R$ 600 milhões, já que há tecnologia desenvolvida e matéria-prima abundante. Usinas do Nordeste também estão conversando com a estatal para assinarem o mesmo protocolo.
Hoje, no Estado de São Paulo, 53 usinas já geram 553 MW de energia para venda, dos 956 MW produzidos. A diferença de 403 MW é consumida nas próprias usinas para a produção de álcool e açúcar, segundo a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), que reúne 90 usinas de açúcar e álcool do Estado de São Paulo, maior produtor mundial de álcool carburante.
Implantando uma nova filosofia para se transformar em empresa de soluções energéticas - dentro do que se propõe a Petrobras, sua controladora, de se tornar uma empresa de energia, "do poste à bomba", como define José Eduardo Dutra, presidente da estatal -, a idéia que a BR vem alinhavando é criar uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) para cuidar da área de co-geração. Essa SPE teria a participação acionária das usinas, da própria BR, minoritariamente, e de um investidor.
Esse mesmo modelo vem sendo discutido com indústrias para a co-geração de energia, através do gás. "Já temos cerca de 60 protocolos assinados nesse sentido, só para a área de gás. Definidas as regras para o setor elétrico, inclusive para o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia (Proinfa), creio que a utilização do gás e do bagaço tendem a ganhar musculatura dentro da nossa matriz energética", diz Marco Antonio Vaz Capute, diretor de Mercado Consumidor da BR Distribuidora.
Pelos levantamentos da BR, há um potencial de 8 mil MW que podem ser gerados através do processo de co-geração a gás, dentro do esquema de uma SPE. Para o bagaço da cana-de-açúcar, "com pequenos investimentos para mudança de caldeiras e compressores, será possível ampliar em até 4 mil MW a energia excedente gerada dentro das usinas, num curto espaço de tempo", explica Alexandre Penna Rodrigues, gerente-executivo de Soluções de Energia da BR.
Segundo Onório Kitayama, assessor de diretoria da Unica e responsável pela área de co-geração, as potencialidades são enormes. "Além do bagaço, podemos utilizar também a palha da cana, com alto teor calórico. Os investimentos para isso são ínfimos em comparação à construção de uma térmica ou uma hidrelétrica, por exemplo", diz. De acordo com as suas avaliações, pode-se, no curto prazo, gerar um excedente de 15 mil MW nas usinas do estado de São Paulo.
Com o lançamento do Proinfa, 33 usinas do estado de São Paulo já têm projetos para iniciar ou ampliar a geração de energia através do bagaço da cana. Com uma potência instalada de 1.032 MW, a previsão é que 71,7% disso vire excedente para ser vendido, principalmente para a Companhia Paulista de Força e Luz (CPFL), que já compra excedentes das usinas de São Paulo.
Além da co-geração, a BR, junto com a Petrobras, tem conversado sobre álcool com os usineiros. Uma aliança com a Petrobras e com o seu braço na distribuição, a BR, é estratégica para a expansão do setor. "Temos a tecnologia da produção, desde a plantação da cana até a extração do álcool. A Petrobras tem a logística, clientes e fornecedores mundo afora. É o casamento perfeito", diz Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da Unica, que tem participado de encontros com a estatal.
Às turras durante muitos anos, em grande parte devido a disputa pelo mercado de combustíveis - os carros a álcool chegaram a representar mais de 90% da frota no auge do Proálcool -, Petrobras e usineiros tentam aparar antigas rusgas, buscando soluções para que o País possa exportar significativas quantidades de álcool. E o foco principal é o Japão. A Petrobras e a BR estão em negociações avançadas para exportar o produto para lá, depois que o governo japonês sancionou uma lei permitindo a adição de 3% do álcool à gasolina.
"Temos que nos posicionar para ficarmos com o mercado japonês, já que Índia e Tailândia também estão de olho naquele mercado. Acho que as negociações caminham bem. Mas o negócio só irá para a frente com uma parceria em que entrem os japoneses, através de uma grande trading. Nós entraríamos com a logística. Os usineiros, com o álcool. Temos que criar garantias de fornecimento", sustenta Capute.
Claudio R. Gomes Conceição

GM, 16/02/2004, p.A1 e A10

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