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Bebês Yanomami são enterrados sem autorização de famílias e mães ficam desesperadas em RR

G1/RR - https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia
27 de Jun de 2020

Bebês Yanomami são enterrados sem autorização de famílias e mães ficam desesperadas em RR
Indígenas têm um ritual próprio para enterro e desejam levar os corpos dos filhos para floresta. Dizem ainda que os bebês foram contaminados em unidades de saúde.

Por Fabrício Araújo, G1 RR - Boa Vista
27/06/2020 21h34 Atualizado há 13 horas

Dois bebês indígenas foram enterrados em Boa Vista sem a autorização das famílias. As mães estão desesperadas a procura dos corpos e o Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kuana (Condisi-Y) tomou conhecimento dos casos neste sábado (27).

De acordo com o presidente do conselho, Júnior Hekuari Yanomami, os bebês morreram vítimas de Covid-19. Eles foram retirados da Terra Yanomami para fazer outros tratamentos, mas foram infectados pelo coronavírus nas unidades de saúde.

O sofrimento das mães já dura um mês. Elas pedem ajuda do governo federal para recuperar os corpos e cumprir um ritual indígena. O desejo é levar as meninas para serem cremadas na floresta e depois cuidar das cinzas durante um ano, até que chegue a hora de fazer o ritual tradicional.

"Elas estão desesperadas, não conseguem falar, choram demais e imploram para encontrar os corpos destas crianças, querem conseguir cumprir o ritual de seus povos. Elas querem chorar junto de outros Yanomami, fazer o luto dos indígenas mesmo", contou Júnior Yanomami após ter contato com as mães.

O MPF afirma que as investigações iniciais apontam que três bebês indígenas foram enterrados no Cemitério Campo da Saudade, em Boa Vista. O órgão disse ainda que acompanha os óbitos e vai garantir a identificação dos corpos e retorno à terra indígena quando for "sanitariamente seguro".

A menina era recém nascida e foi internada no Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth - única maternidade de Roraima - em 25 de maio porque a mãe teve complicações no parto. A unidade é administrada pelo governo estadual.

"Nasceu na terra indígena e trouxeram para a maternidade. Ela pegou Covid-19 na unidade, foi esta doença que matou ela", contou o presidente do Condisi-Y. A menina morreu em 25 de maio, três dias após o nascimento.
Procurado, o governo estadual não se manifestou sobre o caso até a publicação desta matéria.

Já o menino foi levado para o Hospital da Criança Santo Antônio com suspeita de pneumonia grave. A mãe afirma que ele foi infectado pelo coronavírus no local, que é administrado pela prefeitura de Boa Vista.

Mãe e filho são venezuelanos e pertencem a comunidade Awaris. Eles foram removidos para o Hospital da Criança na tarde de 23 de maio. O menino apresentava bastante cansaço, mas não tinha outros sintomas da Covid-19.

"Eu quero, por uma questão de respeito, que o governo resolva esta situação e libere os corpos das crianças para que estas mães façam o ritual em suas comunidades. O Governo Federal, o Ministério da Saúde, o Ministério Público Federal e o Ministério Público de Roraima precisam atuar para resolver esta situação", disse Júnior Yanomami.
A prefeitura de Boa Vista identificou o menino e contou que ele tinha dois meses de idade. Em levantamento próprio, o município descobriu que ele foi sepultado pela funerária Boa Vista na comunidade Xexena. Informou ainda que oito crianças indígenas já testaram positivo para Covid-19.

O município encontrou ainda dois bebês da etnia Macuxi, de três meses cada, que morreram em 24 de maio e 5 de junho. Ambos foram sepultados no Cemitério Campo da Saudade, em Boa Vista, pela funerária Shallon com acompanhamento da mãe.

"As crianças tiveram todo o atendimento e apoio necessários pelas equipes de saúde e que, por tratar-se de indígenas, há um protocolo obrigatório do Hospital da Criança Santo Antônio com o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) para sepultamentos e velórios", explicou a prefeitura em nota.

Procurado, o Ministério da Saúde - responsável pelo DSEI - ainda não se manifestou sobre os corpos dos bebês Yanomami.

"Todos os procedimentos do Hospital da Criança até a entrega dos corpos à funerária contratada pelo DSEI estão registrados no livro de ocorrência do Serviço Social do Hospital, com assinatura do responsável pelo translado dos corpos", diz outro trecho da nota da prefeitura.

A Terra Yanomami, é o maior território indígena do país, é dividido entre Roraima e o Amazonas. Segundo o Instituto Socioambiental, há 26.780 indígenas vivendo na região.

O local é alvo da invasão de garimpeiros, a estimativa que haja 20 mil infiltrados. Autoridades temem que os invasores levem o coronavírus para a região e causem genocídio dos Yanomami.

Os próprios indígenas temem um ciclo de violência após dois jovens indígenas serem executados por garimpeiros invasores da região.

https://g1.globo.com/rr/roraima/noticia/2020/06/27/bebes-yanomami-sao-e…

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