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Avanço do narcotráfico avança na fronteira de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas

A Crítica(AM) - http://acritica.uol.com.br/
Autor: Elaíze Farias
05 de Abr de 2011

Município é onde vive a maior população indígena do Brasil. Autoridades indígenas afirmam que Polícia Federal está ausente na região

O avanço do narcotráfico na fronteira da região do Alto Rio Negro, no Amazonas, com a Colômbia, nos últimos cinco anos vem preocupando autoridades do município de São Gabriel da Cachoeira (a 851, 23 quilômetros de Manaus). No município, não existe uma ação permanente da Polícia Federal e não há representação do Ministério Público Federal.

A violência no município se intensificou e os principais alvos do tráfico são jovens indígenas que vivem tanto nas aldeias quanto na sede. Muitos dos jovens servem de "mulas" para os grandes traficantes, a maioria deles localizados no território colombiano.

O combate ao tráfico de drogas foi uma das principais demandas apresentadas pelas autoridades e lideranças indígenas à comitiva interinstitucional do governo federal que esteve no município no último dia 1. A comitiva foi coordenada pela Secretaria Geral da República e pelo deputado federal Paulo Teixeira (PT).

As autoridades de São Gabriel da Cachoeira (das lideranças indígenas ao Executivo Municipal até o Comando do Exército) pediram o mesmo tratamento que o município de Tabatinga, também localizado em área de fronteira, recebe.

"Aqui é uma território federal e área de fronteira. A população indígena é grande. Existe toda uma problemática que o Estado ainda não viu. A atuação do narcotráfico é grande e completamente visível. A violência aumentou e pouco é feito para saber como ela se dá. São casos de assassinatos, amputações e queimação de pessoas. Isso é ameaçador e aterrorizante", disse André Baniwa, vice-prefeito do município.

O presidente da Federação das Organizações Indígenas do Alto Rio Negro (Foirn), Abraão França, disse que São Gabriel da Cachoeira virou uma porta de entrada do narcotráfico e se queixou da presença quase invisível da Polícia Federal.

"Só mandam dois agentes para cá e eles ficam apenas de vez em quando. Enquanto isso, as pessoas são assassinadas, têm o pescoço cortado, sofrem ameaças e nunca é feita uma investigação", disse França.

França destacou que São Gabriel da Cachoeira sofre com falta de opção de emprego e muitos jovens acabam sendo atraídos para o tráfico. "Geralmente é o indígena que acaba sendo a principal vítima. Alguns são presos, mas a maioria é assassinada. Os ´grandes´ ficam soltos por aí e nada acontece com eles", disse.

Uma funcionária da ong Instituto Socioambiental que pediu para não ter seu nome relevado reiterou a denúncia. Ela afirmou que as principais vias de acesso da fronteira até o território brasileiro são pelas calhas dos rios Papuri, Alto Uaupés e rio Cucuí, afluentes do rio Negro.

"Os indígenas se sujeitam a transportar a droga pelos rios, recebendo quase nada. Eles trazem da Colômbia e entram em São Gabriel da Cachoeira. A situação começou a se agravar em 2005 e só tende a piorar. Algumas pessoas são presas e enviadas para Manaus, mas muitos são assassinatos. O ideal seria que a Polícias Federal mantivesse um escritório aqui", disse a funcionária.

Estrada

O Comandante da 2ª Brigada de Infantaria de Selva, General José Luís Jaborandy Júnior, admitiu que uma dos maiores problemas enfrentados pelo comando do Exército é o acesso à fronteira do Brasil com Colômbia e Venezuela.

Ele contou que o Exército já atua no controle da fronteira, mas afirma que a atuação oficial é de responsabilidade da Polícia Federal.

O general apontou como principal dificuldade de acesso até as áreas de fronteira devido à intrafegabilidade da BR-307, situação que impossibilita a ação do Exército.

O comandante relatou a situação à comitiva do governo federal que visitou São Gabriel da Cachoeira e pediu apoio na liberação do licenciamento ambiental para a manutenção da BR-307.

Presente na comitiva estava o representante da Força Nacional e Secretaria Nacional de Segurança Pública, Tenente Gilberto Correa dos Santos. Ele disse que vai fazer um relatório sobre a demanda e apresentar a situação e o pedido das autoridades para a Secretaria Nacional.

"É a secretaria que vai tomar providências e enviar o relatório ao Ministério da Justiça. A Força Nacional atua em várias áreas de fronteira, mas isto ocorre mediante solicitação da Polícia Federal. Temos várias operações assim e aqui em São Gabriel pode ocorrer mais uma. Depende de como o Ministério da Justiça vai avaliar", disse o tenente.

MPF

Procurada, a assessoria de comunicação do Ministério Público Federal disse que o órgão segue o cronograma da Justiça Federal e que não está previsto nenhuma representação da procuradora em São Gabriel da Cachoeira.

O município é atendido pela procuradoria federal instalada em Tabatinga. No Amazonas, há apenas duas representações do MPF, em Manaus e Tabatinga. Há previsão de que seja criado uma representação em Tefé.

A reportagem não conseguiu falar com o superintendente da PF no Amazonas, Sérgio Fontes.

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