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Autora defende união de índios e brasileiros

O Liberal-Belém-PA
17 de Out de 2004

A índia Eliane Potiguara lança seu segundo livro, um romance que trata da violência praticada contra a cultura indígena em todo o mundo

Uma índia que prefere ser chamada apenas de brasileira, inclusive sem dar muito destaque ao Estado onde nasceu. O mais importante, diz Eliane Potiguara, é a ascendência, a ancestralidade, que no seu caso é da nação potyguara, da Paraíba. Por ter tido uma família forçada a migrar para o Rio de Janeiro, Eliane nasceu naquele Estado. Essa história da migração dos povos indígenas, que inclui a sua família e outras situações do movimento indígena nacional e internacional ela conta no romance "Metade Cara, Metade Máscara", o seu terceiro livro, lançado em Belém na última quinta-feira.

Eliane, que é professora formada em letras (português e literatura), licenciada em educação e especialista em direito indígena, defende no romance a preservação da identidade dos povos indígenas, contando a história de um casal de nativos brasileiros que se perdeu em 1500, durante a chegada do colonizador ao Brasil, e se encontra na contemporaneidade, através de seus descendentes. A história, cujo personagem principal é o herói Jurupiranga, é entremeada com a vivência da escritora sobre a violência praticada contra a cultura indígena e as conseqüências desse processo. Ela trata ainda do papel da mulher e do homem, o papel do índios na sociedade brasileira, além de tocar sultilmente em temas como propriedade intelectual, meio ambiente, terra, território e espiritualidade.

O objetivo do romance, segundo a autora, é ressaltar os princípios éticos indígenas, um modelo de respeito ao ser humano que na sua visão deveria ser seguido pela maioria da sociedade, principalmente a dominante. Eliane acredita que essa é uma idéia possível. "Durante séculos os povos indígenas vêm sofrendo todo tipo de violência, muita coisa que sequer chega a ser noticiada, mas hoje nós já vemos por parte do próprio governo um reconhecimento maior ao que um índio representa, uma espécie de dívida que aos poucos começa a ser resgatada", diz ela, ao ressaltar as conquistas de muitos nomes indígenas nos cargos públicos como a legislatura municipal, como ocorreu no pleito de 3 de outubro em vários Estados, principalmente nos da região Nordeste.

Segundo Eliane, ter essa voz é apenas mais um passo da luta, que tem como maior inimigo o grande capital, principalmente das empresas mineradoras e madeireiras, que, segundo ela, não estão interessadas na demarcação de terras indígenas e muito menos em respeitar esses limites de forma sustentável para as comunidades e para o meio ambiente. "O que tentamos, não só nesse livro, mas em todo o nosso trabalho, é demonstrar que de fato a terra é a mãe do índio e mãe da nação brasileira", diz Eliane, que insiste em defender a união dos povos indígenas como brasileiros. .

O novo livro de Eliane faz parte da série "Visões Indígenas", da Global Editora, coordenada pelo também escritor indígena Daniel Munduruku. Eliane tem outros dois livros publicados. O primeiro - "A Terra é a Mãe do Índio" (1989), foi premiado pelo Pen Club da Inglaterra e serviu de tese para dois mestrados estrangeiros (Índia e Estados Unidos). Ela fundou em 1986 a Associação Grumin (Grupo Mulher-Educação Indígena), que dez anos depois recebeu o II Prêmio de Cidadania Internacional e tornou-se a Rede de Comunicação Indígena Grumin, para resolução de temas específicos como direitos indígenas.

Em 1994 Eliane lançou o livro "Akajutibiró, Terra do Índio Potiguara", uma espécie de cartilha de apoio à alfabetização para adultos e crianças apoiada pela Unesco. Aos 54 anos, a escritora é hoje uma das conselheiras do Instituto Indígena de Propriedade Intelectual e membro da Rede de Escritoras Brasileiras.

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