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Bons ventos sopram da Mata Atlântica

O Globo, Opinião, p. 16
27 de Dez de 2014

Bons ventos sopram da Mata Atlântica
Área da floresta tropical no Estado do Rio atinge taxa de desmatamento próxima a zero, indicador de que é possível preservar um dos mais ricos biomas do planeta

Vítima de exploração desenfreada, à qual, ao longo de décadas, tem se juntado um compromisso tíbio do poder público com a sua preservação, a Mata Atlântica detém um recorde invejável e uma lamentável marca. Formada por um variado conjunto de florestas que se espalha por 17 estados brasileiros, e por Paraguai e Argentina, trata-se de uma área verde onde floresce o maior celeiro de biodiversidade do planeta. Esse é o viés positivo. O negativo: além de uma das mais pujantes, essa floresta tropical é uma das mais ameaçadas do mundo, seja em razão da cobiça dos exploradores, da ausência de políticas sérias de sustentabilidade ou da leniência de órgãos aos quais cabem salvaguardá-la da extinção.
Esta, aliás, é uma expressão em que não há exageros. De sua antiga e extensa área, restam hoje apenas 8,5% de mata original, residual concentrado, em sua maioria, na região mais desenvolvida e habitada do país. São particularidades que se juntam - fiscalização frouxa, interesses na exploração de suas riquezas, pressões demográfica e econômica sobre o que resta da floresta - para torná-la um bem natural que requer políticas sólidas de preservação. E que explicam a razão de esse bioma verde estar reduzido hoje a menos de dez por cento do que já foi em outros tempos.
Visto por esse viés, é altamente positiva a constatação de que, ao menos no Estado do Rio, a curva de degradação da floresta parece ter sido contida. De acordo com o "Atlas dos Municípios da Mata Atlântica", o desmatamento no Rio de Janeiro está próximo a zero. Entre 2012 e 2013, esse tipo de agressão ficou dentro de um limite bem estreito - apenas 11 hectares, que virtualmente tangencia aquela taxa. A marca é tanto mais significativa quando se recorda que, há apenas cinco anos, o Rio era o estado onde a Mata era mais agredida.
Alcançar esse estágio positivo não é, por óbvio, obra da Providência. Em face da caótica política de (falta de) preservação que prevalecia até o fim da década passada, com parques e reservas abandonados e prefeituras indiferentes à necessidade de adotar políticas ambientais sustentáveis, o poder público imprimiu ações que colaboraram para mudar o quadro. A área protegida em municípios fluminense mais que dobrou, passando de 105 mil hectares para 220 mil. Incrementaram-se também a fiscalização e os órgãos de combate a crimes contra o meio ambiente.
Preservar o que resta da Mata é essencial numa região onde o turismo, para muitas cidades, é a principal fonte de receita. Contido o desmatamento, os desafios agora são manter a política de controle, mas evitando exageros da burocracia governamental e o radicalismo de Ongs do setor, bem como ampliar o debate sobre os meios viáveis para o Estado do Rio avançar na reposição de pelo menos parte desse patrimônio vegetal perdido na devastação recente.
É uma questão essencialmente política, assim como a despoluição (travada) da baía de Guanabara.

O Globo, 27/12/2014, Opinião, p. 16

http://oglobo.globo.com/opiniao/bons-ventos-sopram-da-mata-atlantica-14…

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