Bispos denunciam pacto contra acao federal

Bispos denunciam pacto contra ação federal
Para eles, acordos políticos fizeram Planalto recuar da intenção inicial de entrar no caso
Roldão Arruda
Os bispos católicos do Pará divulgaram ontem uma nota na qual afirmam que a federalização do caso da freira Dorothy Stang, pedida ontem, está sendo impedida por um acordo político entre os governos federal e estadual. "Apesar de ter se comprometido, através dos ministros Nilmário Miranda e Miguel Rosseto, em defender a federalização do crime, o governo federal voltou atrás e se aliou ao governo do Estado, em função de acordos políticos", diz o texto da nota. "Novamente o governo federal se coloca contra os interesses dos trabalhadores e das entidades de direitos humanos e contraria a vontade dos familiares de Dorothy Stang."
A nota é assinada também pelo Movimento dos Sem-Terra (MST), o Fórum da Amazônia Oriental e outras organizações ligadas à questão agrária. De acordo com o texto, a federalização, solicitada pelo procurador geral da República, Cláudio Fonteles, é quase uma obviedade diante do histórico das soluções judiciais para os conflitos no Estado. "Nos últimos 33 anos foram 772 assassinatos, com a realização de apenas três julgamentos de mandantes de crimes", registra.
SOB SUSPEITA
O texto põe em dúvida a eficiência e a imparcialidade da Justiça do Estado. Afirma que os poucos julgamentos ocorridos só foram possíveis "depois de longos anos de lutas" das organização de direitos humanos. "Isso mostra a morosidade da justiça paraense, calcada em empecilhos nas comarcas do interior e da capital, onde a pressão do poder político e econômico acaba influenciando o andamento dos processos e dos julgamentos".
A disposição do governo estadual, chefiado pelo tucano Simão Jatene, também é posta em dúvida: "O descaso do governo paraense com a segurança pública deixa evidente a necessidade da federalização. Irmã Dorothy solicitou por várias vezes segurança para lideranças que atuavam na luta pelos PDSs, seguidamente ameaçados de morte por pistoleiros e grileiros, e a Secretaria de Segurança do Estado não tomou nenhuma iniciativa no sentido de evitar a violência."
Os bispos do Pará compõem a Regional Norte 2 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Desde o assassinato da freira americana, no dia 12 de fevereiro, já haviam se manifestado em diferentes ocasiões, pedindo punição para os culpados. Mas essa foi a manifestação mais dura contra o governo federal, que estaria procurando evitar atritos com o governo do Pará. De acordo com os signatários do texto, a federalização de crimes contra os direitos humanos no Pará é uma reivindicação antiga.

OESP, 05/03/2005, p. A14