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Atendimento não chega aos índios Piranhã no AM por falta de transporte e equipamentos

Repórter Brasil/Rondonotícias
09 de Fev de 2007

Duas crianças indígenas do povo Pirahã, em Manicoré (AM), morreram no começo de janeiro: uma por conta da desidratação e a outra, no parto. Em Guajará-Mirim (RO), na aldeia Lage Velho, outras três também morreram de desidratação entre o dia 1 e 20 de janeiro. Nesse mesmo período, mais 42 crianças indígenas da região foram internadas, a maioria com diarréia e sintomas de desidratação. Em Dourados (MS), um bebê de 9 meses da aldeia Bororó morreu com suspeitas de desnutrição (24). Em Tocantinópolis (TO), as mortes de duas crianças do povo Apinajé, por conta de diarréia, infecção respiratória e desnutrição, lembrou a morte de outras 14 crianças dessa mesma etnia em janeiro de 2006 por causas semelhantes.

Esses são alguns casos que podem ilustrar a situação da saúde indígena no Brasil. Não é de hoje que a questão preocupa, mas nos últimos dois meses a situação tem chamado a atenção. A malária e as infecções respiratórias e gastrointestinais tem sido responsáveis pela internação sucessiva de índios de aldeias de grande parte dos estados do Norte brasileiro. As crianças são as maiores vítimas, já que muitas acabam morrendo.

As comunidades indígenas e as entidades da sociedade civil afirmam que não há estrutura mínima para o atendimento à saúde indígena diferenciado, garantido pela lei de 1999, e responsabilizam a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) pelo tratamento caótico e deficiente. A Funasa, por sua vez, rechaça as acusações e afirma que tem cumprido o seu papel.

No caso das crianças de Pirahã, a Organização dos Povos Indígenas Tora, Tenharim, Mura e Parintintin (Opittamp) acusou a Funasa de não prestar assistência devida aos povos da região do rio Madeira, nos municípios de Manicoré e Humaitá, ao não enviar equipes às aldeias desde julho do ano passado. Em nota, a Fundação responde: "No começo deste mês, enviou para o município de Manicoré, região do Rio Maici, mais uma equipe de saúde, formada por um enfermeiro, três técnicos de enfermagem e dois técnicos laboratoriais a fim de diagnosticar o quadro da região e reforçar o atendimento por 20 dias".

Em Rondônia, a Funasa afirma também que o controle da malária é realizado por meio de controle vetorial, diagnóstico precoce e tratamento de pacientes. O acompanhamento das equipes seria feito a cada 15 dias.

"Não há visitas médicas nas aldeias. A Funasa afirma que não tem combustível suficiente para chegar até elas. Outras reivindicações feitas não são atendidas, pois dizem que há problemas de orçamento", contrapõe Silas Oro Nao, da aldeia Tanajura e conselheiro distrital de Porto Velho (RO). "A Funasa atende tudo o que dá para atender", informou a assessoria de imprensa da instituição.

Rondônia

O principal problema levantado pelos indígenas que vivem em Rondônia é a falta de transporte tanto para as equipes médicas chegarem às comunidades, como para levar os doentes em estado mais grave para os hospitais e postos de saúde no município mais próximo.

Segundo Gilles de Catheu, médico da equipe do Conselho Indigenista Missionário de Rondônia (Cimi-RO), as aldeias da região de Guajará-Mirim (RO) são distantes e o acesso, que costuma ser por vias fluviais, é difícil. Algumas aldeias chegam a distar até 300 quilômetros da cidade, o que significa que uma viagem com uma voadeira - pequena embarcação motorizada - pode levar até 8 horas. Com outras embarcações menos eficientes, Catheu explica que o percurso do rio pode levar até três dias. "A melhoria do transporte para as aldeias é uma reivindicação que é feita há sete anos. O ideal seria que cada uma das oito aldeias da região tivesse uma voadeira. Hoje há apenas uma na cidade para atender os casos emergenciais", conta o médico.

De acordo com o Cimi, a região de Guajará-Mirim, que tem uma população indígena de mais de 4 mil pessoas, sofre um dos maiores picos de malária desde os surtos da década de 90. De acordo com a entidade, nas aldeias da região houve registros de 743 casos de malária. "De 2000 a 2003, a equipe de Endemias conseguiu reduzir a malária. Em 2000, houve 557 casos no Pólo-Base de Guajará-Mirim. O número caiu para 135 em 2003, mas voltou a crescer em 2004, quando houve 341 casos", afirma o Cimi, em nota. Na comunidade Lage Velho, cuja população é de 250 pessoas, surgiram 14 casos - 13 crianças e 1 adulto - de malária apenas entre os dias 20 e 25 de janeiro.

Para a Funasa, um dos motivos de Lage Velho ter um índice alto de malária é o fato de a aldeia ser próxima ao Rio Ribeirão, criadouro de mosquitos transmissores da malária. "Algumas características culturais como a extração de castanha e a pesca, prática comum entre os indígenas daquela aldeia, acabam contribuindo para o aumento no número de casos - este aumento, porém, não configura surto", afirma a Funasa.

O Cimi, no entanto, aponta a situação como sendo um surto e acusa outras causas para a disseminação da malária, como a falta de um trabalho de prevenção contínuo nas aldeias, saneamento básico precário e água do rio contaminado. A carência de transporte e inseticidas agrava o quadro.

A comunicação entre as aldeias e os postos de atendimento é um problema também. Grande parte dos rádios das aldeias usados para chamar os profissionais da saúde no caso de emergências não funciona, e os orelhões também são falhos. "A comunicação é aleatória", afirma Catheu. "A saúde indígena é cara. Uma coisa é atender um morador da cidade no hospital a outra é atender os índios em suas aldeias. Só o gasto com o combustível é enorme", avalia.

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