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Assassinato de índios cresce 214% em MS

FSP, Ciência, p. A8
08 de Jan de 2008

Assassinato de índios cresce 214% em MS
Estado registra 44 mortes de indígenas por homicídio em 2007 contra 14 em 2006, segundo a Funasa

Rodrigo Vargas
Da agência Folha, em Campo Grande

O número de assassinatos de índios em Mato Grosso do Sul cresceu 214% em 2007 em relação ao ano anterior, aponta balanço da Funasa (Fundação Nacional de Saúde) divulgado ontem. Foram 44 mortes por esse motivo, ante 14 em 2006.
Também houve aumento de 5% nos casos de suicídios de indígenas no Estado -foram 42, contra 40 no ano anterior.
Ao menos um terço (14) dos homicídios e todos os suicídios ocorreram em áreas das etnias guarani e caiuá, no sul do Estado. São 40 mil índios apenas nessa região, distribuídos por 30 mil hectares -o total de indígenas no Estado é de 64 mil.
A maior parte dos assassinatos -a Funasa não precisou o número, mas citou percentual superior a 90%- ocorreu nas aldeias e foi motivada por brigas entre os próprios índios.
Os indígenas do sul de Mato Grosso do Sul vivenciam problemas como envolvimento com álcool e drogas e falta de emprego, em meio a conflitos fundiários. Em 2005, ao menos 15 crianças indígenas morreram de desnutrição em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
Para o coordenador regional da Funasa, Flávio Britto Neto, o principal fator responsável pelas mortes de índios é a falta de perspectiva de vida. "No caso de Dourados, há o agravante da proximidade com a zona urbana." A região abriga 13 mil índios em área de 3.500 hectares.
Para Britto Neto, o número de suicídios de índios da etnia guarani é o problema mais grave. Desde 2001, segundo a Funasa, foram mais de 300, a maioria de jovens de 15 a 19 anos. "Não há paralelo algum no país e talvez no mundo de algo dessa magnitude", disse ele, que citou a contratação de quatro psicólogos como um passo para enfrentar o problema.

Dados do Cimi
Nesta semana, o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) divulgou levantamento nacional sobre mortes de indígenas. Dos 76 casos apurados pela instituição, 48 ocorreram em Mato Grosso do Sul -para a Funasa, a diferença de quatro casos em relação ao seu levantamento pode ter relação com a metodologia empregada para computar casos registrados em áreas de fronteira.
Para o coordenador do regional do Cimi, Egon Heck, os números denotam insuficiência de ações do governo federal em relação ao problemas fundiários vividos pelos guaranis e caiuás. "2007 foi o ano em que nada foi feito. Em vez de demarcação de terras, o que se viu foi o incentivo a usinas de álcool. Some-se a isso o agravamento das tensões internas e o resultado é esse círculo vicioso de violência."

FSP, 08/01/2007, Ciência, p. A8

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