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Billings tem poluentes até 100 vezes acima do limite

FSP, Cotidiano, p. C1, C4
08 de Nov de 2008

Billings tem poluentes até 100 vezes acima do limite
Represas que abastecem região metropolitana possuem substâncias como alumínio e chumbo
Dados são de estudo da USP; segundo Sabesp, poluição não representa risco à população, pois água é tratada antes do consumo

Talita Bedinelli
Colaboração para a Folha
José Ernesto Credendio
Da reportagem local

Estudo realizado por técnicos da USP (Universidade de São Paulo), a pedido do Ministério Público, detectou que as represas Billings e Guarapiranga têm poluentes, alguns deles potencialmente tóxicos e cancerígenos, acima do permitido pela legislação ambiental.
A água das duas represas ajuda no abastecimento dos municípios da região metropolitana de São Paulo e é utilizada como lazer, para pesca, nado ou vela.
Análises feitas de setembro de 2007 a maio de 2008 observaram que, das 95 substâncias examinadas, 25 estavam fora de conformidade em pelo menos 10% dos testes em um dos pontos de monitoramento.
Havia níveis altos de substâncias como alumínio, que pode estar associado ao mal de Alzheimer; cianetos, que podem causar perda de peso e danos à tireóide e ao sistema nervoso; clorofórmio, suspeito de ser cancerígeno; coliformes termotolerantes, que contêm vírus e bactérias; entre outras.
O poluente mais preocupante, diz o relatório, é o chumbo. Numa amostra da Billings, havia uma quantidade 100 vezes superior ao permitido. Outra, na Guarapiranga, detectou-o em quantidade 23 vezes maior do que o limite. O chumbo, em altos valores, pode causar anemia e problemas neurológicos.
Segundo a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), as substâncias não representam risco à população, pois a água é tratada antes do consumo. A empresa diz que a poluição se concentra em pontos específicos, perto de manchas urbanas, e é causada por despejo de esgoto sem tratamento. Nas áreas usadas como lazer, perto de São Bernardo do Campo e Ribeirão Pires, há monitoramento diário e a água possui a qualidade exigida pelo Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente).
As análises da água foram pedidas pelo Ministério Público porque o governo paulista pretende bombear a água dos rios Pinheiros e Tietê para a Billings. A água passaria por um processo de limpeza denominado flotação -tratamento com produtos químicos que levam a sujeira para a superfície.
O processo ajudaria a despoluir o Pinheiros e a aumentar a quantidade de água da represa, o que seria revertido em energia, segundo a Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia). Dos 17 pontos de análise, 2 foram detalhados no relatório: um antes da flotação e outro depois. Segundo o estudo, as amostras após a flotação ainda detectaram poluentes em níveis acima do limite e isso é jogado na Billings.
O Ministério Público diz que ainda não se sabe se o sistema é falho, pois são necessários cálculos para avaliar se, após a adoção do projeto -o fluxo de água será cinco vezes maior que no período de testes- a poluição após a flotação será prejudicial ao reservatório.

Invasão e esgoto poluem represas, diz Sabesp
Prefeitura de SP estima que 2 milhões de pessoas vivam em áreas irregulares em mananciais, onde não há tratamento de dejetos
Em Guarulhos, 100% do esgoto produzido não passa por tratamento; promotor alerta ainda para despejo clandestino por indústrias

Colaboração para a Folha
Da reportagem local

A invasão de áreas de mananciais e a falta de tratamento de esgoto nos municípios que ficam à beira das represas Guarapiranga e Billings são os principais fatores de poluição dessas águas, segundo a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) e a Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia).
A Prefeitura de São Paulo estima que cerca de 2 milhões de pessoas vivam em ocupações irregulares nas áreas de bacia das represas.
Nenhuma delas tem tratamento de esgoto e os dejetos produzidos são despejados diretamente nas águas, por ligações clandestinas.
De acordo com a última Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), essa é a realidade de 20% dos moradores da região metropolitana de São Paulo. Parte desse esgoto que não é coletado vai direto para os córregos que recortam as cidades, para os rios e para as represas.
De acordo com a Sabesp, em Guarulhos, por exemplo, 100% do esgoto produzido não passa por tratamento. Em São Bernardo, 5% são jogados na Billings.
Um dos bairros de Diadema também despeja todos os dejetos que produz na represa -o município não informou qual a população desse local.
Algumas vezes, mesmo quando há coleta de esgoto, não há tratamento. Segundo a Sabesp, até julho deste ano, o esgoto de cerca de 1 milhão de habitantes era jogado pela empresa diretamente no rio Pinheiros e nas represas Billings e Guarapiranga, pois não havia como levar os dejetos para uma estação de tratamento.
O problema foi solucionado, diz a empresa, com a construção de uma estação em Barueri.

