VOLTAR

Avião do Dsei levou indígenas para reunião com Helder

Amazônia Real - https://amazoniareal.com.br
Autor: Elaíze Farias
04 de Fev de 2025

Manaus (AM) - Indígenas que se deslocaram em voo da empresa Piquiatuba Táxi Aéreo fretado pelo Distrito Sanitário Especial Indígena Guamá Tocantins, no Pará, participaram de reunião com o governador Helder Barbalho (MDB) na segunda-feira (3), no Palácio dos Despachos, sede do Executivo.

No documento obtido pela Amazônia Real, a coordenadora do Dsei Guamá Tocantins, Puruparame Lima Gavião, informa que "o voo tem por finalidade o envio de medicamentos e conduzir a equipe que assumirá interinamente o Polo Base Oriximiná".

Quatro indígenas do povo Wai Wai, da região do Baixo Amazonas, viajaram na aeronave, de Oriximiná a Belém. O voo tinha plano de retorno em outras duas rotas, com três funcionários do Dsei: Belém-Santarém e Santarém-Oriximiná.

Um dos indígenas é Valnei Wai Wai. Ele é visto em diferentes momentos, com a mesma roupa, ao longo do dia (segunda-feira). Valnei postou imagens de dentro do avião, em seu status no Whatsapp, e do lado de fora da aeronave, junto a outros passageiros indígenas. Ele escreveu: "Indo pra luta em prol do nosso povo Wai Wai". Também estavam na aeronave Miguel Wai Wai de Silva, Germano Luiz Wai Wai e Arielson Pira Wai Wai.

Em Belém, um vídeo mostra Valnei caminhando ao lado dos seus companheiros Wai Wai até o Palácio dos Despachos. Na reunião, também esteve presente a titular da Secretaria dos Povos Indígenas do Pará, Puyr Tembé, que já foi presidente da Federação dos Povos Indígenas do Pará (Fepipa), e que defende o posicionamento de Barbalho. Na foto oficial divulgada pelo governo do Pará, ao final da reunião com Helder, ele está ao lado do governador, usando um cocar.

Desde o dia 14 de janeiro, a Secretaria de Educação do Estado do Pará (Seduc) está ocupada por movimentos sociais que lutam contra a Lei 10.820/2024, que abre as portas para o ensino à distância nas comunidades indígenas e quilombolas. Helder usou da reunião de segunda-feira para dizer que há indígenas favoráveis à lei.

À Amazônia Real, Valnei disse que seu deslocamento no voo aconteceu em "decorrência da distância entre o Polo e a sede administrativa do Dsei".

"O objetivo do voo não foi nos trazer e sim deslocar uma equipe de gestão do Dsei que irá coordenar o Polo Base Oriximiná nos próximos 90 dias, devido conflitos internos que vem ocorrendo na localidade. Na oportunidade, aproveitamos que o voo se deslocaria de Oriximiná (base) até Belém vazio, para reunir juntamente com a Coordenação do Distrito e Condisi (Conselho Distrital de Saúde Indígena) para apresentar as demandas da Aldeia Mapuera", afirmou.

Sobre a reunião com o governador, Valnei disse que participou a convite do "cacique-geral" Eliseu como representante legal dos povos indígenas Wai Wai da Calha Norte do rio Mapuera da Terra Indígena (TI) Nhamundá/ Mapuera.

Valnei Wai Wai é presidente da Associação dos Povos Indígenas do Mapuera (APIM), mas os Wai Wai tem cinco organizações de base.

Roque Wai Wai, presidente da Associação dos Povos Indígenas Trombetas-Mapuera (Aptima) disse à Amazônia Real que, apesar das lideranças terem direito de se manifestar, elas não podem usar recurso público para participar de atividades. Ele disse que esta prática pode comprometer a atenção à saúde indígena.

"O avião poderia ter sido direcionado para levar os colaboradores [do Dsei] para área [terra indígena], também poderia transportar pacientes, fazer emergência. Não para levar manifestantes no lugar de outras pessoas".

Segundo Roque Wai Wai, a Fepipa não consultou todas as lideranças indígenas da região de Oriximiná e chamou apenas organizações que se colocam ao lado do governador Helder Barbalho.

