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Bida orientou pistoleiros a fugir para fazenda

O Globo, O País, p. 11
25 de Fev de 2005

Bida orientou pistoleiros a fugir para fazenda

Rodrigo Rangel
Enviado especial

ANAPU (PA). Acusado de participar do assassinato da missionária Dorothy Stang, Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo, complicou ainda mais a situação do fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, o Bida, procurado pela polícia sob suspeita de ter encomendado o crime. Eduardo contou que ele e Rayfran das Neves Sales, o homem que atirou na freira, foram orientados a fugir para a sede da fazenda de Bida logo após o assassinato.

Chegando lá, disse Eduardo, o próprio fazendeiro os orientou a sair da região e pediu que, no caso de serem presos, não envolvessem o nome dele nem o de Amair Feijoli da Cunha, o Tato, preso sob suspeita de intermediar a execução. Ainda de acordo com Eduardo, Bida prometeu, em troca, pagar advogados para os dois.

- Bida falou que era para a gente se esconder, que não era para envolver nem ele nem o Tato, e que se a gente fosse preso, ele arrumava advogado de R$ 50 mil a R$ 100 mil para soltar a gente - disse Eduardo.

Polícia confirmou rumo das investigações

Tato, Rayfran e Eduardo voltaram ontem pela primeira vez ao local onde foi morta a missionária. A reconstituição do crime durou mais de três horas. Por etapas, e em separado, cada um teve de mostrar como se deu o episódio. No final, foi mínima a diferença entre as versões, seja dos acusados, seja da testemunha ocular do crime.

- Isso indica que as investigações estavam no rumo certo - disse o delegado Waldir Freire, da Polícia Civil paraense.

Rayfran foi o primeiro a reconstituir a cena do crime. Repetiu a última frase que dissera à irmã no sábado, 12 de fevereiro, dia do assassinato.

- Se a senhora não resolveu até hoje, agora não vai resolver mais - disse, referindo-se aos conflitos por terra que os colonos liderados pela irmã travavam com fazendeiros que se dizem donos do lugar.

Dorothy Stang foi representada na reconstituição pela advogada Roselene Silva, da Comissão Pastoral da Terra (CPT). A operação mobilizou forte aparato policial. A área do crime, uma estrada vicinal cercada por mata fechada, foi isolada.

Para perito, crime não foi trabalho de profissional

ANAPU (PA). O perito Joaquim Araújo, do Instituto de Criminalística do Pará, disse que o assassinato de Dorothy Stang passa longe de um trabalho de pistoleiros profissionais. Ele classificou o crime de amadorístico, apesar do nível de violência:

- Foi um crime bárbaro. Ela não teve defesa. Os tiros foram à queima-roupa.

Personagens do conflito real assistiram atentos à encenação do crime. A testemunha ocular foi levada, encapuzada, para ajudar na reconstituição. O homem, que agora está sob proteção da polícia, ficou emocionado ao relembrar a cena:

- É um pouco difícil. Ela era uma pessoa que nos apoiava.

Gerônimo Lima Rodrigues, de 58 anos, que fez o papel de um dos pistoleiros em uma das etapas cobrou a solução do caso. E amigos de Dorothy deixavam clara sua indignação.

- Pensei em tudo. Se pudesse me vingar... Se visse ele, matava - disse Marinês Miranda, uma das primeiras a se aproximar do corpo no dia do crime.

Amair Feijoli da Cunha, o Tato, preso sob suspeita de intermediar a execução, continua negando ter participado do crime. Mas ontem entrou em contradição ao admitir que conversou com Dorothy na véspera do crime. Inicialmente, ele negara que tivesse dialogado com ela.

O Globo, 25/02/2005, O País, p. 11

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