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Área reflorestada atrai 208 espécies de pássaros em Itu

OESP, Metrópole, p. A24
05 de Jun de 2016

Área reflorestada atrai 208 espécies de pássaros em Itu
Projeto experimental reconstitui Mata Atlântica em terreno antes ocupado por cafezal e pasto; recuperação ocorre desde 2007

Giovana Girardi

Nos primórdios era uma floresta, que foi derrubada para virar um cafezal, que depois foi coberto por pasto e hoje é uma floresta de novo. Ainda em processo de amadurecimento, verdade, mas seus benefícios já começam a ser sentidos: houve retorno da fauna e aumento da oferta de água nas nascentes do local. Esse é um resumo da história do Centro de Experimentos Florestais da SOS Mata Atlântica, em Itu, interior paulista.
Em pouco mais de oito anos de atividades de recuperação da vegetação, 200 espécies de aves nativas já voltaram. No Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado hoje, a história serve como exemplo dos desafios e também dos ganhos que o Brasil pode ter ao cumprir uma das metas assinadas no Acordo de Paris, a de restaurar 12 milhões de hectares de floresta. Este projeto destaca apenas os resultados para a conservação, mas as iniciativas podem ter também ganhos econômicos.
Foi o potencial hídrico que colocou a área de 524 hectares na mira do programa de restauração da ONG. Nos anos 1970,depois de décadas servindo como cafezal, o local foi comprado pela empresa Schincariol (hoje Brasil Kirin) por ter várias nascentes que poderiam servir a uma das fábricas, acerca de sete quilômetros dali.
Foram construídos reservatórios e poços, mas o solo foi quase todo coberto por pasto. Haviam restado só dois pequenos fragmentos de vegetação natural, que cobriam menos de 10% do terreno. Em 2004, começaram as conversas com a SOS Mata Atlântica para a recomposição da área. "Eles queriam proteger as nascentes. O negócio principal da empresa é água", conta o biólogo Rafael Bitante Fernandes, gerente de Restauração Florestal da ONG.
O local foi cedido para a criação do Centro de Experimentos Florestais. Ao lado de uma rodovia e cercada por pastagens e condomínios, a propriedade precisou de um intenso plantio de mudas para recuperar a cobertura florestal. Segundo Fernandes, de 2007, quando o projeto começou, até o fim de 2012, foram plantadas 720 mil mudas de 130 espécies diferentes. O custo ficou entre R$ 17,5 mil e R$ 22 mil por hectare.
Apesar de ainda estar crescendo e ganhando corpo, ali já existe uma "florestinha" que mudou a paisagem e já soma resultados marcantes. Um levantamento das aves feito em 2009 identificou que viviam ou passavam por ali 81 espécies associadas a ambientes aquáticos e a paisagens abertas. Em dezembro de2015, o número tinha saltado para 208.

Vida.
Começaram a aparecer espécies que preferem ambientes mais sombreados, afirma o ornitólogo Marcos Melo, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), que participou do estudo. "O centro já funciona como trampolim ecológico para aves que precisam de matas bem fechadas, como o gavião-de-cabeça-cinza (Leptodon cayanensis). Vimos que um adulto e um filhote ficaram alguns dias, se alimentaram e depois continuaram viagem", diz.
Também foram observadas duas espécies ameaçadas de extinção- acurica (Amazona amazonica), um tipo de papagaio, e a cabeça-seca (Mycteria americana), um tipo de cegonha, que praticamente já não são mais vistas no Estado de São Paulo - e 13 endêmicas da Mata Atlântica, como o barbudo-rajado (Malacoptila striata).
Sem seca. Outro ganho foi sobre os recursos hídricos: 19 nascentes voltaram a verter água. Segundo Fernandes, o volume de água superficial aumentou 5% e o subterrâneo, 20%. Ele conta que, durante a seca histórica que atingiu o Estado entre 2014 e 2015, o local praticamente não foi afetado porque as árvores deixam o ambiente mais resiliente. Uma parte da água serve para abastecer a fábrica, mas foi montado um esquema com bicas para que a população da cidade pudesse pegar água para uso emergencial. "Aqui não teve crise hídrica, ao contrário do que aconteceu na cidade de Itu. Minha casa ficou 19 dias sem água. A de um outro funcionário, 30 dias. A gente vinha tomar banho aqui", lembra.

Fazenda tem sistema de integração entre agricultura e mata
Método adotado em propriedade de Itirapina, no interior de SP, é pouco usado no País, apesar de ter uma linha de crédito

Além de restaurar 12 milhões de hectares de florestas, outro compromisso assumido pelo Brasil no âmbito do Acordo de Paris para a redução das emissões de gases de efeito estufa é a implementação de 5milhões de hectares de integração lavoura pecuária-floresta.
Esse tipo de projeto - apesar de ter uma linha de financiamento específica para ele, o plano Agricultura de Baixo Carbono (ABC) - é ainda novo e localizado no Brasil. Um dos desafios para atingir a meta é buscar escalonar essas experiências.
Para ajudar nessa tarefa, está sendo gestado um grupo de trabalho da sociedade civil chamado Verena, que procura casos no Brasil que possam servir como embriões do novo modelo de economia florestal. Um dos que estão na mira é o da Fazenda da Toca, do empresário Pedro Paulo Diniz, em Itirapina, no interior de São Paulo, que está fazendo a transição da agricultura orgânica para sistemas agroflorestais.
A Toca não tem pecuária, mas, em um primeiro momento, está integrando o cultivo do carro-chefe da fazenda - as frutas voltadas para produção de sucos - com banana e eucalipto. A ideia, mais para frente, é que outras espécies arbóreas sejam incorporadas e a maioria seja de plantas nativas.
A premissa é de que uma maior variedade de plantas consorciadas ajuda a reduzir doenças da agricultura e aumenta a produtividade, uma vez que protege o solo. Dos 2.300 hectares da fazenda, 33% são protegidos com vegetação nativa. Da área cultivada, 50 hectares foram convertidos para agrofloresta.
As plantas são cultivadas em um sistema que imita o funcionamento da natureza, com extratos de tamanho e tempos de crescimento diferentes, de modo que não haja competição e elas possam se ajudar.

À sombra.
Espécies de crescimento rápido, como o eucalipto, vêm primeiro e já começam a contribuir com o material orgânico que cai no solo e ajuda a manter a sua umidade. Depois vem a banana, que fornece sombra e nutrientes para a laranja. As árvores são postas em linhas, sobre as chamadas leiras, que são "camas" de material orgânico proveniente do capim que é plantado entre as leiras, e a biomassa (folhas, galhos, poda) das próprias árvores. Isso deixa o solo extremamente rico, o que contribui para o aumento da produtividade e reduz custos com insumos. "O sistema agroflorestal otimiza o orgânico. É ganha-ganha. É bom para quem produz, para quem consome e para o planeta", afirma Pedro Paulo Diniz. Ele explica que o grande desafio agora é estruturar o sistema para ser adotado em grande escala.
Uma das estratégias para isso foi desenvolver maquinários específicos, que estão sendo "exportados" para outros projetos. Uma máquina mais leve desenvolvida para andar nas entrelinhas e fazer a poda dos eucaliptos sem compactar o solo e produzir leiras de modo mais rápido está sendo fornecida para uma cooperativa de assentamentos rurais em Ribeirão Preto. Uma outra parceria está levando o modelo de agrofloresta para 3 mil famílias do Programa de Assentamento Sustentável do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia no Pará. / G.G

OESP, 05/06/2016, Metrópole, p. A24

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