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Biodiesel à base de mamona iluminará sertão cearense

OESP, Geral, p. A10
01 de Jul de 2004

Biodiesel à base de mamona iluminará sertão cearense
Serrinha de Santa Maria será o primeiro lugar do País a ter este tipo de energia limpa

CARMEN POMPEU
Especial para o Estado

Em Serrinha de Santa Maria, no sertão cearense, o ferro ainda é a brasa, o fogão a lenha, a TV a bateria de carro. A a iluminação vem de lamparina. O maior passatempo é debulhar o feijão e falar da vida alheia. Os mais jovens, eventualmente, vão dançar em algum forró pé-de-serra, daqueles animados por sanfona, triângulo e zabumba. Sem direito a som amplificado, porque o poste de energia elétrica mais próximo fica duas serras adiante, a 20 quilômetros dali, na Fazenda Normal.
Neste mês, no entanto, tudo irá mudar neste pedacinho do Brasil - onde educação, por exemplo, é sinônimo de, no máximo, aulas até a 4.ª série do ensino fundamental. É que a comunidade, formada por 40 famílias de agricultores, servirá de piloto para um projeto inédito no País. Serrinha será o primeiro lugar a receber energia gerada a partir de biodiesel à base de mamona.
A usina de produção do combustível já está sendo instalada na Fazenda Normal, no distrito de Uruquê, a 201 quilômetros de Fortaleza e a 20 de Serrinha. Mas o assunto é encarado com cautela pelos moradores. De difícil acesso, a comunidade vive praticamente isolada, no alto de uma serra. A população resistiu à idéia, inicialmente. Mas começou a ceder e a fazer planos.
A agricultora aposentada, Maria da Silva Nascimento, de 66 anos, pensa em comprar uma geladeira - a única do lugar fica na mercearia e funciona a gás.
A agente de saúde Edileuza Farias Duarte, de 33 anos, sonha em fazer vitaminas no liquidificador para o filho, Cássio, de 7 anos. Este, por sua vez, torce por uma TV em que possa ver o colorido dos desenhos animados.
De acordo com o técnico agrícola Whertas Saldanha Freire, todas as necessidades dos moradores foram levadas em conta na elaboração do projeto, que está sendo tocado por um consórcio de cinco empresas, liderado pela Ceará Geradora de Energia (CGE) e com investimentos de R$ 1,5 milhão.
Consórcio - Na Fazenda Normal, administrada pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce), está o maquinário para a extração de óleo e de produção do biodiesel, além do plantio da mamona em 70 hectares. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) responde pela plantação e pela colheita.
A previsão é produzir 1.500 quilos/ha, o que deverá render 400 litros de óleo de mamona por dia. O biodiesel será levado em galões para abastecer um gerador de 81 KVA, que ficará na comunidade e será suficiente para mover um motor de irrigação e os eletrodomésticos.
O cultivo da mamona não fazia parte da cultura local, onde a tradição era a pecuária leiteira e o plantio do algodão - dizimado pela praga do bicudo. A cultura da mamona foi introduzida com o projeto. Optou-se pela variedade nordestina mais resistente ao clima seco característico do Sertão Central cearense.
Handerzon Palma, gerente de projetos do consórcio, diz que a tecnologia do biodiesel já existe e a extração do óleo da mamona também. Mas na geração de energia o processo é inédito. O interesse das empresas participantes, segundo ele, é em buscar formas alternativas de energia. Palma explica que o contrato de algumas delas com a Comercializadora Brasileira de Energia Elétrica para fornecer eletricidade (estabelecido por ocasião do racionamento de 2001) vence no final deste ano.
Após uma avaliação do impacto econômico e social na comunidade de Serrinha, Palma diz que haverá a possibilidade de reproduzir a experiência em outros locais isolados, principalmente na Amazônia. Apesar do custo ainda ser alto - três vezes mais do que a energia comum -, Palma acredita na viabilidade do projeto. De acordo com ele, a idéia é trabalhar com o apelo ecológico, uma vez a energia gerada a partir do biodiesel é limpa e, portanto, reduzirá a poluição.

OESP, 01/07/2004, Geral, p. A10

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