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'Boiada' de Salles e Bolsonaro é gol contra para o Brasil na OCDE e UE

O Globo - https://oglobo.globo.com/analitico/
Autor: FIGUEIREDO, Janaina
10 de Fev de 2021

'Boiada' de Salles e Bolsonaro é gol contra para o Brasil na OCDE e UE

Por Janaína Figueiredo
10/02/21

A política ambiental do governo Jair Bolsonaro se transformou no principal obstáculo para que o ministro da Economia, Paulo Guedes, possa avançar com sua agenda de abertura econômica. Enquanto o Itamaraty e a equipe de Guedes trabalham para tentar superar o impasse entre Mercosul e União Europeia (UE) e manter ativo o processo de incorporação do Brasil à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), medidas adotadas pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, dão munição pesada à campanha antiBrasil mundo afora.

Na disputa com a UE, o principal inimigo do Brasil é o governo do presidente da França, Emmanuel Macron, que acaba de elaborar um "side paper" (documento paralelo), propondo a seus sócios europeus impor novas exigências ao Mercosul para, finalmente, firmar o acordo de livre comércio entre os dois blocos. O documento do governo francês fala quase exclusivamente em meio ambiente e expressa preocupação com as queimadas e o desmatamento. Para bom entendedor, poucas palavras.

O Brasil está travando um entendimento que demorou mais de 20 anos em ser negociado e é considerado essencial pelos governos do Uruguai e Paraguai - a Argentina resiste, mas acompanha. O atrito com a França tem elementos de política interna e até mesmo questões pessoais. Macron continua com as ofensas do presidente Bolsonaro à primeira-dama francesa, Brigitte Macron, engasgadas, e enfrenta pressões internas dos movimentos ecologistas e de produtores rurais. Ter o Brasil como obstáculo para encerrar um acordo que poderá lhe trazer dores de cabeça na frente interna é absolutamente funcional a seu governo. E Salles dá aos franceses o que eles precisam para sustentar sua narrativa.

Na OCDE, o panorama é diferente, mas o problema é o mesmo: meio ambiente. O secretário-geral da organização, o mexicano José Ángel Gurría, se dispôs, desde o começo do governo Bolsonaro, a trabalhar pela incorporação do Brasil. O México, cujo presidente, Andrés Manuel López Obrador, é uma espécie de antítese política de Bolsonaro, também apoia o Brasil. Outros vizinhos regionais que já estão dentro, como Colômbia e Chile, são a favor. O problema chama-se UE e, dentro dela, França.

Um embaixador de longa trajetória nos Estados Unidos garante que o governo de Joe Biden está disposto a trabalhar com o Brasil. Desestressar o vínculo com os europeus parece ser bem mais difícil. Mas, em ambos os casos, apontou o embaixador, a bola está do lado do governo Bolsonaro. Os chamados atos "infralegais" do ministro Salles são mais um gol contra.

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