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Atuação de diplomacia brasileira gera controvérsias

O Globo, Especial, p. 5
20 de Jun de 2012

Atuação de diplomacia brasileira gera controvérsias
Alguns, como negociador americano saúdam esforço do Itamaraty em busca de consenso; para outros, como ministro alemão, pressa por acordo se sobrepôs a conteúdo

Eliane Oliveira, Fernanda Godoy
e Henrique Gomes Batista
economia@oglobo.com.br

Elogiada por diversas delegações estrangeiras e criticada por representantes da sociedade civil, a atuação da diplomacia brasileira na Rio+20 foi bem-sucedida, apesar da pressa em aprovar, em poucas horas, um texto com mais de 200 parágrafos. Um dos méritos dos negociadores foi jogar duro com os europeus na reta final da negociação quando, na madrugada de terça-feira, os comissários da União Europeia (UE) foram ao gabinete do ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, no Riocentro, pedir mais um dia de reunião, desta vez em nível ministerial.
Patriota disse não. Preocupado com a possibilidade de fracasso, que obrigasse os negociadores a repassarem o problema aos chefes de Estado, ele designou uma equipe de 25 diplomatas para examinar profundamente o texto em negociação para, se necessário, fazer ajustes imediatos em busca de consenso.
O documento começou a ser negociado há quase dois anos. O texto chegou à Rio+20 com 25% dos parágrafos fechados. Em três dias, o avanço foi de apenas 10%. O Brasil assumiu a presidência das negociações no sábado passado, fez duas novas versões do texto final e, ontem, a presidente Dilma Rousseff acompanhou por telefone passo a passo a votação em plenário.
- Não queríamos que o processo atrasasse muito. Não dava para corrermos o risco de repetir o que houve em Copenhague - disse um ministro, referindo-se à conferência sobre mudanças climáticas realizada há dois anos, na Dinamarca, quando não houve documento final.
O ministro do Meio Ambiente da Alemanha, Peter Altmaier, criticou a condução das negociações pelo Brasil, no papel de presidente da Rio+20, para chegar ao documento final.
- O Brasil estava numa posição difícil, porque havia muitas demandas e muita controvérsia, mas fiquei decepcionado. Na noite de segunda-feira, tive a impressão de que o Brasil estava mais interessado em concluir as negociações, independentemente dos resultados. Isso foi evitado por uma firme reação da União Europeia - disse.
Já o chefe das negociações pelos EUA, Todd Stern, avaliou o desempenho da diplomacia brasileira como "excepcional".
- E não digo isso porque pense que tudo tenha saído tão bem para os EUA. É realmente duro administrar um grupo de jogadores tão indisciplinados como são os países. Os brasileiros fizeram um trabalho excepcional - disse.
Para o embaixador Rubens Barbosa, do conselho de comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), estava claro que não havia como aprovar um documento mais ambicioso.
- É preciso ser realista. O Brasil assumiu a responsabilidade e acabou apresentando um texto menos ambicioso. Nessa circunstância, foi uma vitória fazer um texto de consenso.
Já Marcelo Coutinho, professor da UFRJ e da Iuperj, avaliou que a atuação da diplomacia brasileira foi um "fracasso retumbante", embora tenha evitado um mal maior. Em sua opinião, o Brasil pecou ao se apressar e descartar um dia a mais de negociação.

Jornais dos EUA e da Europa reagem a texto com críticas

RIO. O rascunho do documento final da Rio+20 foi recebido com críticas pela imprensa internacional.. O britânico "The Guardian" avaliou que "o enfraquecido documento gerou irritação e consternação". No texto, o jornal explica que o acordo desapontou ativistas e que o Brasil deixou de lado itens fundamentais com relação à biodiversidade, à redução da pobreza e à decisão de tornar a economia global algo mais sustentável.
Para o "New York Times", a Rio+20 acabou em segundo plano diante da crise econômica no. E o jornal mantém o ar de ceticismo ao dizer que são baixas as expectativas para que os planos, de fato, saiam do papel.
Já o francês "Le Monde", que ontem editou um suplemento especial sobre o tema, avalia que a conferência pressagia um fracasso nas discussões internacionais sobre o meio ambiente, salientando a incapacidade dos países industrializados de promover os investimentos necessários para a transição para o desenvolvimento durável, mas também a recusa dos países em desenvolvimento em aderir ao novo modelo de crescimento. "Os países do Sul, principalmente o Brasil, temem ver um freio ao seu desenvolvimento e suspeitam uma manobra dos países ricos para impor seu know-how e suas tecnologias, sob a cobertura de considerações ambientais", opina o jornal.

O Globo, 20/06/2012, Especial, p. 5

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