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ARTESANATO QUE CONTA HISTÓRIAS DOS POVOS INDÍGENAS

OESP, Economia, p. B3
23 de Ago de 2020

ARTESANATO QUE CONTA HISTÓRIAS DOS POVOS INDÍGENAS

Com a marca Tucum, peças feitas por 30 povos da Amazônia são vendidas no Brasil e no exterior e devem ganhar mais visibilidade com plataforma de marketplace

Texto: Cleide Silva

Criada em 2012 por Amanda Santana, a Tucum comercializa artesanato de 30 povos indígenas do Brasil em alguns pontos físicos e principalmente online. No ano passado a startup passou por processo de aceleração e conseguiu captar R$ 360 mil, recurso que está sendo utilizado na mudança do negócio para uma plataforma de marketplace.

Atualmente, boa parte dos produtos comercializados é trazida por seu parceiro, Fernando Niemeyer, cientista social e antropólogo que atua como indigenista desde 2004, e por ela mesma, em viagens que faz às diversas regiões da Amazônia. Com o marketplace as vendas poderão ser feitas diretamente pelos artesãos.

A ideia da startup nasceu com as experiências de Niemeyer que, em suas passagens por aldeias na Amazônia sempre recebia pedidos de indígenas para que levasse seu artesanato para vender no Rio de Janeiro, onde ele e Amanda vivem. Em algumas ocasiões, Amanda viajava com ele e se encantou pelos diversos trabalhos que conheceu das várias etnias, cada uma com suas culturas e tradições.

As peças, inicialmente apenas dos povos kayapó e ticuna, eram vendidas no ateliê de beleza de Amanda, e depois pela internet e lojas parceiras. Ela também exporta peças para lojas e museus da Suíça e Japão.

No ano passado a Tucum - nome de uma palmeira cujas folhas são usadas no artesanato - vendeu R$ 330 mil em cestaria, pulseiras, colares, cerâmicas, redes, instrumentos musicais e telas. Desse valor, 40% voltaram para os artesãos em pagamento pelos produtos.

"Desde que começamos, injetamos mais de R$ 1 milhão em artesanato e este ano, mesmo com a queda do movimento por causa da pandemia, compramos R$ 120 mil em peças", informa Amanda, que tem 38 anos e é atriz, estudou marketing e tem cursos de cabeleireira e maquiagem feitos nos EUA.

Além de vender as peças, a Tucum presta consultoria às comunidades indígenas em gestão comercial, melhoria de produtos e precificação. A intenção do negócio é também difundir os saberes de dezenas de povos indígenas e mostrar que há várias empresas pequenas trabalhando em prol da Amazônia e da economia local de forma inovadora.

"A geração de renda com seus próprios produtos gera autoestima e autonomia desses povos e mostra ao consumidor que é possível viver da floresta mantendo ela em pé", diz Amanda. "O artesanato, mais do que gerar renda, garante a manutenção do saber, do conhecimento, pois as peças trazem histórias e mitos dessa população."

Com o marketplace, os sócios da Tucum querem promover a autonomia dos artesãos. Só as comunidades com as quais eles trabalham têm perto de 3 mil artesãos, sendo 85% mulheres. O projeto, contudo, começa em forma piloto em setembro com três organizações que dão apoio a 31 aldeias de índios kayapó no sul do Pará (onde há 800 artesãos), outra de Rondônia que envolve várias etnias com 400 artesãs e uma terceira com os karajá de Tocantins, onde a cerâmica é reconhecida como patrimônio da humanidade pela Unesco. Um quarto grupo está para ser confirmado.

Com apoio das associações locais que têm computadores e internet, os artesãos terão aulas de capacitação sobre como gerir o negócio, entender como chega o pedido, como embalar para viagem, como enviar, etc. "A ideia era fazer os cursos no campo, mas com a covid tivemos de mudar o formato", diz Amanda. A Tucum vai fazer a mediação dos negócios e terá comissão de 25% a 40% sobre as vendas.

Após a capacitação, a plataforma entra no ar em outubro. Cada comunidade terá sua página exclusiva, com a capa contando sua história, quem são, de onde vêm, o que significa os desenhos do artesanato, mitos da floresta para "que os consumidores possam se aproximar dessa realidade", segundo Amanda.

A loja online será mantida até que as demais comunidades tenham estrutura para entrar no marketplace. Em setembro, a Tucum também inicia parceria para venda dos produtos da marca com a Casa Reviva, que em São Paulo têm lojas no bairro Pinheiros e nos shoppings Jardim Sul e VillaLobos, e no Rio de Janeiro, no Shopping Barra.

OESP, 23/08/2020, Economia, p. B3

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