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Artesanato molda cultura e promove inclusão da população indígena na economia solidária

A Crítica acritica.net
Autor: Edmir Conceição
23 de Ago de 2017

Da agricultura de subsistência ao manejo do gado no Pantanal, dos rituais de caça e pesca ao artesanato. As atividades dos índios em Mato Grosso do Sul têm significado econômico e ganham incentivos do poder público. A presença é tão forte que Campo Grande tem quatro "aldeias urbanas" - Água Bonita, Tarsila do Amaral, Darcy Ribeiro e Marçal de Souza.

A mais antiga, "Marçal de Souza", foi construída em casas de alvenaria, mas com arquitetura que remete às ocas, moradas primitivas. Na aldeia-bairro foi construído o Memorial Indígena, que por alguns anos mantinha expostas peças do artesanato terena.

O principal e maior parque de Campo Grande leva o nome de "Nações Indígenas" e ali está o Museu Dom Bosco, que já foi denominado como "Museu do Índio" e "Museu da História Natural".

Na entrada, os visitantes passam por um piso de vidro que reflete um cocar, símbolo maior do cacique, chefe de uma aldeia.

É por meio da produção artesanal, no entanto, que as principais etnias expressam seus costumes e moldam a cultura sul-mato-grossense. Cultura associada ao cultivo de frutas, como a manga orgânica e a guavira, palmito amargo (guariroba), milho, maxixe, pimentas, pequi, macaúba, carandá e fibra de buriti, uma das matérias-primas usadas na confecção de utensílios e adornos.

Com uma das maiores populações indígenas, Mato Grosso do Sul tem larga produção de artesanato. Inclusive com peças e instrumentos tombados como patrimônios imateriais - Viola do Cocho, a cerâmica dos Terena, dos Kadiwéu e dos Kinikinawa. Esta etnia, como a Guaicuru, porém, não está entre as seis principais nações.

Além de habilidade na agricultura, os Terena são bons artesãos. As aldeias mais próximas dos centros urbanos abastecem as feiras com arroz, feijão de corda, maxixe, mandioca e milho, alimentos que formam a base de sua dieta alimentar.

Em Campo Grande eles expõem e vendem seus produtos ao lado do Mercadão Municipal. Anualmente participam de concorrida exposição.

Os terena se destacam na arte cerâmica, que tem como característica principal o avermelhado polido e o grafismo com padrões de sua cultura, com motivos naturalistas ou abstratos. A alternativa atual do artesanato terena, como meio de subsistência, se dá, principalmente, através do barro, da palha, da tecelagem - atividades que representam um nítido resgate de sua arte ancestral indígena.

A cerâmica é trabalho predominantemente feminino e algumas regras devem ser seguidas pelas mulheres. Em dia que se faz cerâmica não se vai para a cozinha, pois acredita-se que o sal é inimigo do barro. Também não trabalham quando estão menstruadas.

Aos homens cabem, por tradição na maioria das nações indígenas, somente o trabalho de extrair o barro e processar a queima, tarefas que exigem maior vigor físico. As peças são modeladas manualmente com a técnica de roletes (cobrinhas).

Os padrões dos grafismos usados pelos Terena são basicamente o estilo floral, pontilhados, tracejados, espiralados e ondulados. Eles produzem peças utilitárias e decorativas: vasos, bilhas, potes, jarros, animais da região pantaneira - cobras, sapos, jacarés -, além de cachimbos, instrumentos musicais e variados adornos.

O acabamento das peças é feito com ferramentas rudimentares: seixos rolados, espátulas e ossos. O barro é preparado misturando aditivos para regular a plasticidade: pó de cerâmica amassado e peneirado, conchas trituradas e cinzas de vegetais. Numa fase anterior são retirados da argila resíduos como restos de vegetais e pedras.

As queimas são feitas em fogueiras a céu aberto ou em rudimentares fornos, usando lenha como combustão. Os indígenas verificam o estado do ciclo da queima tilintando com um pedaço de taquara nas peças. Através do som obtido constatam o estágio da cozedura.

