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BNDES suspende empréstimo para hidrelétrica do PAC

OESP, Negócios, p. B17
19 de Nov de 2008

BNDES suspende empréstimo para hidrelétrica do PAC
Desistência teria sido provocada por mudanças não informadas na formação do consórcio

Nicola Pamplona

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) suspendeu empréstimo de R$ 540 milhões para a construção da hidrelétrica Serra do Facão, obra incluída no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) e que tem participação da estatal Furnas. O banco não comenta o assunto, mas fontes próximas ao projeto dizem que a desistência é fruto da entrada, no consórcio responsável pela obra, da Gallway Projetos em Energia, empresa controlada por companhia com sede na Holanda.

O financiamento à obra, localizada no rio São Marcos, na divisa de Goiás com Minas Gerais, havia sido aprovado pelo banco em agosto do ano passado. O consórcio incluía então as empresas Alcoa, Camargo Correa, DME Energética, Furnas e Oliveira Trustee, as duas últimas por meio da sociedade de propósito específico (SPE) Serra do Facão Participações. Em janeiro, a Gallway comprou a fatia da Oliveira Trustee, equivalente a 50,1% da SPE e a 25,1% da usina, segundo a própria companhia.

Essa mudança na participação não chegou a ser divulgada por Furnas. Em sua página na internet a estatal nunca fez qualquer referência aos novos parceiros. "A construção e gestão da usina é de responsabilidade do Consórcio de Empresas Associadas Serra do Facão (Gefac), composto por Furnas, com 49%, Alcoa (35%), DMEE (10%) e Camargo Corrêa Cimentos S/A (5,5%)", limita-se a registrar a estatal, na internet. Procurada pelo Estado, a empresa recusou-se a falar sobre o assunto, alegando tratar-se de questões societárias.

José Antonio Muniz, presidente da Eletrobrás, estatal que controla Furnas, declarou que a compra da parte da Gallway foi recomendada pela holding. "Decidimos que Furnas comprasse essa fatia na Serra do Facão Participações. O consórcio vai agora voltar ao BNDES para pedir o empréstimo", afirmou Muniz.

Ele justifica que a falta de divulgação sobre a entrada da Gallway no projeto se deve ao fato de a operação ter sido apenas uma transferência de ações entre dois grupos privados (Oliveira Trustee e Gallway). Muniz não soube informar o valor da transação e limitou-se a dizer que Furnas pagou valor semelhante ao que havia sido pago pela Gallway quando ingressou no negócio.

A negativa do financiamento irritou a direção da Gallway, que foi à Justiça pedir esclarecimentos ao BNDES. No início do mês, a empresa decidiu vender sua participação na Serra do Facão Participações a Furnas. Segundo seu diretor-financeiro, Sérgio Reinas, a saída do projeto foi provocada por problemas com seu "advisor e financiador, ABN Amro Bank, após a aquisição deste banco pelo Santander".

Segundo o BNDES, a instituição não pode comentar o caso, que está sob sigilo bancário. Relatório confidencial preparado pelo mesmo ABN Amro para a Gallway indica que a companhia é controlada pela Tuindorp Enterprises, com sede na Holanda, cujos únicos registros na internet referem-se à sua controlada no Brasil. "A companhia e seus respectivos acionistas sempre passaram por processos de compliance (avaliação) nas instituições financeiras nas quais operam, sem qualquer restrição", disse Reinas, por e-mail.

Incluída entre as 10 usinas hidrelétricas da lista do PAC para o Centro-Oeste, a usina Serra do Facão, entre os municípios goianos de Catalão e Davinópolis, tem investimentos totais de R$ 770 milhões e potência de 210 megawatts (MW), segundo informações de Furnas. A capacidade é suficiente para atender a uma cidade com 1,2 milhão de habitantes. O consórcio responsável pelo projeto informou que as obras vêm sendo tocadas normalmente e já estão em sua segunda fase, apesar de o BNDES ainda não ter liberado o financiamento.

OESP, 19/11/2008, Negócios, p. B17

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