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BNDES quer financiar tecnologia para substituir mercúrio no garimpo

O Globo, O Pais, p.11
22 de Jun de 2004

BNDES quer financiar tecnologia para substituir mercúrio no garimpo

Toni Marques e Chico Otavio

O presidente do BNDES, Carlos Lessa, anunciou ontem, no Rio, que a instituição está disposta a financiar projetos que substituam o mercúrio da extração de ouro de aluvião, principalmente na Amazônia. Usado na purificação do ouro, pelo processo conhecido como amalgamação, o mercúrio é extremamente poluidor, uma vez que se acumula no ambiente. Lessa disse que, até o momento, não apareceu uma tecnologia capaz de erradicar o processo dos garimpos.
O presidente do BNDES e o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, participaram ontem de um seminário sobre desenvolvimento sustentável da Amazônia na Escola Superior de Guerra (ESG). Eles mostraram-se preocupados com a falta de políticas de apoio aos garimpeiros.
- Os garimpeiros são um grupo satanizado no Brasil, mas representam a nossa a última geração de bandeirantes - disse Carlos Lessa.
A exploração do ouro na Amazônia, incluindo terras indígenas e áreas protegidas, é feita por populações locais como uma alternativa de renda. Freqüentemente os garimpos funcionam com infra-estrutura precária, agredindo o ambiente e liberando grandes quantidades de mercúrio nos rios.
- Partilho da mesma preocupação de Carlos Lessa. Temos de integrar os garimpeiros à atividade produtiva, evitando que sejam jogados na marginalidade. Por enquanto, eles permanecem no ilícito por falta de apoio tecnológico. Isso precisa ser estudado - disse Aldo Rebelo
Ministro lembra retomada do projeto
O ministro da Coordenação Política também disse que é um dos defensores da retomada do projeto Rondon. Segundo ele, a primeira equipe já está praticamente pronta
Aldo e Lessa alertaram que a Amazônia é alvo de cobiça internacional e que o Brasil não pode aceitar que países estrangeiros, principalmente os mais desenvolvidos, digam o que deve fazer na região
- Não podemos aceitar a arbitragem destas civilizações. Não reconhecemos nelas autoridade para discutir tal assunto conosco
Carlos Lessa parabenizou as Forças Armadas por terem dado prioridade à Amazônia
No segundo painel do dia, o coordenador da campanha da Amazônia da ONG ambiental Greenpeace, Paulo Adário, alertou para a expansão da ação ilegal de madeireiras, que já conta com corretagem na internet, cujo alvo são investidores estrangeiros
Adário citou o site www.resourcesbrazil.com, que dá como estatística sobre a rentabilidade da extração de madeiras o fato de mais de 250 americanos e centenas de europeus estarem explorando o negócio na Amazônia, uma região que não tem "furacões, terremotos, inundação, vulcões ou terrorismo" e que dispõe de "uma quantidade quase ilimitada de água potável, ar puro, comida limpa e outros recursos naturais
Segundo Adário, estudo feito pela ONG na região de Porto de Moz, no Xingu, mostra que os títulos de propriedade das terras são falsos
- Não achamos um título que se sustentasse juridicamente. Há títulos de dois cidadãos que têm a mesma carteira de identidade, três que moram no mesmo endereço, dois que têm o mesmo CPF e um que alegou ser o proprietário da terra desde que tinha dez anos de idade.
Para ele, o maior problema da região é a omissão do Estado. Para este ano, o Ibama teve prometidos R$ 67 milhões pelo governo federal, mas até agora só foram liberados cerca de R$ 4 milhões
- O programa Amazônia Sustentável e o de combate ao desmatamento, do governo Lula, ainda não caminharam - disse o coordenador do Greenpeace.

O Globo, 22/06/2004, Rio, p. 11

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