"Isso está muito errado. O parente foi participar especificamente dessa reunião com o Helder Barbalho. Foi a convite da Fepipa. Estamos sabendo disso muito bem. Ele foi direto para a manifestação. Sempre o Dsei faz isso, não é só essa viagem. Estão acostumados a usar dinheiro público da saúde para fazer isso".

Roque disse ainda que Eliseu não é mais o cacique geral. Em abril de 2023, houve uma assembleia do povo Wai Wai que elegeu Luiz Carlos Wai Wai para o cargo.

O voo, uma aeronave Caravan, foi solicitado no último dia 31 por Puruparame Lima Gavião. A Caravan pertence à empresa Piquitatuba, ré por garimpo ilegal em uma reserva biológica no Pará. O contrato foi firmado antes do governo Lula, mas o Ministério da Saúde renovou o convênio em 2024.

A Amazônia Real procurou Puruparame Lima Gavião para obter informações e esclarecimentos sobre o voo com os indígenas Wai Wai, mas ela transferiu a resposta para o Ministério da Saúde. A pasta também foi procurada com as mesmas indagações, além do fato de ter acordo com uma empresa acusada de garimpo ilegal. Até a publicação desta reportagem, o órgão não respondeu.

Mobilização continua na Seduc

A mobilização dos indígenas completa 20 dias nesta terça-feira. As lideranças reforçaram que permanecerão com a ocupação, que se estenderá para outras atividades. As lideranças Auricélia Arapiun e Alessandra Munduruku divulgaram vídeo na conta do Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns (Cita), que acusa o governador Helder Barbalho de querer "semear intriga entre os povos indígenas desestabilizando a unidade e a força coletiva."

"Os professores que estão aqui presentes são professores que dão aula. Já são dias que estamos aqui. São 21 dias. Quem está acompanhando a nossa luta pela revogação da lei. Não adianta o decreto, é como se fosse uma manga pendurada numa árvore, ela vai amadurecer e cair. Ou seja, ela não está segura. O seguro é revogar essa lei. E nós povos construir na base, vamos construir uma lei específica. Para isso consultando cada dificuldade. Os Tembé têm uma parte bem diferente dos Munduruku, dos ribeirinhos, dos quilombolas. Revogando essa lei, vai ter certeza que vai ser construída em conjunto", declarou Alessandra Munduruku.

À Amazônia Real, Auricélia Arapiun disse que a "resistência continua", com atividade da juventude e das mulheres da medicina tradicional. "A gente tem montado uma programação, mas repudia a forma como o governador tem agido para deslegitimar, invisibilizar, criminalizar a nossa manifestação. Há todo um trabalho de manipulação. É muito triste essa divisão. A gente espera que tudo isso passe e consiga fazer uma análise sobre essa colonização toda, essa incitação de conflitos. E a gente continua firme na batalha", afirmou.

No último domingo, a Defensoria Pública da União (DPU) no Pará entrou com um processo contra o governo do Pará por "propagação de fake news a respeito da mobilização dos indígenas". A ação civil também inclui a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e a empresa Meta Platforms, dona do Facebook e Instagram.

Fepipa apoia Helder

A Fepipa foi a articuladora da reunião de segunda-feira, que ocorreu no período da tarde. Um dia antes, indígenas favoráveis ao governador tiveram uma reunião de alinhamento nas instalações do Parque dos Igarapés, um complexo privado de lazer e turismo, onde muitos deles ficaram hospedados.

Segundo a organização, mais de 500 indígenas de 20 povos do Pará participaram da mobilização desta segunda, com lideranças de sete de oito etnorregionais da Fepipa, representando 42 dos 56 povos indígenas do Pará.

Perguntada pela Amazônia Real como os indígenas viajaram a Belém, a organização disse que "os povos indígenas possuem autonomia para se mobilizar e têm suas próprias organizações e associações responsáveis por viabilizar suas ações. No caso da marcha em Belém, uma mobilização foi realizada por meio das articulações das comunidades, com o apoio de diversas entidades indígenas e redes de solidariedade".

Nas redes sociais, a Fepipa se apresenta como a principal apoiadora de Helder Barbalho. Durante a reunião com o governador, a organização postava vários vídeos de recortes da reunião. Um deles mostra uma indígena Kayapó do município de Ourilândia falando em sua língua nativa, dirigindo-se ao governador.

https://amazoniareal.com.br/aviao-do-dsei-levou-indigenas-para-reuniao-…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.