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Área queimada no Brasil cresce 79% em 2024 e atinge território maior que o da Itália, mostra MapBiomas

O Globo - https://oglobo.globo.com/
22 de Jan de 2025

Área queimada no Brasil cresce 79% em 2024 e atinge território maior que o da Itália, mostra MapBiomas
Crescimento foi de 13,6 milhões de hectares na comparação com 2023, de acordo com o projeto que reúne pesquisadores no acompanhamento do uso do solo no país

Luis Felipe Azevedo

22/01/2025

A área devastada por queimadas no Brasil aumentou 79% em 2024 e superou os 30 milhões de hectares, segundo relatório da plataforma Monitor do Fogo do MapBiomas divulgado nesta quarta-feira. Foi a maior extensão atingida pelo fogo desde o início da série iniciada pelo projeto em 2019. A área é maior que o território da Itália.

O crescimento foi de 13,6 milhões de hectares na comparação com 2023, de acordo com o projeto que reúne pesquisadores no acompanhamento do uso do solo do território nacional. Dos 30,8 milhões de hectares queimados no ano passado, 73% foram de vegetação nativa, principalmente em formações florestais; estas, totalizaram 25% do território consumido. Entre as áreas de uso agropecuário, as pastagens aparecem à frente, com 6,7 milhões de hectares impactados.

O relatório do MapBiomas destaca que o crescimento do território queimado no Brasil está associado aos efeitos da seca que afetou grande parte do país, influenciado pelo fenômeno El Niño, entre 2023 e 2024. A baixa umidade tornou a vegetação mais vulnerável e suscetível ao fogo.

- Os dados mostram como funciona essa balança, que impacta na quantidade de fogo, entre as condições climáticas e a quantidade de fontes de ignição. Apesar da queda no desmatamento, que pode ser uma das principais fontes, 2024 foi disparado o ano que mais se queimou no país na série histórica iniciada em 2019 - destaca Ane Alencar, diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e coordenadora do MapBiomas Fogo.

Com 17,9 milhões de hectares incendiados no ano passado, a Amazônia foi o bioma brasileiro mais prejudicado. Mais da metade (58%) da área queimada no país fica na região, onde o MapBiomas registrou a maior extensão danificada em seis anos.

Ações humanas
A quantidade de terra atingida por incêndios na Amazônia em 2024 também superou o total de áreas atingidas pelo fogo em todo o país em 2023. No bioma, a formação florestal foi a vegetação nativa que mais sofreu com a destruição no ano passado: cerca de 6,8 milhões de hectares. Pastagens tiveram 5,8 milhões de hectares devastadas.

- O fogo na Amazônia não é um fenômeno natural e não faz parte de sua dinâmica ecológica. É um elemento introduzido por ações humanas. Esse recorde foi impulsionado por um regime de chuvas abaixo da média histórica - explica Felipe Martenexen, do MapBiomas Fogo.

No Cerrado, foram queimados 9,7 milhões de hectares entre janeiro e dezembro de 2024. Em 85% do território atingido no bioma, o fogo tomou conta de áreas de vegetação nativa (8,2 milhões de hectares), o equivalente a um crescimento de 47% em relação à média dos últimos seis anos.

- Historicamente, o Cerrado evoluiu com queimadas naturais, geralmente provocadas por raios durante a época de chuvas. O que temos observado, no entanto, é um aumento expressivo do fogo em períodos de seca, impulsionado por atividades humanas e intensificado pelas mudanças climática - explica Vera Arruda, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e da equipe do MapBiomas Fogo.

No Pantanal, o ápice da área queimada foi em agosto. A região teve 1,9 milhão de hectares impactados - um crescimento de 64% em relação à média dos seis últimos anos. O estrago só não superou a área queimada em 2020, quando as chamas consumiram 2,3 milhões de hectares.

A Mata Atlântica teve 1 milhão de hectares queimados, e 70% das áreas danificadas foram agropecuárias. O resultado foi maior do que a soma do território que sofreu com incêndios de 2019 a 2023. Cerca de 26% dos locais atingidos por incêndios ficam em territórios de campo alagado, formação florestal e formação campestre. Mais de 80% das queimadas foram entre agosto e setembro, quando plantações de cana-de-açúcar em São Paulo foram fortemente atingidas.

- Além dos prejuízos ambientais, como alteração na regulação do clima, manutenção do ciclo da água e qualidade do solo, são evidentes os danos econômicos e, principalmente, os danos para a saúde e bem-estar da população - diz Natalia Crusco, da equipe que acompanha a Mata Atlântica no MapBiomas.

O Pampa, no Sul, mostrou uma tendência inversa. A área queimada foi de 3,4 mil hectares, o menor índice na série histórica do projeto. Também houve redução na Caatinga, onde 330 mil hectares foram afetados em 2024 - uma diminuição de 47% em relação a 2023. A maior parte (81,8%) foi em formações de savana.

Pará lidera
O ranking de estados que mais sofreram com queimadas foi liderado pelo Pará, que sedia a COP30 este ano, com 7,3 milhões de hectares, ou 24% do total nacional. Aparecem em seguida o Mato Grosso e o Tocantins, com 6,8 milhões e 2,7 milhões de hectares, respectivamente. Os três estados juntos compreendem 55% da área atingida pelo fogo no país em 2024.

Entre os municípios com mais queimadas em 2024, São Felix do Xingu (PA) e Corumbá (MS) aparecem a frente, com 1,47 milhão de hectares e 841 mil hectares impactados, respectivamente, no ano passado.

- É preciso haver maior controle e transparência dos governos estaduais e federais sobre o uso das terras e licenciamento para uso do fogo pela agropecuária. Os impactos dessa devastação expõem a urgência de ações coordenadas e engajamento em todos os níveis para conter uma crise ambiental exacerbada por condições climáticas extremas, mas desencadeada pela ação humana como foi a do ano passado - aponta Alencar.

O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União Brasil), vetou na terça-feira integralmente um projeto de lei que muda os critérios de identificação de biomas para uso rural. O texto, que permitia a áreas antes classificadas como da Amazônia passarem a ser consideradas do Cerrado, havia sido aprovado com 15 votos favoráveis e 8 contrários na Assembleia Legislativa, na segunda semana de janeiro. Segundo o Observatório Socioambiental do Mato Grosso, mais de 9,6 milhões de hectares, quase 10% do estado, poderiam perder proteção ou a obrigação de restauração caso a medida entrasse em vigor.

https://oglobo.globo.com/brasil/meio-ambiente/noticia/2025/01/22/area-q…

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