Cerâmica Kadiwéu - Concentrados na Serra da Bodoquena e em Miranda, onde começa o Pantanal, os kadiwéu vivem basicamente do manejo de gado, cultivo de subsistência e produção de artesanato. Usam o fogo para as duas atividades.

As principais fontes de renda provêm do artesanato e do gado. Apesar de cerâmica ser a principal atividade de artesanato, os kadwéu desenvolvem também peças para decoração, produtos no traçado de palha, na tecelagem de cintas de algodão e na confecção de colares. Peças também largamente consumidas nas cidades.

Os kadiwéu convivem com uma rica fauna. Dentre as espécies comuns nas áreas habitadas pelos índios destacam-se a arara-azul, arara-vermelha e canindé, gavião real, urubu-rei, raposa, lobinho, lobo guará, jaguatirica, suçuarana, onça pintada, paca, capivara, cutia, anta, queixada e cateto.

A cerâmica kadiwéu se destaca em dois estilos diferentes. Há os padrões geométricos, abstratos, usados principalmente na pintura decorativa, e o estilo figurativo, no qual geralmente há a intenção de relatar algum acontecimento importante para a tribo.

Os mais apreciados são os vasos com a geometria característica. Usam em seus trabalhos argilas de diversas cores: preta, branca, vermelha e amarela. Com algumas delas fazem engobes para serem usados na decoração das peças, visando a obtenção de cores contrastantes e realces pictográficos. Na decoração das peças usam o urucum para obter a cor vermelha e o genipapo para produzir a tinta preta, mesmos produtos usados para pintar o corpo nos rituais.

Outras etnias - Os kinikinawa desenvolvem também um rico artesanato em cerâmica. Sua característica principal é a maior utilização da argila, tornando os objetos mais espessos e pesados.

Eles produzem ainda artesanatos em cestaria, tecelagem, adereços, colares e pulseiras de semente de amoreira, pindo (palmeira considera sagrada pelos guaicurus) e cocares de pena de galinha e pássaros da região.

Já os kaiowá-guarani desenvolvem em seu artesanato principalmente o arco e flecha, cestas de palha cipó imbé e colonião, penachos, entre outros materiais e utensílios.

Os kaiowá se concentram na maior Reserva Indígena do estado, em Dourados, mas há comunidades Kaiowá-Guarani (se grafa também Guarani-Caiuá) espalhadas por toda fronteira sul.

As Nações indígenas de Mato Grosso do Sul

Ofayé Xavante - Donos de um território que ia do rio Sucuriú até as nascentes dos rios Vacarias e Ivinhema, com mais de cinco mil índios, a nação Ofaié Xavante se resume hoje a 50 pessoas, em uma reserva no município de Brasilândia.

Kadiwéu - Durante centenas de anos dominaram uma extensão do Rio Paraguai e São Lourenço, enfrentando os portugueses e espanhóis que se aventuravam pelo Pantanal. Habitam os aterros próximos às baías Uberaba, Gaiva e Mandioré.

Guató - Os guató, conhecidos como uma grande nação de canoeiros, conseguiram recuperar nos últimos anos uma pequena parte de seu território com a demarcação da Ilha Insua ou Bela Vista. Agora confinados na própria cultura, isolados, porém semi-urbanizados na Aldeia Uberaba, a 350 quilômetros de Corumbá, no coração do Pantanal.
Guarani - Remanescentes dos ervais da fronteira com o Paraguai e com uma área superior a dois milhões de hectares, a nação guarani, do tronco tupi, tem sua população dividida em 22 pequenas áreas em 16 municípios no sul do Estado.

Kaiowá - Eles vivem na região sul do Estado e no passado eram milhares ocupando 40% do território de Mato Grosso do Sul. Pertencem ao tronco linguístico tupi e é um dos únicos grupos indígenas que tem noção de seu território.

Terena - Agricultores, os terena estão concentrados na região noroeste do Estado e com grandes levas nas aldeias urbanas de Campo Grande. Pertencem ao tronco linguístico Aruak. Foram os últimos a entrar na Guerra do Paraguai e pode ser este o motivo de não terem sido totalmente dizimados.

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