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Bom dia,

Folha de Boa Vista-Boa Vista-RR
25 de Mar de 2004

O roteiro e a prática são velhos e manjados, mas continuam funcionando nesses casos. Primeiro algum organismo internacional concede uma honraria, simbolizando que naquela pessoa concentra-se todo o ideal de uma luta heróica de uns pobres coitados, minorias, num país de bárbaros atrasados que não respeitam os direitos humanos. Os conceitos e valores sobre o ser vítima e o ser bárbaro são, é claro, produtos ideológicos devidamente elaborados pelos países matrizes de exportação do imperialismo cultural e econômico.
Logo depois de agraciados, os personagens símbolos da luta do "bem contra o mal" são chamados a denunciarem perante os órgãos internacionais ligados a ONU, o governo e a população majoritária de seus países. E assim, o mundo civilizado vai fazendo a idéia dos povos "bárbaros" que ainda habitam o Planeta em pleno Século XXI.
A história se repete agora, sem qualquer alteração de roteiro, tipo de personagem ou fatos novos. Recentemente a advogada Joênia Batista Wapixana, uma índia da etnia que lhe dá nome, foi condecorada com o Prêmio Reebok de Direitos Humanos versão 2004. Esta semana, Joênia embarca para os Estados Unidos, onde na segunda-feira, 29, denunciará perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA), a República Federativa do Brasil por violação dos direitos e garantias dos povos indígenas macuxi, wapixana, ingaricó, taurepang e pemonte, todos habitantes da terra Raposa/Serra do Sol.
O desenrolar do enredo é conhecido de todos. As denúncias de Joênia ganharão manchetes na grande mídia internacional, a internet será abarrotada com protestos de Ongs conhecidas e insignificantes, para finalmente, o governo brasileiro ser ameaçado com retaliações sob a forma de suspensão de liberação de recursos por órgãos multilaterais como o Fundo Monetário Internacional, Banco Mundial e Banco Interamericano. Ah! Sim, fica difícil para o Brasil reivindicar uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, sonho alimentado por todo ocupante do Palácio do Planalto.
É assim que os países emergentes como o Brasil vão tendo de renunciar ao desenvolvimento e aos legítimos interesses de sua população, inclusive de suas minorias, em nome de objetivos de países industrializados que sabem das vantagens de continuarem mandando no comércio internacional de mercadorias, fruto do que eles chamam de modernidade e globalização.

ESQUECIDO 1
Quando o "mundo civilizado" forçava o Brasil a demarcar o território ianomâmi, o líder Davi Kopenawa frequentava permanentemente a imprensa internacional e viajava constantemente para a Europa e Estados Unidos para denunciar violências -algumas eram verdadeiras-, cometidas pelo estado brasileiro e por garimpeiros, contra o povo yanomâmi. Kopenawa recebia com estardalhaço prêmios internacionais de Direitos Humanos, inclusive das Nações Unidas (ONU).

ESQUECIDO 2
No início do governo "modernista e globalizado" de Fernando Collor de Mello, o Brasil vergou-se às pressões externas e demarcou 9 milhões de hectares entre os Estados de Roraima e Amazonas, destinando-os aos povos yanomâmi. Pois bem, desde então quase não se ouve falar mais no combativo líder Davi Kopenawa, uma liderança respeitável, que hoje luta para salvar seu povo de doenças, incluindo-o aos poucos nalguns benefícios do mundo civilizado. Ninguém mais se interessa em condecorá-lo no exterior.

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