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Atividade humana expõe pontos de ruptura da Terra

O Globo, Ciência, p. 20
05 de Fev de 2008

Atividade humana expõe pontos de ruptura da Terra
Planeta, que estaria entrando em um novo período geológico, apresenta situações climáticas consideradas críticas

A atividade humana pode levar o clima na Terra a limites tão críticos que alguns importantes componentes podem ter os seus padrões de funcionamento rompidos. O alerta está em um estudo, feito por um grupo internacional de cientistas e publicado na versão online da revista "Proceedings of the National Academy of Sciences" (PNAS).

Já um outro trabalho, realizado por cientistas britânicos e publicado na edição deste mês da revista "Geological Society of America", sugere que a Terra pode estar entrando em um novo período geológico, o Antropoceno. Para os autores, o impacto dos seres humanos no planeta é a principal causa da transição.

Alterações abruptas e ir reversíveis "A sociedade atual pode estar iludida por uma falsa sensação de segurança por conta de previsões de mudanças climáticas a longo prazo", aponta o relatório publicado na PNAS, no qual os cientistas descrevem como pequenas alterações podem ter conseqüências de longo impacto nos sistemas ecológicos.

Segundo eles, as mudanças climáticas podem parecer lentas numa escala de tempo percebida pelo homem, mas, em algumas regiões, elas podem levar a alterações abruptas e irreversíveis. Tais casos são o que os cientistas chamam de pontos de ruptura.

Tomando como referência os resultados de uma reunião entre 36 especialistas em clima, realizada em Berlim, em 2005, além da análise de artigos referentes ao tema, os pesquisadores listaram nove desses potenciais pontos de ruptura.

Eles foram classificados como aqueles que merecem mais atenção das autoridades e divididos entre níveis de probabilidade de ocorrência.

Transição para o Antropoceno

As coberturas de gelo do Ártico e da Groenlândia são descritos como os pontos de ruptura com os elementos mais sensíveis. Os autores do estudo acreditam que tais regiões vão sofrer com o degelo provocado pelo aquecimento global num nível classificado como de "pequena incerteza". Também fazem parte da lista de pontos de ruptura a Floresta Amazônica, o fenômeno El Niño e as monções da África Ocidental.

- Todos esses pontos de ruptura podem surpreender o mundo com suas possíveis alterações - diz o estudo.

Um ponto de ruptura considerado exemplar pelos cientistas é a circulação do Oceano Atlântico, que regula a temperatura na região. Ela tem mais de 10% de chances de sofrer uma mudança ainda neste século.

Por conta dos impactos desses pontos de ruptura, os cientistas sugerem medidas de adaptação e mitigação, além de rigorosos estudos de impacto sócio-econômico. O estudo indica que alguns dos pontos de ruptura são praticamente inevitáveis na transição rumo a uma sociedade com baixas emissões de carbono.

No trabalho publicado na "Geological Society of América", os pesquisadores ingleses lembram que a transição geológica é normalmente atribuída a transformações como registro de fósseis e mudanças no padrão das rochas. Mas no caso do Antropoceno, as atividades humanas seriam a maior causa da transição.
- O homem emite mais CO2 do que os vulcões e move mais materiais pela superfície da Terra mais do que rios e enchentes - diz estudo.

Perto do colapso

Os nove pontos de ruptura destacados pelo estudo são descritos abaixo, seguidos do tempo previsto para
que tais alterações comecem a ser sentidas.

Derretimento da camada de gelo do Ártico: cerca de dez anos.
Diminuição da cobertura da Groenlândia: mais de 300 anos.
Colapso da cobertura de gelo da Antártica: mais de 300 anos.
Colapso da circulação do Oceano Atlântico: cerca de 100 anos.
Aumento da oscilação do fenômeno El Niño: cerca de 100 anos.
Colapso das monções de verão na Índia: cerca de um ano.
Colapso das monções na África Ocidental: cerca de dez anos.
Colapso da Floresta Amazônica: cerca de 50 anos.
Colapso da Floresta Boreal: cerca de 50 anos.

O Globo, 05/02/2008, Ciência, p. 20

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