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Biodiesel: a mais nova forma da soja

OESP, Economia, p. B12
08 de Mai de 2004

Biodiesel: a mais nova forma da soja
Combustível terá primeira unidade de produção inaugurada em dois meses

SILVANA GUAIUME

A soja produzida pelo Brasil, consumida e exportada na forma de grãos, óleo e farelo, deve ser mais uma opção de combustível a partir do próximo ano. A primeira unidade industrial para produção de biodiesel está sendo instalada em Charqueada, na região de Piracicaba. A previsão é que comece a operar em dois meses, utilizando basicamente o resíduo do refino de óleo de soja, a chamada "borra do resíduo".
O produto, a princípio, será para exportação, porque o comércio no Brasil ainda não está regulamentado. Mas o governo anunciou ontem que pretende publicar, até novembro, o marco regulatório permitindo a adição de 2% de biodiesel ao óleo diesel. Segundo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o programa "muito importante" porque deverá aumentar o volume de exportações do País. Na Europa, potencial consumidor da produção de Charqueada, alguns países misturam o biodiesel ao diesel comum. Frotas da Alemanha e da Áustria já usam biodiesel puro.
O presidente da Comissão do Biodiesel da Associação Brasileira de Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Juan Diego Ferrés, sócio-diretor da Granol Indústria, Comércio e Exportação S/A, informou que entre 10 e 12 fábricas de biodiesel produzido a partir da soja irão se instalar no Brasil, "em 5 ou 6 Estados", em até 90 dias após a regulamentação do setor.
Segundo Ferrés, serão investidos entre US$ 10 milhões e US$ 15 milhões em cada unidade. Juntas, produzirão até 100 milhões de litros de biodiesel por ano. A fábrica de Charqueada, Petroquímica Capital, terá capacidade instalada para 400 mil litros mensais de combustível de oleaginosas.
A empresa pertence a investidores paulistas, explica um dos diretores, Vilemar Magalhães. Terá duas unidades na mesma planta, uma para fabricar solventes especiais, principalmente o hexano, utilizado para extração química de óleos, e outra para o biodiesel. Os custos previstos das unidades são, respectivamente, de US$ 11 milhões e US$ 4,5 milhões. A capacidade instalada da unidade de solventes é de 10 milhões de litros por mês.
Outro projeto de fabricação de biodiesel também ganha forma no Pará, a partir do óleo de dendê. Analistas do setor chamam a atenção justamente para a variedade da matéria-prima nacional. De acordo com o professor e pesquisador do Laboratório de Desenvolvimento de Tecnologias Limpas (Ladetel) da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto e presidente da Câmara Setorial de Biocombustíveis do Estado de São Paulo, Miguel Dabdoub, há pelo menos 12 diferentes oleaginosas produzidas no Brasil que podem ser usadas como matéria-prima do biodiesel.
Soja, amendoim, girassol, algodão, milho, canola, dendê (ou palma), babaçu, pequi, macaúba e ouricuri (ou licuri) podem se transformar em combustível, explica Dabdoub. O produto obtido pode ser usado na proporção de até 50% misturado ao diesel comum, sem exigir adaptações nos motores. A partir de 50%, podem ser necessárias modificações em mangueiras e retentores.
Anualmente, produtores, basicamente do Nordeste, colhem entre 100 e 150 mil toneladas de mamona por ano. A colheita da soja, concentrada principalmente no Sudeste, Centro-Oeste e Sul, é de 57 milhões de toneladas anuais. O dendê ou palma, mais cultivado no Norte, se destaca na produtividade, com obtenção de até 6 mil litros de óleo por hectare plantado, conforme Dabdoub. A macaúba produz 4 mil litros de óleo por hectare; a mamona, 1,2 mil litros; o girassol, 800 litros; e a soja, 500 litros.

OESP, 08/05/2004, Economia, p. B12

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