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Aumenta conflito entre índios e fazendeiros em Monte Pascoal

A Tarde-Salvador-BA
Autor: (Carla Fialho)
08 de Nov de 2002

Tiroteios, prisões e troca de acusações aumentaram nos últimos dias o conflito
entre índios pataxós e fazendeiros que brigam pelas terras na região do Parque Nacional do
Monte Pascoal. Uma operação conjunta da Polícia Federal, Polícia Militar e Civil, totalizando 42
homens, prendeu, na terça-feira, os índios Lídio Matari, Sebatião e Benedito, por porte ilegal
de armas. De posse de um mandado de busca e apreensão, os policiais fizeram uma vistoria
em toda área do conflito e foram encontradas num carro da comunidade indígena, revólveres e
espingarda. A operação teve ainda como objetivo cumprir o mandado de reintegração de posse
da Fazenda Oriente, localizada no entorno do parque, ocupada pelos índios desde setembro.

Anteontem, as polícias Federal, Militar e Civil voltaram ao local para cumprir mais dois
mandados de reintegração de posse das fazendas Bela Vista e Boa Vista, retomadas pelos
pataxós no início de abril. O cumprimento das liminares agravou a situação que já era tensa
desde o último sábado, quando ocorreu mais um tiroteio que culminou na prisão do Cosme
Pereira da Conceição, que os índios afirmam fazer parte da comunidade Pataxó e a polícia
alega ser um cidadão comum com várias passagens pela cadeia. O índio Assai, da Aldeia
Nova de Monte Pascoal, que testemunhou os acontecimentos, afirmou que foram os
"pistoleiros do fazendeiro Mauro Rossoni, acampados na Fazenda Santo Agostinho, quem
promoveram o tiroteio".
Assaí contou que no sábado, por volta das 17 horas, ele, sua esposa e o filho de poucos
meses estavam indo, no carro da família, para a Fazendo Oriente, ocupada pelos pataxós.
Atrás deles, vinha em outro veículo Cosme e seu irmão Adeilson Pereira da Conceição.
"Quando passávamos em frente à Fazenda Santo Agostinho, na estrada de acesso a Fazenda
Oriente, cerca de 15 homens armados pararam nosso carro e já começaram a atirar. Conseguir
acelerar e sair. Então cercaram o carro de Cosme, que por azar começou a falhar. O irmão
dele, Adeilton, fugiu no meio do mato e ele foi preso", relatou. O gerente da Fazenda Santo
Agostinho, Benervaldo de Carvalho Souza, nega que, no sábado, tenha acontecido um tiroteio.

"Dois trabalhadores da fazenda chegaram na porteira conversando com Caboclo. Como há
algum tempo ele nos espionou e forneceu aos índios informações para invadirem a fazenda, o
prendemos e chamamos a Polícia Militar. O tiroteio que aconteceu foi no domingo. Seis índios
armados vieram na entrada da fazenda (a 500 metros da sede) e começaram a atirar aqui na
sede. Então tivemos que reagir. Nas paredes ainda tem as marcas das balas", conta
Benervaldo. Ontem a equipe do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) - Extremo Sul enviou
uma carta aberta às autoridades envolvidas na questão em que repudiam os acontecimentos
dos últimos dias, com tiroteios e prisão de quatro índios. "Depois de inúmeras denúncias da
comunidade Pataxó no Monte Pascoal, através da Frente de Resistência e Luta Pataxó, a
pistolagem a cada dia aumenta, fruto da impunidade e da falta de providencias da justiça
federal e do descaso de órgãos como a Funai".
O Cimi ainda critica a prisão de quatro índios, em vez dos "pistoleiros que promoveram os
tiroteios. Está claro que a operação teve o objetivo de manter uma intervenção militar no local,
cumprir as liminares contra os índios e inibir as retomadas. Quanto aos bandidos e as
ameaças, ainda que a ação da polícia arrefeça um ou três dias, em seguida eles retornam,
com mais fúria contra as aldeias, pois a cada dia a impunidade sai vitoriosa e a justiça
empurra com a barriga a problemática na região do Monte Pascoal", protestam.
O presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Itamaraju, em carta enviada a A TARDE,
afirma que "os produtores rurais da região do entorno do Parque Nacional do Monte Pascoal,
município de Porto Seguro, vêm sofrendo com as invasões de suas propriedades, desde que
foi iniciado, em abril, o processo de retomada pelos pataxós".
A comunidade indígena reinvindica uma área de 180 mil hectares, onde estão localizadas cerca
de 400 propriedades. Os fazendeiros da região brigam para provar que as terras não
pertencem aos índios, já que possuem os títulos e pagamentos de impostos de suas
propriedades. A área em disputa está em estudo por um grupo técnico da Funai, coordenado
pela antropóloga Maria do Rosário Carvalho. Só estudo pode dizer se a terra reinvindicada
pelos pataxós é ou não território indígena.

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