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Bom dia ,

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
04 de Mai de 2004

Um editorial do tradicional matutino "Estado de São Paulo", publicado na semana passada, chama a atenção para a crescente e perigosa influência das organizações não-governamentais no governo de Lula da Silva (PT). É nítido o fato de que os principais ministérios do governo petista estão transformados em biombos para a realização dos interesses dessas organizações. Já dissemos neste espaço e repetimos agora que a maioria das Ongs apenas organiza minorias.
Não é outra a razão que leva a grande parte da população tupiniquim a dizer que Lula e seus ministros só trabalham sob pressão. Essa percepção consolida, no imaginário popular, a idéia de que o governo petista é fraco e está tomado por uma minoria que decide os destinos do país ao sabor do dinheiro - muito dele estrangeiro - e da capacidade de articulação das Ongs.
Apesar de estarem influenciando de maneira determinante em muitos setores do governo Lula, é nas questões indígenas e ambiental onde se faz sentir mais intensamente a atuação das Ongs. Quando se trata de índios ou meio ambiente ninguém tem mais força e poder de pressão sobre o governo petista que elas. Que estão virando, literalmente, instituições do Estado.
As recentes discussões em torno da questão indígena - inclusive e principalmente da Raposa/Serra do Sol - e a paralisia de grandes projetos públicos e privados, por conta da não liberação de licenças ambientais, demonstra cabalmente que o governo Lula é refém das Ongs, principalmente das fundamentalistas. Até Lula reclamou disso em recente visita a Urucu, no Amazonas. Reclamou, mas nada faz contra.
No caso da Raposa/Serra do Sol é patente esse viés do governo Lula. Numa democracia representativa como a nossa, é no Congresso Nacional que se decide os rumos do país. Deputados e senadores são eleitos para representarem a população. Eles estão munidos - legal e legitimamente - de um mandato popular que lhes confere poderes para decidir em nome da maioria da população.
Ora, semana passada, as duas Casas do Parlamento brasileiro - Câmara dos Deputados e Senado Federal -, através de votação quase unânime em duas Comissões Externas criadas para tal, manifestaram de maneira clara o que querem representantes do povo brasileiro sobre a questão da Raposa/Serra do Sol. Os relatórios - do deputado Federal Lindberg Farias (PT-RJ) e do senador Delcídio Amaral (PT-MT) - não deixam dúvida sobre isso.
Mesmo diante da demonstração insofismável da vontade da Câmara e do Senado sobre a demarcação da Raposa/Serra do Sol, o governo Lula da Silva adiou a decisão sobre a questão, pressionado pelas Ongs, que usam religiosos e alguns auxiliares do presidente como porta-vozes. Uma decisão que, diga-se de passagem, já deveria ter sido tomada faz muito tempo.
No andar dessa carruagem, onde o governo deixa de exercer o papel de Estado para se transformar em instrumento de Ongs, o país caminha rapidamente para uma crise institucional. Essa inclinação de boa parte da equipe Lula, por um governo que tenta praticar a democracia direta - sem a presença da intermediação do Poder Legislativo - levará fatalmente o Palácio do Planalto a uma confrontação com o Congresso Nacional, que já começa a reclamar inclusive do excesso de Medidas Provisórias assinadas pelo presidente.
É bom que o presidente Lula da Silva seja alertado de que somos uma sociedade complexa, que dificilmente aceitará ser governada por minorias organizadas em torno de Ongs, como se fôssemos uma republiqueta de banana.(

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