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Barragem vaza e espalha minério

CB, Brasil, p. 13
11 de Jan de 2007

Barragem vaza e espalha minério
Por causa das chuvas, reservatório de rejeitos de mineradora se rompe no interior de Minas Gerais. Além de pagar multa, empresa será fechada

Ricardo Beghini
Do Estado de Minas

Pela segunda vez em menos de um ano, a barragem de contenção de rejeitos de bauxita do reservatório da Mineração Rio Pomba Cataguases, na área rural de Miraí, Zona da Mata, se rompeu, causando graves danos à população e ao meio ambiente da região. O governo do estado anunciou que vai interditar definitivamente a mineradora, devido à repetição do acidente. A mineradora também será multada no valor máximo estipulado pela legislação, R$ 50 milhões. O dinheiro será utilizado para beneficiar a população, prejudicada com o rompimento da barragem. O acidente ocorreu no mesmo local onde, em março de 2006, um rompimento semelhante causou muitos danos ao meio ambiente.

O rompimento da barragem foi em conseqüência das chuvas que atingem a Zona da Mata do estado há duas semanas. O reservatório da mineradora está localizado na área rural de Miraí, a 322km de Belo Horizonte. O vazamento foi de 2 milhões metros cúbicos de água e argila, correspondentes a 53% da capacidade da barragem. O Sistema Estadual de Meio Ambiente (Sisema) foi acionado e enviou dois helicópteros para percorrer a região.

A lama foi carreada para o córrego Bom Jardim, afluente do Rio Fubá, que corta Miraí, por volta das 3h, depois de um temporal, que durou cinco horas seguidas. Ainda de madrugada, o rio subiu cinco metros acima do nível normal. As autoridades municipais evitaram uma catástrofe maior, porque alertaram a população. "Mobilizei o pessoal da prefeitura e a Polícia Militar para tirar, de imediato, os moradores do primeiro bairro a ser atingido, o Indaiá", disse o prefeito de Miraí, Sérgio Luiz Resende.

Com a sirene ligada, as viaturas da PM alertaram os moradores. Segundo o prefeito, a barragem da mineradora e um dique construído após o desastre ambiental do ano passado estão agora apenas com lama. "Desceu tudo o que tinha que descer", revelou Sérgio, que decretou situação de emergência no município.

Mais de 300 residências foram invadidas pelos rejeitos, muitas localizadas na parte baixa da região central do município. Algumas delas foram totalmente destruídas. Da casa do chefe de expedição Antônio Lucas, 53 anos, nada sobrou. Ele mora com dois filhos em uma das ruas mais castigadas. "Tudo o que eu batalhei na minha vida eu perdi", lamentou ele, que deixou a residência somente com as roupas do corpo, depois de ser avisado pela polícia.

Morador da vila desde que nasceu, Antônio nunca presenciou uma enchente nestas proporções. Segundo ele, somente em 1979 houve problema parecido. Mesmo assim, naquela época, a inundação não trouxe tanto barro. Já a lama de ontem atingiu 1,5m de altura no interior da residência. Para piorar, a argila espessa complicou a limpeza de paredes, móveis e utensílios. "Graças Deus não tivemos perda de vidas!", disse ele.

Os municípios mineiros não enfrentam problemas de falta d'água por causa do rompimento da barragem. Embora não contenham materiais tóxicos, os rejeitos preocupam os moradores de municípios fluminenses que utilizam a água dos rios Muriaé e Paraíba do Sul.

CB, 11/01/2007, Brasil, p. 13

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