Indústrias
"O que essas cidades despejam de esgoto nos rios ainda é assustador", diz o promotor de meio ambiente da capital, José Eduardo Ismael Lutti.
"Somam-se ainda a isso o que indústrias lançam clandestinamente nos rios, porque é mais barato do que tratar", ressalta Lutti.
Segundo ele, os índices de chumbo localizados nas represas podem ser oriundos de uma ligação clandestina industrial.

Qualidade melhor
A Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental), da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, que faz monitoramentos da qualidade da água da represa e lança relatórios anuais, diz que há dez anos o chumbo é percebido na Billings.
Mas, de acordo com o órgão, a qualidade da água melhorou desde 1992, quando a água do rio Pinheiros era jogada, sem tratamento, na represa.
A Sabesp afirma que a qualidade vem melhorando, já que o avanço da população clandestina no entorno das represas tem estacionado nos últimos anos.
A Secretaria Municipal de Habitação de São Paulo não informou o número de novas ocupações nos últimos anos e afirmou que está regularizando a situação desses moradores e instalando redes coletoras de esgoto.
(TALITA BEDINELLI e MARCIO PINHO)

Secretaria municipal diz que faz obras para controlar poluição

Da reportagem local

A Secretaria Municipal da Habitação de São Paulo afirmou ontem que o Programa Mananciais realiza obras de urbanização e construção de unidades habitacionais na área da Billings para "melhorar e controlar a poluição dos aqüíferos que abastecem a capital".
De acordo com informações prestadas pela secretaria, a poluição resulta do recebimento do esgoto de casas da região.
"Prefeitura, governo do Estado e Sabesp, por meio do Programa Mananciais, constroem as redes de coleta de esgoto ao longo dos córregos. Essa rede é levada para um tronco coletor, que, por sua vez, leva seu conteúdo para a estação elevatória de esgotos, em Barueri, onde as águas passam por tratamento. [...] A poluição é retirada, e a água tratada é lançada no rio Tietê", informou a pasta.

Barueri
Segundo a Sabesp, o esgoto de um milhão de pessoas passou a ser coletado em julho e tratado em Barueri (30 km de São Paulo).
A prefeitura disse ainda que 24.750 famílias foram beneficiadas pela primeira fase do programa (até dezembro do ano passado).
Na segunda fase, já iniciada, a previsão é a construção de 7.726 unidades habitacionais, em áreas situadas entre as bacias Billings e Guarapiranga.
A poluição das represas de São Paulo também é alimentada por municípios da região metropolitana.
O bairro Jardim Eldorado, em Diadema, colabora diretamente com despejos na Billings. A prefeitura não respondeu às solicitações da Folha ontem para explicar possíveis trabalhos na área.
Outro município, Guarulhos, não trata hoje seu esgoto. O destino quase sempre é o rio Tietê, por meio de córregos.
A prefeitura informou que está em andamento a primeira etapa de obras do programa de tratamento de esgoto de Guarulhos. Até 2010 serão investidos R$ 249,3 milhões, parte com recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). A previsão da Sabesp é que a água do Tietê, que hoje não chega às represas, possa ser levada à Billings.

saiba mais

Guarapiranga abastece 3,8 milhões

Colaboração para a Folha

O reservatório Guarapiranga foi criado em 1908, após o represamento do rio de mesmo nome, um dos afluentes do Pinheiros. A função original do reservatório era regularizar a vazão do rio Tietê, que precisava fornecer grande volume de água para alimentar as turbinas da Usina de Parnaíba da Light, antiga companhia elétrica do Estado.
Nos anos 1930, a represa mudou de função: deixou de ser um acessório da usina e passou a ser utilizada para o abastecimento da cidade de São Paulo. Hoje, ela abastece 3,8 milhões de pessoas da zona sul e sudoeste da capital.
No mesmo período, foi criada a represa Billings, em um conjunto de obras que incluíram a reversão do rio Pinheiros. Até 1992, a água do rio era despejada na represa sem tratamento, mas uma determinação da Constituição estadual reverteu o processo.
Em 2000, para aumentar a quantidade de água na represa, o governo do Estado resolveu tratá-la usado o método de flotação. Mas uma decisão judicial vetou o uso -e um acordo foi feito para a realização de testes para verificar se o sistema funciona antes de ser implantado. Os testes de flotação estão sendo feitos desde dezembro de 2007.

FSP, 08/11/2008, Cotidiano, p. C1, C4

Erramos
Diferentemente do que foi publicado na reportagem "Billings tem poluentes até 100 vezes acima do limite", não existe a presença de vírus nos coliformes termotolerantes presentes nas amostras de água analisadas das represas Billings e Guarapiranga. Coliformes são um grupo de bactérias.

FSP, 25/11/2008, Erramos, p. A3

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