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Blitz contra grilagem prende mais tres no Para

OESP, Nacional, p.A12
04 de Mar de 2005

Blitz contra grilagem prende mais três no Pará
Ação de PF e Polícia Rodoviária atinge quadrilhas de drogas, armas e madeira
Leonencio Nossa
Enviado especial
As Polícias Federal e Rodoviária Federal começaram uma operação em 12 municípios paraenses para combater tráfico de drogas, porte ilegal de armas, extração irregular de madeira, trabalho escravo e grilagem de terras da União. Três pessoas de uma lista de 50 nomes com mandado de prisão decretado pela Justiça já foram presas ontem pelos policiais.
A Operação Pacificação, como foi batizada, conta com 60 agentes federais e 30 rodoviários federais e o apoio de tropas do Exército. As chuvas que caem no Pará são o principal obstáculo ao trabalho dos policiais, que montaram barreiras em pontos de balsas e estradas tomadas pela lama e pelo barro na região da Transamazônica.
Hoje as polícias devem fazer uma varredura na recém-criada Reserva Verde para Sempre, no município de Porto de Moz. Lá, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais e Renováveis (Ibama) enfrentam grileiros e madeireiros que exploram ilegalmente a floresta. Em Porto de Moz, a PF quer combater especialmente o porte ilegal de armas. O Pará está em 20.o lugar no ranking do desarmamento. O governo não conseguiu convencer a população a entregar suas armas.
Dois dos três presos pela PF tiveram os nomes divulgados. Francisco Roberto do Carmo, o Chico Barriga, foi preso por transporte ilegal de madeira, e Márcio Souza dos Santos, o Macapá, por latrocínio. O terceiro homem preso também foi acusado de latrocínio.
O superintendente da PF no Pará, José Ferreira Sales, disse que a operação já estava planejada quando a missionária Dorothy Stang foi assassinada, dia 12 de fevereiro, em Anapu. As polícias não tinham, no entanto, pessoal e recursos financeiros para executar o trabalho de combate à criminalidade. "Espero que essa ação não tenha data para terminar", afirmou Sales. Ele contou que depois da morte da freira o posto da PF em Altamira ganhou carros e um efetivo extra. Por determinação do Ministério da Justiça, o posto da PF na cidade será transformado em delegacia.
Maior município em extensão do País, com 153.862 quilômetros quadrados, Altamira deve contar também com uma Vara da Justiça Federal para atender às demandas da região centro-oeste do Pará. Os 12 mil moradores do distrito de Castelo dos Sonhos, por exemplo, têm de percorrer 700 quilômetros para chegar à sede.

Irmão da freira pede que inquérito seja federalizado
David Stang está preocupado com o histórico de terra sem lei da região e teme que o crime fique impune
Vannildo Mendes
O norte-americano David Stang, irmão da freira Dorothy Stang, assassinada em 12 de fevereiro último no interior do Pará, pediu ontem ao Ministério da Justiça e ao Ministério Público da União a federalização do inquérito que apura o crime. Ele se disse preocupado com o histórico de terra sem lei que caracteriza a região onde a irmã foi morta e com o risco de o caso resultar impune, se ficar por conta apenas das autoridades locais. O pedido está sendo analisado pelo procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, que promete uma decisão até a próxima semana.
O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, assegurou ao irmão da religiosa que o caso não ficará impune e que a Polícia Federal não sairá da região enquanto toda a rede de participantes do crime não estiver identificada e presa. Mas informou ser contra a federalização do inquérito porque, a seu ver, a Justiça estadual tem dado toda colaboração necessária e agido com rigor e agilidade. Ele entende que a transferência do inquérito para a esfera federal pode ser analisada num segundo momento, mas agora só retardaria as investigações.
À saída da audiência com o ministro, David disse que confia nas ações do governo brasileiro, não só para punição dos envolvidos no assassinato da irmã, mas também para levar segurança aos trabalhadores rurais carentes da Terra do Meio. "Pedi compaixão ao ministro e que o caso seja acompanhado pelo governo federal com rigor para que não haja impunidade. Minha família nos Estados Unidos se sentirá consolada com isso", explicou.
Segundo o americano, as providências adotadas pela União foram importantes e o fazem crer que a justiça será realizada. "O povo de Anapu (local onde a religiosa foi emboscada e morta) também se sentirá apoiado e defendido pelo poder público", acrescentou. Ele também pediu que o Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS), experiência de reforma agrária idealizado e implantado na região por Dorothy, tenha prosseguimento.
David discorda da tese de internacionalização da Amazônia, ressurgida após o assassinato de Dorothy. Para ele, o Brasil tem plenas condições de cuidar do patrimônio ambiental amazônico. "Minha irmã amou este País e eu também o amo. Este é um grande país. Se houver compaixão e vontade política, o desenvolvimento sustentável da região pode acontecer."
Nas audiências, David esteve acompanhado da freira e intérprete Maria Alice McCabe, americana naturalizada brasileira e, como Dorothy, da congregação Notre Dame de Namur.

Braço direito de Dorothy nega envolvimento em crime
Lourival Sant'Anna
Enviado especial
O técnico agrícola Geraldo Magela de Almeida Filho, ex-braço direito da irmã Dorothy Stang, negou ontem envolvimento com o assassinato do colono Adalberto Xavier Leal, dia 12, mesmo dia da morte de Dorothy. Em depoimento ao delegado Marcelo Ferreira de Souza Luz, da Polícia Civil, ele também negou ter ameaçado de morte o ajudante de tratorista Lourival Gomes do Nascimento.
"Não procede", disse Geraldo ao sair do depoimento, à tarde. Ele disse nem saber quem é Lourival. "Não consigo entender. Imagino que seja devido ao contexto político. Tentam enrolar a gente para dificultar o assentamento de famílias." Segundo Lourival, às 13 horas do dia 12, seis horas depois da morte da freira, ele estava na sede da fazenda do madeireiro Luís Ungaratti quando chegaram 12 homens com espingardas e revólveres, liderados por Geraldo e José Rodrigues Silva, o Zé Dentista.
Lourival disse que, apontando-lhe as armas, o grupo o obrigou a mostrar outro barraco da fazenda e depois Geraldo teria dito: "Quando tu chegar na cidade, não abre o bico porque se não Anapu vai ficar pequeno para ti." O delegado suspeita que o grupo tenha matado Adalberto, às 23 horas. Conhecido como Cabeludo, ele trabalhava para Amair Feijoli da Cunha, o Tato, acusado de ter contratado os pistoleiros para matar Dorothy.
Geraldo disse desconhecer animosidade contra o colono no assentamento. "Adalberto trabalhava para Tato assim como outros assentados. Eles estão recentemente na região e precisam trabalhar um pouco fora para se manter." O técnico contou lamentar o assassinato do colono. "A gente está aí para esclarecer o que for possível, para ajudar." Geraldo está na lista dos beneficiados pelo Programa Estadual de Proteção a Defensores dos Direitos Humanos Ameaçados, ainda em fase de implantação.

OESP, 04/03/2005, p. A12

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