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BHP avalia que volta da Samarco é crucial e que dívida não é de sócios

Valor Econômico, Empresas, p. B1
11 de Nov de 2016

BHP avalia que volta da Samarco é crucial e que dívida não é de sócios

Francisco Góes

A mineradora anglo-australiana BHP Billiton vê como prioridade a retomada das operações da Samarco, empresa da qual é sócia junto com a Vale. "Como acionistas, queremos que a Samarco volte a operar e trabalhamos para isso, mas não é algo simples, pois depende de soluções que façam sentido do ponto de vista técnico, comercial e financeiro e precisa envolver todos os atores, incluindo os bancos e os detentores de bônus", disse ao Valor Daniel Malchuk, novo presidente da operação mineral das Américas da BHP Billiton.
Os bancos e os detentores de bônus, aos quais a Samarco deve no total cerca de US$ 3,6 bilhões, tornaram-se peças-chave nas discussões sobre o futuro da mineradora, parada há um ano, desde 5 de novembro de 2015, quando a barragem de Fundão, da companhia, se rompeu em Mariana (MG), matando 19 pessoas e provocando um dos maiores desastres ambientais do Brasil. Malchuk afirmou ontem que a dívida da Samarco não conta com garantias dos sócios. "Do ponto de vista estritamente legal, não temos nenhuma responsabilidade, como acionistas, em relação à dívida da Samarco. Mas estamos comprometidos em retomar a operação, o que requer um acordo razoável com os credores."
Ao não ter garantias, a dívida da Samarco depende, para ser paga, do balanço e dos fluxos de caixa da mineradora, que hoje não existem pois a empresa está parada. Malchuk não quis comentar o que acontecerá com os bônus emitidos pela Samarco e cujos juros não foram honrados. "Não estou à frente dessas discussões." Disse que há muitas opções sendo discutidas para encontrar soluções para a dívida da empresa. Não adiantou se os credores terão que assumir descontos nos créditos e se poderão tornar-se sócios da companhia. "A dívida que a Samarco tinha até novembro de 2015 respondia a uma situação distinta. Hoje temos que construir entre todos uma nova companhia e isso tem que fazer sentido para todos", afirmou.
Sediado em Santiago, no Chile, Malchuk assumiu as operações minerais da BHP nas Américas em outubro. O portfólio sob sua gestão inclui três minas de cobre em operação no Chile, sendo uma delas, Escondida, a maior mina privada do metal no mundo, com produção de 1,3 milhão de toneladas por ano.
As outras duas são Cerro Colorado e Spence, no norte do Chile. A BHP Américas tem ainda participações em três joint ventures: Antamina, de cobre e zinco, no Peru; Cerrejón, de carvão, na Colômbia, e a Samarco, cujo controle divide meio a meio com a Vale. A BHP também é sócia da Rio Tinto em projeto de cobre ainda não desenvolvido nos Estados Unidos.
No mercado, especula-se que uma vez resolvido o futuro da Samarco, a BHP poderia deixar o Brasil. A empresa é a única atividade da BHP no país. "Estamos há mais de 30 anos no Brasil e temos o compromisso de continuar os trabalhos de compensação e remediação iniciados desde o desastre [de Fundão]", afirmou. E completou: "Nossa participação na Samarco vai depender do que ocorrer com a retomada da operação da empresa. Continuamos confiantes e comprometidos que a retomada pode ocorrer se garantidas as condições apropriadas." A expectativa, segundo ele, é que a empresa volte a operar com cerca de 60% da capacidade original.
Malchuk visitou esta semana as áreas operacionais da Samarco, em Mariana, e teve reuniões de trabalho em Belo Horizonte e no Rio. Avaliou que desde o acidente foi feito muito trabalho em condições difíceis.
Citou a criação da Fundação Renova pela mineradora e seus acionistas, que assumiu as atividades de reparação dos impactos causados pelo rompimento da barragem de Fundão. "Ninguém pode se beneficiar de uma tragédia como essa, mas todos tem que por o seu grão de areia [a sua cota de sacrifício], não só os acionistas, não só as comunidades, que seguem sofrendo, mas também os bancos e os bondholders [donos dos bônus]", disse Malchuk.
Segundo ele, o mais importante é encontrar uma forma de reestabelecer a operação da Samarco de forma segura e financeiramente viável. Considerou que o depósito dos rejeitos em cavas inativas da própria empresa e da Vale pode ser uma solução técnica viável. Afirmou, porém, que o uso das cavas tem que considerar uma relação comercial entre Samarco e Vale. "Estamos buscando soluções de curto, mas também de médio e longo prazo."
O executivo evitou polemizar a recente declaração do presidente da Vale, Murilo Ferreira, que disse, em teleconferência, que havia um "desalinhamento" entre as sócias. "Vale e nós temos o mesmo objetivo, que é fazer uma retomada das operações de maneira segura, gerando empregos e impostos na região [Minas Gerais e Espírito Santo]. Continuamos em discussão construtiva com a Vale." Um dos desafios é conseguir as licenças para voltar a operar, o que depende dos órgãos ambientais de Minas Gerais. Há expectativa que as licenças sejam concedidas até meados de 2017.

Valor Econômico, 11/11/2016, Empresas, p. B1

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