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Bancos indígenas, entre a função e o rito

O Estado do Paraná-Curitiba-PR
05 de Fev de 2006

O Museu da Casa Brasileira abre a exposição Bancos indígenas - Entre a função e o rito, na terça-feira, 14 de fevereiro. A mostra tem uma introdução com seis peças arqueológicas, com o objetivo de mostrar ao público a antigüidade da simbologia dos bancos e as dimensões históricas, estéticas, técnicas e simbólicas desses artefatos nas sociedades indígenas. Entre outros, estão expostos os bancos indígenas mais antigos do Brasil - os banquinhos de cerâmica marajoara, uma cultura indígena que floresceu na Amazônia entre os séculos V e XV da nossa era.

Também estão em exibição 58 bancos contemporâneos de 17 povos indígenas. Esculpidos diretamente na madeira maciça, sem encaixes nem emendas, não se pode encontrar sequer um exemplar idêntico a outro. Muitos têm forma de bichos, enquanto outros apresentam formas retas, simples. A curadoria é de Adélia Borges e Cristiana Barreto.

Estatueta 516, acervo MPEG (foto Fernando Chaves).

Na noite de abertura da exposição, às 20h, haverá a apresentação do espetáculo Rupestres sonoros, concebido especialmente para a ocasião pelo grupo Mawaca. Segundo Magda Pucci, compositora, arranjadora, cantora e diretora musical do grupo, é uma proposta do Mawaca desenvolver um novo trajeto musical utilizando elementos da música indígena brasileira aliados a improvisos sobre as pinturas rupestres dos sítios arqueológicos do Pará e do Piauí. A entrada é franca.

Além dos banquinhos de cerâmica marajoara, a mostra tem outras peças arqueológicas em cerâmica que representam indivíduos sentados em bancos em contextos rituais xamanísticos e funerários, como as estatuetas da cultura Santarém (séc. X a XVII) e as urnas funerárias da cultura Maracá (séc. XV e XVIII). Estas peças sugerem que o uso dos bancos entre os índios da Amazônia tem na sua origem a demarcação de papéis sociais. As peças arqueológicas pertencem aos acervos do Museu Paraense Emílio Goeldi e do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo.

O objetivo da exposição é trazer essas peças históricas para fazer uma ponte entre a arqueologia, a etnografia e o design contemporâneo. "Os bancos indígenas nos ensinam como os objetos podem ser o resultado de longas tradições que foram se transformando no decorrer do tempo e como a aparência que adquirem hoje pode ter sido moldada por antigas práticas rituais não mais existentes", diz a arqueóloga Cristiana Barreto.

Após a contextualização histórica, estarão dispostos 58 bancos de 17 povos indígenas. Estarão representados os Asurini, Bakairi, Kayabi, Kalapalo, Kamayurá, Karajá, Kuikuro, Matipu, Mehinako, Suyá, Tapirapé, Tukano, Wai Wai, Waurá, Wayana-Apalaí, Yawalapiti e Yudjá, povos que vivem nos estados do Amazonas, Mato Grosso, Pará e Tocantins. Estes bancos fazem parte da coleção de Rubem Pereira de Ávila, um engenheiro de Campinas (SP), que se apaixonou pela cultura material indígena e já coletou mais de 3.500 peças.

Bancos indígenas

Entre a função e o rito enfatiza a diversidade de formas e grafismos desses objetos que, embora tenham apenas uma função de uso, estão impregnados de uma importante dimensão simbólica. Se, no cotidiano, os banquinhos podem ser usados de forma indiscriminada por todos os indivíduos da aldeia, durante os rituais, momentos de reatualização das crenças e do cosmos, eles se tornam atributos exclusivos de certos indivíduos. Assim, é comum o banco ser usado de forma a diferenciar socialmente os indivíduos, separando os homens das mulheres, os jovens dos velhos e certos homens, como os chefes e os xamãs, do restante da aldeia. Além disso, entre quase todos os povos que fabricam os bancos o tamanho do banco está diretamente relacionado à idade dos homens e ao prestígio dos xamãs.

"A mostra quer celebrar essa diversidade de formas e de conteúdos associados aos bancos e apontar a importância de sua preservação como um legado à cultura universal", diz Adélia Borges, diretora do Museu da Casa Brasileira. "Se, para os índios, os bancos representam uma ponte com o sobrenatural, para nós podem ser uma ponte com uma cultura em que a vida não se dissocia nem da natureza, nem da arte", afirma ela.

A magia dos bancos está agora na sua capacidade de simbolizar as tradições indígenas, na sua antigüidade e na sua diversidade. Os bancos adquirem um novo papel, simbólico, inseridos na complexa dinâmica contemporânea de lutas pela autodeterminação das sociedades indígenas perante a sociedade nacional e o mundo em geral.

No show do Mawaca, com duração de 40 minutos, o grupo se apresenta numa versão reduzida com seis cantoras (Angélica Leutwiller, Cris Miguel, Susie Mathias, Sandra Oak, Magda Pucci e Zuzu Abu), os percussionistas Armando Tibério e Valéria Zeidan e o baixista Paulo Bira. Magda Pucci, diretora musical do Mawaca, tem estudado a música surui e atualmente é pós-graduanda em Antropologia orientada por Carmen Junqueira e com apoio da escritora e antropóloga Betty Mindlin.

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