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Arrozeiros ainda usam terras arrendadas

Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/fbv/noticia.php?id=81754
Autor: Andrezza Trajano
10 de Mar de 2010

Quase um ano após serem retirados da terra indígena Raposa Serra do Sol, rizicultores que plantavam na região ainda não encontraram terras desocupadas compatíveis para o cultivo do grão no Estado nem tiveram autorização para plantar na Guiana.

A saída continua sendo arrendar terras, diminuir a produção e lucrar menos. Metade da produção de arroz de Roraima era cultivada na reserva. "Se houvesse aérea disponível aqui fora, recuperávamo-nos. Estamos plantando em 100% de área arrendada. O Quartiero [rizicultor] está parado, e outros produtores menores quebraram e saíram da atividade", diz o presidente da associação dos arrozeiros, Nelson Itikawa.

Segundo ele, o investimento em área arrendada "leva" quase metade dos lucros. "Se produzo 100 sacas, só pago o arrendador. Se produzo 130 sacas, tenho um pequeno lucro. Se não produzo nada, ainda assim pago pelo arrendamento", observou.

Itikawa disse que os arrozeiros ainda aguardam um acordo binacional para que possam produzir na Guiana, que tem solo similar ao da Raposa Serra do Sol. "Nossos políticos ficaram de ver a questão junto ao Itamaraty, mas até agora não sabemos de nada. Mas se oficializarem o negócio, vamos para lá [Guiana]", disse.

O secretário de Agricultura, Eugênio Thomé, afirmou que a situação dos arrozeiros será discutida na Guiana durante o evento que está sendo organizado pelo Sebrae naquele país. Inclusive, uma minuta está sendo produzida pela bancada federal de Roraima para ser enviada ao Itamaraty, solicitando o acordo entre os dois países para o cultivo de arroz.

O país vizinho é divido em nove regiões, sendo a nona, onde os produtores brasileiros querem plantar arroz, soja e milho, destinada historicamente à agricultura de grande escala. A terra não tem título definitivo, pertence ao governo. A concessão de uso é de até 99 anos.

A região pretendida pelos rizicultores fica na fazenda Pirara, inserida na região nove, que tem cerca de 75 mil hectares. A propriedade fica a 20 quilômetros de Bonfim, na fronteira entre os dois países.

COMITIVA - Ontem, a comitiva de Roraima que estava em Caracas, na Venezuela, para viabilizar a importação de calcário e outros insumos para produção de soja, desembarcou em Puerto Ordaz, onde há uma fábrica estatizada de processamento do produto.

A comitiva, liderada pelo deputado federal Márcio Junqueira (DEM), iria se reunir ao final da tarde com o governador do estado de Bolívar, Francisco Rangel, para discutir a questão. A ideia é que o calcário já saia processado de lá com destino a Roraima e a custo acessível.

A negociação com o governador é intermediada pelo encarregado de negócios da embaixada do Brasil na Venezuela, Rafael Vital. "Estes entendimentos são um embrião dos trabalhos que serão estabelecidos entre Roraima e o governo de Bolívar. Durante a visita do presidente venezuelano Hugo Chávez a Brasília, no dia 28 de abril, um grande acordo bilateral será firmado, alavancando a agricultura do Estado", disse Vital à Folha, por telefone.

Índios da Guiana mostram preocupação com rizicultores

Segundo o Conselho Indígena de Roraima (CIR), dois representantes de nove etnias da Guiana, na fronteira nordeste de Roraima, participaram da 39ª Assembleia Geral dos Povos Indígenas, que encerrou ontem, na comunidade do Araçá, na região do Amajari.

Uma das principais preocupações apontadas pelos líderes guianenses, tuxaua Mike Williams e Zacharias Norman, é sobre a possibilidade de rizicultores roraimenses irem plantar em seu país, em uma área próxima às terras indígenas.

Eles foram à assembleia para conhecer a luta dos índios pela posse da Raposa Serra do Sol, inclusive, quanto à retirada dos rizicultores da região. Mike Williams lembrou que o coordenador-geral do CIR, Dionito José de Souza, já esteve na Guiana no mês passado para falar do enfrentamento com os arrozeiros e conhecer a realidade indígena do outro lado da fronteira.

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