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Biopirataria ameaça Antártica, alerta ONU

O Globo, Ciência e Vida, p. 30
03 de Fev de 2004

Biopirataria ameaça Antártica, alerta ONU

Preocupada com a crescente exploração ilegal de recursos genéticos da Antártica, as Nações Unidas fizeram ontem um alerta sobre a biopirataria no continente e conclamaram a comunidade internacional a aprovar, com urgência, uma legislação para proteger um dos meio ambientes mais frágeis do mundo. O potencial econômico dos microorganismos antárticos é tão grande, frisou a organização, que está provocando uma verdadeira corrida do ouro à Antártica.

Uma análise da situação do continente foi apresentada ontem pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade das Nações Unidas, sob o título "O regime internacional para a bioprospecção. Políticas existentes e assuntos emergentes na Antártica". O estudo foi divulgado uma semana antes do início da próxima Convenção sobre Diversidade Biológica das Nações Unidas, que começa no dia 9, em Kuala Lumpur.

Bactérias estão entre os organismos mais ameaçados

Os organismos mais ameaçados da Antártica, segundo o estudo, são os chamados extremófilos - em sua maioria, bactérias capazes de se adaptar às mais extremas condições ambientais encontradas em lugares onde nenhum outro tipo de organismo consegue sobreviver.

Essas características fizeram dos extremófilos alvo das atenções da indústria farmacêutica e de cientistas de todo o mundo. Eles tentam descobrir quais mecanismos presentes nesses organismos permitem que se adaptem a situações não toleradas pelo homem, por exemplo.

- A Antártica é muito interessante para as grandes companhias farmacêuticas envolvidas com pesquisas biotecnológicas - afirmou Sam Johnston, um dos autores do estudo divulgado pelas Nações Unidas. - O problema é que esse tipo de atividade não está regulamentado na Antártica. Essas atividades provocam, em primeiro lugar, um problema de eqüidade. As companhias estão se beneficiando economicamente sem devolver nada à Antártica.

Espanha já patenteou produtos em 2002

Os exemplos são numerosos, como mostra o estudo. Em 2002, por exemplo, a Espanha patenteou produtos para cabelo, unha e pele feitos a base de uma glicoproteína extraída de uma bactéria antártica. Substâncias químicas anti-congelantes estão sendo desenvolvidas a partir de compostos encontrados numa outra bactéria, com grande potencial econômico. A substância poderia ser usada para prolongar a validade de alimentos e preservar sorvetes por mais tempo, sem a necessidade de congelá-los.

- É preciso atuar urgentemente na Antártica antes que tenhamos um problema comercial sério e que grandes descobertas sejam feitas - alertou Johnston. - É necessário agir preventivamente, da mesma forma como foi feita a regulamentação da mineração, do turismo e da pesca de baleias no continente.

O que são extremófilos?

A ciência chama de extremófilos os microorganismos - bactérias em sua maioria - que sobrevivem em ambientes totalmente hostis. São conhecidas espécies que vivem em fendas vulcânicas oceânicas, onde a temperatura é superior a 100 graus Celsius. Outras se alimentam de enxofre, resistem à radiação ou mesmo podem viver em lagos ácidos ou extremamente salinos.
O interesse dos cientistas está nas substâncias que dão aos extremófilos sua resistência.

O Globo, 03/02/2004, Ciência e Vida, p. 30

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