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Áreas de proteção nas cidades contêm calor e protegem biodiversidade, mostra estudo

O Globo - http://oglobo.globo.com/
Autor: Renato Grandelle
21 de Set de 2015

Vista de cima, uma cidade grande parece um paliteiro. O amontoado caótico de prédios enfeia a paisagem e diminui a qualidade de vida dos moradores. Uma área encravada ali com natureza intocável pode fazer diferença. Além das unidades de conservação estaduais e federais - normalmente mais ostensivas e facilmente localizadas no mapa -, há as áreas de proteção municipais. Menores e, até então, pouco estudadas, elas foram alvo de um levantamento da Fundação SOS Mata Atlântica, que mostrou como essas regiões de natureza protegida contribuem para conter as ilhas de calor, proteger a biodiversidade e preservar o abastecimento de água nas cidades.

A ONG estudou 730 unidades de conservação geridas pela prefeitura de 367 municípios - 11% de todos onde há vegetação de Mata Atlântica. A maioria das áreas protegidas (81%) está localizada em regiões urbanas ou periféricas, enquanto 19% foram instaladas em ambientes rurais. De acordo com o levantamento, os cinco principais motivos para criação das unidades são a proteção da paisagem natural, o uso público para recreação, a educação ambiental, o desenvolvimento de pesquisas científicas e a proteção de recursos hídricos para o abastecimento das cidades.

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Sua distribuição no mapa é um retrato de como a Mata Atlântica está fragmentada. Das unidades de proteção integral, 95% têm até dez quilômetros quadrados. Apenas 19 passam desta marca.

INÉRCIA DOS ESTADOS E DA UNIÃO

Pesquisador da SOS Mata Atlântica, Luiz Paulo Pinto destaca que, diante da inércia dos estados e do governo federal, os municípios devem assumir a proteção da cobertura remanescente do bioma.

- Vemos poucas unidades de conservação estaduais e federais sendo criadas - lamenta. - Considerando que 145 milhões de pessoas vivem no que restou da Mata Atlântica, qualquer alteração em sua área, como a criação de novas áreas protegidas, mexe com interesses. Os governos tentam evitar conflitos e, por isso, negligenciam os benefícios de proteger determinadas regiões, como os mananciais, importantes para garantir o fluxo e a quantidade de água que abastecerá o entorno. As prefeituras podem ter menos dificuldade em contornar essas polêmicas.

Com os dados do levantamento, os pesquisadores concluíram que a cobertura das unidades de conservação na Mata Atlântica é cerca de 17,5% maior do que se pensava, passando de 102,7 mil km² para 120,7 mil km².

Luiz Paulo Pinto pondera que o aumento da região abrigada pelas prefeituras não é sinônimo de ambiente imune a ameaças.

- Agora que conhecemos estas unidades de conservação, precisamos verificar a qualidade de seus serviços. Muitas delas já perderam parte da cobertura vegetal ou estão em um processo de contínua degradação, que impedirá seu retorno às condições ideais - explica. - A população também pressionará pela criação de espaços de lazer. Todos estão cansados de viver em ambientes estéreis, com excesso de concreto.

Nas metrópoles, os bairros vizinhos a unidades de conservação podem registrar temperaturas até dez graus Celsius menores do que as regiões mais distantes, atingidas pelo calor do asfalto e o crescimento desordenado da cidade. Além disso, as regiões protegidas, mesmo pequenas e no meio de uma cidade, conseguem manter parte da biodiversidade estadual. Os ambientalistas propõem a criação de um caminho livre - por exemplo, ao longo de córregos - entre as áreas verdes, para que espécies limitadas a pequenos espaços possam circular livremente.

Segundo o levantamento, "a avaliação preliminar da rede de unidades de conservação municipais apresenta um indicativo da importante contribuição desse setor na proteção de espécies raras, endêmicas e ameaçadas de extinção; na manutenção e no provimento dos serviços ambientais essenciais, como abastecimento de água para consumo humano; e na ampliação da conectividade da rede de proteção da biodiversidade em seus diferentes níveis administrativos, entre outros".

RIO TEM MAIS UNIDADES

O modelo mais popular de preservação adotado pelos municípios é o das Áreas de Proteção Ambiental (APAs), cada vez mais questionado devido ao esvaziamento generalizado no quadro de funcionários. Portanto, existe a possibilidade de que as unidades de conservação estabelecidas pelos municípios, embora abundantes, sofram das mesmas deficiências que as administradas pelos governos estaduais ou pela União.

Foram registradas áreas de conservação municipais em 14 dos 17 estados inseridos na Mata Atlântica. Rio, Minas Gerais e Paraná são, respetivamente, aqueles com o maior número de unidades protegidas pelas prefeituras. A ONG destaca sete por sua contribuição socioambiental. Duas estão no estado do Rio.

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O Parque Nacional Municipal Montanhas de Teresópolis, a maior unidade de conservação municipal de proteção integral da Mata Atlântica, assegura a manutenção de nascentes e corpos hídricos na Região Serrana. Na capital fluminense, o Monumento Natural Municipal dos Morros do Pão de Açúcar e da Urca, um bloco único de rocha, com 396 metros de altura, é reconhecido como um dos principais sítios geológicos mundiais.

Coordenadora de Áreas Verdes da Secretaria municipal de Meio Ambiente, Elaine Barbosa ressalta que a maior preocupação da prefeitura não é aumentar o número de unidades de conservação - atualmente, são 47.

- A cidade tem uma área significativa sob proteção ambiental. Além daquelas já conservadas, há outras tantas que passam por reflorestamento - assegura. - Atualmente, nossa prioridade é orientar os planos de manejo: descobrir como delimitar o tamanho dessas regiões, quem pode entrar e o que pode ser feito dentro delas por uma comunidade.

http://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/areas-de-protecao-na…

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