GM, Rede Gazeta do Brasil, p.B13
20 de Jul de 2004
Bonito integra seus habitantes ao turismo sustentado
Marcelo Moreira
De Campo grande e Bonito (MS)
Cidade está próximo de encontrar o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e sustentado, com preservação. Um dos maiores desafios do ecoturismo brasileiro é encontrar o ponto de equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e o desenvolvimento sustentado. Em outras palavras, e simplificando bastante a questão, o objetivo é saber qual é o limite de exploração de uma região e/ou atividade. Na busca por essa resposta, a pequena Bonito, distante quase 300 quilômetros de Campo Grande (MS), está em estágio bastante avançado e em breve poderá se tornar um exemplo brasileiro na área.
A cidade é a jóia da política de turismo do governo do Mato Grosso do Sul. Com apenas dez anos de atividade turística desenvolvida, Bonito já é um dos destinos mais procurados do Centro-Oeste e conseguiu um feito notável, que ainda é perseguido por cidades do litoral nordestino: a completa integração dos 18 mil habitantes ao conceito e ao desenvolvimento do turismo sustentado. A quinta edição do Festival de Inverno de Bonito - que termina no próximo dia 24 de julho e que hoje já ocupa o topo das atividades culturais do estado, é a prova mais bem-acabada da integração entre a população e o meio ambiente.
Excetuando-se os nichos de preservação, as ruas da cidade são limpas, a rede de hoteleira é de boa qualidade e a gastronomia já começa a oferecer várias opções além das carnes de animais exóticos. Tudo dentro do preceito "preservação total".
Os resultados são vistos nos números que o festival cultural de inverno apresenta. Com investimento mo-desto de R$ 1,2 milhão - apresentando patrocinadores de peso, como a Petrobras, a TAM, a Eletrosul, a Eletrobrás e a Caixa Econômica Federal - a cidade espera um público de 50 mil pessoas nos oito dias do evento, 10% mais do que no ano passado.
Integração da população
Dos 18 mil habitantes, mais de 4 mil estão envolvidos direta ou indiretamente com a atividade turística, um índice de quase 25%, excelente até mesmo para os padrões europeus de cidades com o mesmo porte.
Não bastasse isso, a cidade conseguiu que o turismo represente 15% do orçamento total do município, conhecido também por sua produção pecuária. No mês de julho, o Festinbonito será o responsável por uma elevação da receita municipal em 70%. "O festival hoje é uma das atrações principais do estado e está despertando a atenção da iniciativa privada, que está investindo bastante na cidade", disse o prefeito Geraldo Marques.
Já o governador José Orcírio dos Santos, o Zeca do PT, concordou com Marques, afirmando que o festival é dos projetos mais bem-sucedidos de seu governo e que em breve "vai ser tornar um dos principais cartões postais sul-mato-grossenses".
Ele afirma que o governo do estado percebeu a importância de valorizar a atividade turístico-cultural como forma de ajudar o grande público a esquecer um pouco do agronegócio. "É bom sermos conhecidos por termos o maior rebanho bovino do Brasil, mas temos mais coisas do que isso. Temos uma atividade cultural comparável à dos grandes centros, apesar de ser um estado dom 26 anos de idade apenas. Isso sem falar no potencial turístico, que ainda nem começamos a explorar."
E é aqui que entra em cena o secretário de Cultura do Mato Grosso do Sul, o empresário paulista Sílvio Nucci, vereador licenciado em Campo Grande pelo PT. Há mais de 20 anos morando na cidade, ficou conhecido nos meios culturais da capital e tornou-se influente no circulo político de Zeca do PT. Foi ele que ajudou a despertar o interesse do governador pela cultura e pelo turismo de natureza, de história e de cultura, com ajuda do atual presidente da Fundação de Turismo do Mato Grosso do Sul. O resultado é que conseguiu o cargo de secretário estadual de cultura e é o principal responsável pelo aumento do orçamento de sua pasta em mais de 40% neste ano, subindo para quase R$ 20 milhões.
Valor agregado"Nós percebemos que a cultura tem um valor agregado muito importante para atividades turísticas e de divulgação do estado e elaboramos uma estratégia de colocar o segmento na vitrine das atividades estaduais. O Festinbonito cresceu tanto do ponto de vista institucional que se tornou modelo para projetos semelhantes no Brasil", diz Nucci. O grande aliado para a realização do Festinbonito - que tem metade dos custos bancado pelo governo estadual -, além de Carlos Porto, é Nilson Rodrigues, o produtor cultural de Brasília que é o responsável pelo conceito e pela organização do evento.
Como coordenador-geral, Rodrigues adotou ma política que ajudou a dar credibilidade a uma proposta que, à primeira vista, poderia soar pouco interessante a uma série de investidores. "O festival consegue mesclar bem o popular, o erudito e o regional, sempre tendo a cultura como pano de fundo.
O tema geral do ano passado era o futuro da água doce no mundo; neste ano, é o desenvolvimento sustentável do ecoturismo. Essas discussões, com especialistas brasileiros e até estrangeiros, são necessárias para dar um diferencial ao nosso projeto."
Sílvio Nucci tem agora como missão aprontar o Festival da América do Sul, um evento semelhante ao Festinbonito no conceito a ser realizado em setembro em Corumbá (MS). Além do caráter artístico e cultural, o festival, orçado em R$ 4,5 milhões, terá um caráter político, já que estão programados vários debates sobre o papel da América do Sul no comércio mundial e a necessidade de união entre os países da região para as disputas dentro da globalização.
GM, 20/07/2004, p.B13
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