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A artista e ativista é conhecida mundialmente pelo trabalho em parceria com o povo Yanomami

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13 de Abr de 2023

A artista e ativista é conhecida mundialmente pelo trabalho em parceria com o povo Yanomami

Publicado em 13 de abril de 2023 às 16:30

Manaus - Uma das principais fotógrafas de sua geração, Claudia Andujar (1931), terá seu vasto acervo, que conta parte importante da história do país, incorporado ao conjunto de acervos preservados pelo Instituto Moreira Salles. A artista e ativista é conhecida mundialmente pelo trabalho em parceria com o povo Yanomami.
O conjunto tem mais de 40 mil fotogramas, além de documentos e publicações, entre outros itens. Grande parte das fotografias foram feitas na Terra Indígena Yanomami nas décadas de 1970 e 1980, antes de sua demarcação, que ocorreu apenas em 1992. O acervo inclui também fotos feitas entre os anos 1950 e 1970, período em que a artista documentou o Brasil e outros países da América Latina e trabalhou para revistas importantes, como a extinta Realidade.
A obra de Andujar também é notícia no circuito internacional. Entre 3 de fevereiro e 16 de abril, o centro cultural The Shed, em Nova York (EUA), apresenta a exposição A luta Yanomami, organizada pelo IMS em parceria com a própria instituição, a Fundação Cartier de Arte Contemporânea, a Hutukara Associação Yanomami e o Instituto Socioambiental (ISA).
A mostra é uma versão ampliada da exposição Claudia Andujar: a luta Yanomami, apresentada no IMS Paulista e IMS Rio, em 2018 e 2019, e em instituições europeias, como a Fundação Cartier, em Paris, o Barbican Centre, em Londres, e a Fundação Mapfre, em Barcelona, entre outras.
A nova versão da exposição apresenta não apenas a colaboração de Andujar com o povo Yanomami, que culminou com a demarcação da Terra Indígena em 1992, como uma nova geração de artistas Yanomami contemporâneos que têm usado o cinema, o desenho e a pintura para tratar de suas visões de mundo e amplificar a luta por direitos e soberania. Após passar por Nova York, a exposição seguirá para a Cidade do México e Puebla (México), Bogotá (Colômbia) e Santiago (Chile).
O coordenador do Departamento de Fotografia Contemporânea do IMS e curador da exposição, Thyago Nogueira, comenta a chegada do acervo: "Andujar é uma das maiores artistas brasileiras vivas, com uma contribuição inestimável à história política e social do país. Seu arquivo é um capítulo inteiro da história da fotografia brasileira. Sua parceria com o líder e xamã Davi Kopenawa e sua colaboração ampla com o povo Yanomami, seja na produção artística, nas campanhas de vacinação ou na demarcação da terra indígena, são exemplares e admiráveis, com efeitos duradouros para o país. Andujar deu um sentido profundo à sua fotografia ao construir seu trabalho a partir de uma postura ética inegociável. Ao longo da vida, sua arte se transformou em uma plataforma para o povo Yanomami, que também será responsável por pensar e difundir essas imagens. Depois de 10 anos de trabalhos conjuntos com Claudia, é uma honra e uma responsabilidade preservar e difundir seu legado. Espero que a vinda de seu acervo também transforme a forma como enxergamos nossos próprios acervos fotográficos e sua missão artística."
O curador ressalta ainda a importância da circulação da obra de Claudia no exterior: "A circulação da obra de Andujar no exterior é importante não apenas para que o tamanho de sua contribuição seja devidamente reconhecido no cânone internacional como para mostrar ao mundo a relação estreita que se pode construir entre a arte e a defesa da vida, entre a proteção ambiental e a justiça social".
Mais sobre a artista e o acervo
Claudia Andujar nasceu na Suíça em 1931 e cresceu na região da Transilvânia. Sua família paterna, de origem judaica, foi morta nos campos de concentração de Auschwitz e Dachau. Para escapar da perseguição, fugiu para os Estados Unidos e depois para o Brasil, em 1955. Aqui, começou a fotografar e construiu uma carreira no jornalismo. Em 1971, registrou os Yanomami pela primeira vez. O encontro mudou a vida da artista, que voltou inúmeras vezes ao território para fotografar aquela cultura, ainda relativamente isolada. A partir de então, dedicou sua carreira a documentar o território e a lutar, junto a lideranças indígenas e ativistas, pela demarcação do território, homologada pelo Estado brasileiro em 1992.
