Belo Horizonte contra o lixo

O cacique Txonag Pataxó saiu de Carmésia, no Vale do Rio Doce, com outros 50 índios da mesma tribo para passar uma mensagem de sustentabilidade a todos os mineiros. "Temos que respeitar a natureza porque sem ela não podemos sobreviver", disse. O recado foi dado ontem, durante a abertura da 1ª Semana Mineira de Redução de Resíduos, no centro de Belo Horizonte. A capital mineira foi a primeira da América Latina a aderir ao movimento que está sendo realizado simultaneamente na Europa.

A tribo indígena foi somente uma dentre vários grupos de artesãos mineiros a exporem seus trabalhos na feira montada na Praça da Liberdade. Produtos feitos com o que para muitos é lixo comprovaram a importância da reciclagem. Além da feira, o evento contou também com desfiles de catadores de lixo, moradores de vilas e aglomerados de Belo Horizonte, apresentações de dança de alunos de escolas públicas da capital e a presença de autoridades.

"Hoje é a abertura do evento que tem como objetivo sensibilizar as pessoas da necessidade de reduzir a formação de resíduos", afirmou o presidente da Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), organizadora do evento, José Cláudio Junqueira. O presidente reforça a necessidade de mudança de postura na sociedade com números. Segundo ele, em 20 anos, a produção diária de lixo por pessoa dobrou, de 0,5 kg para 1 kg.

Reciclagem. Para Junqueira, o maior desafio é conscientizar a população sobre a importância da reciclagem. "As pessoas têm que entender que coleta seletiva não é só jogar o lixo em lugares diferentes. É preciso limpar os recicláveis para que eles possam ser separados pelos catadores", disse. O secretário de Estado de Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, resumiu o objetivo do evento. "Temos que buscar alcançar os três 'R': reduzir, reutilizar e reciclar", disse.

O representante do movimento dos catadores de lixo, Luiz Henrique da Silva, é otimista com relação ao futuro e comemora os avanços já conquistados. "Reciclagem é uma cultura e isso demora tempo para se mudar. Estamos em um nível de crescimento desenfreado, por isso o volume de lixo cresce a cada dia. Mas, muitas pessoas já se preocupam com os resíduos que geram", avalia.

A atriz Elke Maravilha também esteve em Belo Horizonte para o evento. "Apoio essa causa porque sei que se o catador de lixo parar, estamos todos perdidos. Se o presidente da República fizer o mesmo não faz tanta diferença", disse,

Secretário: mineradoras não devem conseguir licença
O governo do Estado deve suspender as Autorizações Ambientais de Funcionamento (AAF) para o setor de mineração. A informação é do secretário de Meio Ambiente, José Carlos Carvalho, ontem, durante o evento. "Quem vai decidir isso é o Conselho de Política Ambiental. Mas, penso que o melhor é suspender e acho que o Copam também", disse.
O Ministério Público Federal (MPF) recomendou anteontem ao governo a suspensão das emissões de licença por causa dos prejuízos ao meio ambiente causado pelo setor.
Carvalho explicou que já estava em andamento um estudo para mudança do atual sistema. Hoje, as mineradoras menores conseguem licença de forma simplificada. "Vamos adotar outros procedimentos. Não significa que voltaremos ao sistema tradicional, mas vamos criar mecanismos para que possamos aferir mais precisamente os impactos ambientais".
Para o secretário, não há risco de essa mudança afetar negativamente a economia do Estado, que tem forte influência do setor. (TL)

Interior
Adesão. Representantes de catadores de lixo de quase 70 municípios mineiros estiveram em Belo Horizonte ontem prestigiando o evento. No total, foram quase 700 mineiros que saíram do interior para aderirem à mobilização.

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