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Arte na mão reafirma raízes indígenas

Diário do Nordeste (Fortaleza - CE) - www.diariodonordeste.verdesmares.com.br
Autor: Melquiades Júnior
17 de Ago de 2015

Quando começaram a colocar cercas para dizer "aqui não é de índio", a parte da natureza que sobrou tornou-se instrumento de luta. Como quem talha uma arma para a guerra, dona Maria José Vicente, índia Pitaguary, caminhou até a parte mais profunda da floresta e retirou palhas de buriti. Estimulados pelo Cacique Daniel, os homens pegaram pedaços de madeira e também saíram abrindo frutos das florestas até encontrar as sementes.

As mãos têm cascas grossas, de quem pegou cedo na enxada, mas delicadas, separando sementes, ou talhando o anel de tucum, enquanto "Mazé" enlaça fibras na mão como se dançassem o toré, ritual sagrado dos índios. Do entrançado, que parece o movimento dos índios para lá e para cá na dança, ou na vida, forma-se um colar. A outra semelhança entre dança e artesanato é que foram feitos com alegria.
Anéis de madeira, colares de sementes coloridas, tapetes de "bem-vindo" com a fibra que antes só balançava ao vento e objetos talhados que reproduzem o cotidiano da comunidade são mais que anéis, colares e tapetes.

Para os índios, artesanato é fonte de sobrevivência e reafirmação das identidades. Para desatar o nó da exclusão, homens e mulheres fazem, com as mãos, laços de resistência. Nunca é só artesanato.

Enquanto o maior desafio indígena é o reconhecimento - com isso, todo o resto vem- coube aos mais velhos ensinar os jovens a lutar, o mesmo que fazer utensílios domésticos e objetos de decoração para residências de pessoas que, sendo ou não índias, estarão dando espaço para a reafirmação da existência de um povo. Vários: em todo o Ceará são reconhecidas pelo menos 16 etnias, todas com diversas expressões culturais e sociais. Assim nasceu o projeto "Raízes Indígenas". Os mestres transmitem os saberes e fazeres à juventude em oficinas que culminam em feiras livres nas cidades para a venda do artesanato.

Coordenado pelo Centro de Defesa e Promoção dos Direitos humanos da Arquidiocese de Fortaleza (CDPDH) e patrocinado pela Petrobras, o projeto quer fortalecer a capacidade de gestão das organizações de quatro grupos étnicos: Tapeba, Pitaguary, Kanindé de Aratuba e Jenipapo-Kanindé. "Criamos grupos empreendedores de economia solidária, implantando fundos rotativos nestas comunidades e, então, realizamos eventos para exposição e comercialização do artesanato", explica Weibe Tapeba, coordenador do projeto e uma das principais lideranças jovens dos índios do Nordeste.

A feira maior e mais recente deu-se no dia 2 de agosto, no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, em Fortaleza. Preá, dos Jenipapo-Kanindé, município de Aquiraz, não parava de atender clientes encantadas com os acessórios feitos de elementos da natureza, ofertado "pelos encantados da floresta".

Mais Informações:

Projeto Raízes Indígenas

Tapeba, Tremembé, Kanindé e Jenipapo-Kanindé
Ipece: Av. Barão de Studart, 505 - Meireles, Fortaleza - CE

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