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Avenida Brasil Sustentável

O Globo - oglobo.globo.com
Autor: VIEIRA, Agostinho
24 de Mai de 2012

Avenida Brasil Sustentável

Enviado por Agostinho Vieira

Às vésperas da Rio+20, a velha e já meio desbotada novela ambiental brasileira ganha contornos de emoção e suspense. A ponto de a Ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, na última sexta-feira, apelidar a trama de "Avenida Brasil Sustentável" e prometer que os próximos capítulos serão eletrizantes. O bom humor da ministra certamente tem relação com o pacote de bondades que o governo está preparando para divulgar no dia cinco de junho.
Entre as ideias, a criação de novas Unidades de Conversação, um decreto de compras governamentais sustentáveis, um projeto de educação ambiental para as escolas, metas setoriais para a redução das emissões de gases de efeito estufa, um pacto pelo gerenciamento das águas e até a nomeação de um conselho ou algo parecido que discutiria o desenvolvimento sustentável do país. Não dá para dizer que será uma maquiagem verde. Talvez um vestido novo de festa. Mas, certamente, as novidades servirão como um cartão de visitas do governo para a conferência da ONU.
Na novela do João Emanuel Carneiro, a verdadeira "Avenida Brasil", um dos personagens, o Cadinho, se equilibra para manter três mulheres. Na vida real, o governo ainda não encontrou o equilíbrio entre o econômico, o social e o ambiental. Ontem, o ministro Mantega anunciou o enésimo pacote de incentivo ao setor automobilístico, uma das áreas que mais contribui para as mudanças climáticas.
Na semana passada, a Câmara aprovou uma medida provisória, a MP 558, que reduz sete áreas protegidas para abrigar oito hidrelétricas. Em quase um ano e meio de governo, a presidente Dilma não conseguiu criar nenhuma Unidade de Conservação. O que deve ser compensado agora. A intenção inicial era anunciar a ampliação do Parque Nacional Marinho de Abrolhos, que cresceria dos atuais 88 mil para 890 mil hectares. Mas não será possível. As audiências públicas foram adiadas e, se algo acontecer, será somente no segundo semestre.
Em março, onze entidades socioambientais, como o WWF, o Instituto Socioambiental, o Imazon e o SOS Mata Atlântica, divulgaram um documento acusando o governo Dilma de promover o maior retrocesso ambiental desde a ditadura militar. A mesma carta acusava a ministra de ter sido complacente com a perda de poderes do IBAMA e de prestígio do CONAMA. Nenhuma das duas respondeu.
A principal motivação das entidades era a votação do Código Florestal, que terá mais um importante capítulo na próxima sexta-feira, dia 25. Este é o prazo final para que a presidente Dilma vete, ou não, o texto aprovado na Câmara. Tudo indica que vá vetar, não totalmente, mas em grande parte. Se fizer isso, será mais um movimento na direção correta. Assim como o pacote de bondades da Rio+20. O problema está no fato de ser um pacote pontual, com óbvias intenções políticas. Um pouco mais de estratégia, coerência, visão de longo prazo e, quem sabe, um dia essa novela não acabe tendo um final feliz.

O Globo, 24/05/2012

http://oglobo.globo.com/blogs/ecoverde/posts/2012/05/24/avenida-brasil-…

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