O acervo inclui itens relacionados a toda a carreira de Claudia. Entre as imagens produzidas antes do seu engajamento na causa indígena, é possível destacar asreportagens que realizou para a revista Realidade, uma das principais publicações do período, de 1966 a 1971. Para a revista, registrou temas como a intensa atividade de uma parteira na pacata cidade de Bento Gonçalves (RS); a situação dos pacientes do Hospital Psiquiátrico do Juqueri; e a deportação de migrantes desempregados pelo estado de São Paulo. Há ainda ensaios experimentais que Claudia desenvolveu em São Paulo a partir de seu interesse pela cidade e pela alma feminina, como as séries Rua Direita e A Sônia.
Maior parte do conjunto, as fotografias produzidas no território indígena, localizado nos estados de Roraima e Amazonas, foram tiradas entre os anos 1970 e 1980. Nas imagens feitas em suas primeiras viagens à região, Claudia documenta as atividades diárias dos Yanomami na floresta e nas malocas, além dos rituais xamânicos. Um dos conjuntos mais importantes do período é o registro das festas reahu, cerimônias funerárias e de aliança entre comunidades.
Conforme passava mais tempo na floresta, a artista modificava sua perspectiva e seu trabalho, distanciando-se do fotojornalismo e se aproximando do universo indígena, como afirma Nogueira: "Ao interpretar a sociedade Yanomami com imagens, e não palavras, como faziam a antropologia e o jornalismo, Andujar oferecia uma nova camada de significados".
Outro destaque do acervo são os documentos que mostram o ativismo da artista e de diversas lideranças pela criação da reserva indígena. Em 1977, a fotógrafa foi expulsa pela Funai e impedida de voltar à área. Diante dos avanços depredatórios promovidos pelo governo militar, Claudia, o missionário Carlo Zacquini e o antropólogo Bruce Albert, entre outros ativistas, fundaram em 1978 a Comissão pela Criação do Parque Yanomami (CCPY). Durante os 13 anos seguintes, a CCPY atuou ativamente na luta pela demarcação, homologada em 1992. O material que agora chega ao IMS traz manifestos e relatórios da CCPY, matérias de imprensa nacional e internacional que denunciam a devastação do território e registros das campanhas de vacinação realizadas na região, cujas fotografias depois se transformaram na famosa série Marcados, entre outros itens.
Sobre sua produção e ativismo, Claudia afirma, em texto publicado no catálogo da exposição A luta Yanomami: "Estou ligada aos povos indígenas, à terra, à luta primária. Tudo isso me comove profundamente. Tudo parece essencial. Sempre procurei a resposta à razão da vida nessa essencialidade. E fui levada para lá, na mata amazônica, por isso. Foi instintivo. À procura de me encontrar." Ainda em relação à sua amizade e aproximação com os Yanomami, complementa: "Penso que o mais importante é a oportunidade de apresentar as pessoas a outro aspecto do nosso mundo. Ao mesmo tempo, este outro aspecto do nosso mundo permite-nos reconhecer-nos nos outros seres humanos que merecem viver as suas vidas como eles desejam e de acordo com a sua própria compreensão do mundo."
Sobre a itinerância
Concebida inicialmente pelo IMS, a exposição Claudia Andujar: a luta Yanomami foi exibida inicialmente no IMS Paulista, em 2018, e no IMS Rio, em 2019. Em 2020, começou sua itinerância pela Europa. Neste ano, para a inauguração no The Shed, em Nova York, a mostra foi expandida para incluir mais 50 desenhos e pinturas dos artistas Yanomami André Taniki, Ehuana Yaira, Joseca Mokahesi, Orlando Naki uxima, Poraco Hiko, Sheroanawe Hakihiiwe e Vital Warasi, assim como do líder e xamã Davi Kopenawa. Os visitantes também encontram filmes e curtas dos cineastas Yanomami Aida Harika, Edmar Tokorino, Morzaniel Ɨramari e Roseane Yariana.
Itinerância internacional:
2020
Fundação Cartier pela Arte Contemporânea, Paris, França
Trienal de Milão, Itália
2021
Fundação Mapfre, Barcelona, Espanha
Barbican Centre, Londres, Inglaterra
Fotomuseum, Winterthur, Suíça
2023
The Shed, Nova York, EUA - 3 de fevereiro a 16 de abril de 2023
Museo Universitario Arte Contemporáneo (MUAC), Cidade do México, México - maio a outubro de 2023
Museo Amparo, Puebla, México - novembro de 2023 a março de 2024
2024:
Museo de Arte del Banco de La República, Bogotá, Colômbia
Centro Cultural La Moneda, Santiago, Chile
Links para consulta:
Exposição no IMS: clique aqui
Site em 4 idiomas sobre a exposição: clique aqui
Publicações sobre Claudia Andujar lançadas pelo IMS:
No lugar do outro
Claudia Andujar - A luta Yanomami

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