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Arte indígena amazônica na terra da realeza

A Crítica-Manaus-AM
Autor: Ivânia Vieira
03 de Fev de 2002

Ingleses e turistas em visita a Londres, Inglaterra, estão tendo a oportunidade de conhecer produtos do artesanato indígena do Amazonas. Mais de mil peças produzidas pelos índios ticuna, baniwa, sateré-mawê (tais como cestarias, anéis, colares, bolsas, esculturas e quadros), encontram-se em exposição no British Museum Company, em Bloomsbury St. A mostra é uma entre várias ações que as organizações indígenas da Amazônia desenvolvem dentro de um amplo projeto para garantir a sustentabilidade econômica desses povos e promover o resgate da diversidade cultural que representam.

O que os ingleses estão vendo está à disposição dos que vivem em Manaus ou visitam a cidade, no Centro de Produção e Cultura Indígena Yakinõ, na rua Bernardo Ramos, 60, Centro, onde um acervo de aproximadamente 5 mil peças 'sintetizam a vasta produção artesanal dos índios amazônicos. O Yakinõ (na língua Hixcariana significa mutirão), está instalado em Manaus há pouco mais de dois anos e deverá ser transformado, em breve, em fundação, modelo que permitirá à Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), ao qual está vinculado, ampliar as formas de atuação e as fontes de recursos financeiros necessários à manutenção do espaço.

Ismael Pedrosa Moreira, 38, responsável pela área cultural do Centro Yakinõ, diz que a construção de um núcleo de referência da produção artesanal indígena em Manaus vem sendo discutida há bastante tempo como um dos caminhos para melhorar a qualidade de vida nas aldeias. "Várias das comunidades que produzem essas peças estavam sendo envolvidas pelos atravessadores que, quase sempre compravam os produtos por um preço muito baixo para, depois, na cidade, vender três/cinco vezes mais alto". O processo de articulação entre diferentes povos e, nele, a compreensão de que essa arte deve não apenas gerar dinheiro às organizações produtoras, mas sobretudo retomar, por parte dos mais jovens, valores culturais nela impressos é a grande tarefa que o Yakinõ deverá realizar, diz Ismael.

Para Ismael Moreira, um índio tariano dedicado a estudar a simbologia de desenhos indígenas, o desafio imposto às comunidades é o de não produzir tendo como objetivo único vender. "Pelo contrário, devemos fazer também para usar em nossas casas, como algo bonito e com significado singular, na medida em que vamos reaprendendo a ler cada traço colocado num cesto de arumã, cada desenho, o porquê de uns serem tão fechados e outros com muitos espaços abertos", cita. Ismael tem dois trabalhos publicados, em Manaus, um com apoio financeiro da Secretaria Estadual de Cultura (SEC), sobre a mitologia tariana. Seu interesse pelo tema motivou a Coiab a lhe entregar tarefa de organizar a parte cultural do Yakinõ.

Há algum tempo o jovem pesquisa o uso da fibra de arumã pelos baniwas, da região do Alto Rio Negro, e os ticunas, do Alto Solimões, na confecção de peças como peneiras, balaios, tipiti, vasos, porta-plantas e outros tantos pequenos objetos. Ismael diz que identificou cinco espécies da árvores arumã e mais de 200 diferentes desenhos. "São milhares e cada um representando rituais, plantas, peixes, aves", enumera.

"A cestaria é um dos segmentos que nos revela dados fantásticos sobre a concepção dessas peças, brilhantes, opacos, com ou sem desenhos, com ou sem tampa, mais fechados ou mais abertos", diz Ismael acrescentando que tais diferenças, ignoradas pelo mundo branco que costuma generalizar como "artesanato indígena", são enormes e têm a ver com a cultura de cada povo. "Somos índios, mas entre os povos indígenas existem diferenças de língua, de forma de organização e isso não pode ser ignorado".

Para Ismael Tariano, a futura Fundação Yakinõ vai contribuir para reafirmar tais diferenças e trabalhá-las como elementos de riqueza da diversidade cultural, aliando-os a projetos de sustentabilidade econômica.

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