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Área do Piritubão está contaminada

OESP, Metrópole, p. C1, C3
14 de Jul de 2010

Área do Piritubão está contaminada
Relatório da Cetesb aponta existência de metais pesados e solventes no terreno onde se cogita construir o estádio de abertura da Copa 2014

Diego Zanchetta

O terreno de Pirituba onde a cúpula da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) cogita construir o estádio de abertura da Copa de 2014, na zona norte de São Paulo, está interditado para obras. O motivo é uma contaminação por metais pesados no solo e lençol freático. O local passa por processo de "recuperação ambiental". É o que informa o último relatório da Companhia de Tecnologia Ambiental (Cetesb), divulgado em novembro, com a relação das áreas contaminadas no Estado.
Qualquer escavação na área ? localizada originalmente no número 8.223 da Avenida Raimundo Pereira de Magalhães e declarada de utilidade pública pela Prefeitura em 2009 ? está proibida pelo governo do Estado.
Ambientalistas que tiveram acesso ao relatório acreditam que a descontaminação da área levará ao menos três anos, o que poderia inviabilizar o projeto da nova arena e atrasar a construção do centro de convenções planejado pela Prefeitura. O poder municipal confirma a contaminação, mas diz que atinge apenas uma parte do terreno e poderá ser removida em 12 meses.
A Cetesb prometeu dar mais detalhes hoje sobre o perímetro contaminado na área, que pertence à Anastácio Empreendimentos, uma das empresas da Companhia City de Desenvolvimento. A área tem 4,9 milhões de metros quadrados, o equivalente a três Parques do Ibirapuera, e tinha como vizinhos, até o fim dos anos 1960, sedes de indústrias metalúrgicas e galpões de fabricantes de óleos graxos.
Segundo o relatório da Cetesb, existe a presença de solventes halogenados, como clorofórmio, no solo e em águas subterrâneas. A "fonte" de contaminação foi o descarte irregular de resíduos no espaço. Desde 2004, quando a Cetesb passou a divulgar a lista de áreas contaminadas na internet, o terreno em Pirituba é considerado um passivo ambiental paulistano. A cidade tem hoje 781 áreas contaminadas ? 70% são terrenos onde funcionavam postos de gasolina que faziam o armazenamento irregular de combustível.
Ambientalistas. O Movimento em Defesa do Pico do Jaraguá promete elaborar até o fim do mês ação civil pública contra qualquer intervenção no local. "Os estádios na Copa de 2006 e 2010 tiveram forte conotação ambiental. Não podemos ter um justamente em área contaminada. Se o lençol freático já foi atingido, como mostra a Cetesb, o passivo pode se espalhar rapidamente para outras áreas do bairro", afirmou Edson Domingues, coordenador da entidade. / Colaborou Rodrigo Brancatelli

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100714/not_imp580888,0.php

Bairro tem perfil industrial desde o século passado

A partir dos anos 1920, a construção da estrada de ferro da São Paulo Railway em Pirituba motivou a formação de um distrito industrial no bairro. Outra facilidade na região era a antiga estrada São Paulo-Campinas, atual Avenida Raimundo Pereira de Magalhães. Depois da Companhia Armour do Brasil, no início do século, foram instaladas no bairro várias indústrias fabricantes de borrachas e refinarias de combustíveis. Depois, a partir da década de 1950, com a abertura da Rodovia Anhanguera, indústrias automobilísticas e metalúrgicas também abriram sedes em Pirituba, que tinha 32 mil habitantes e hoje tem 170 mil. / D.Z.

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100714/not_imp580899,0.php

Prefeitura diz que limpeza de terreno demora um ano
'Não havia indústrias, o que ocorria era queima de pneus velhos', diz secretário; dona da área, Cia. City admite a contaminação

Diego Zanchetta

Responsável por escolher a área que foi declarada de utilidade pública em 2009 para a construção de um novo centro de convenções, o secretário de Controle Urbano de São Paulo, Orlando Almeida, informou ser possível fazer a descontaminação do terreno em um ano. "Não havia indústrias dentro da área. O que ocorria no local era a queima de pneus velhos", argumentou.
Almeida diz conhecer o passivo ambiental do terreno desde 2003, quando era perito do mercado imobiliário. Mas o secretário não soube estimar o tamanho da área contaminada. "Podem ser 2 mil metros ou 50 mil metros. Mas tenho a absoluta certeza de que (a contaminação) não atinge 1% de toda a área", calcula. "Em um caso como esse, você precisa remover toda a terra, numa altura de até 4 metros, dependendo do diagnóstico. Aí o problema pode ser resolvido. E, dependendo do orçamento, dá para resolver a contaminação em um ano."
O secretário disse ainda que o lençol freático só está contaminado, segundo a Cetesb, por causa da terra por cima. "O terreno é muito grande, dá para construir hotel, estádio, centro de convenções. E a capital precisa de uma arena para shows e eventos."
Na Cetesb, toda a área em questão está registrada num único endereço que, independentemente da parcela contaminada, está vetado para obras. Para ser liberada, é preciso que o órgão estadual aprove o processo de remoção de resíduos. Das 2.904 áreas contaminadas no Estado, segundo a lista de novembro, apenas 110 foram recuperadas e tiveram o uso liberado - 3,7%.
Almeida garante que descontaminar se tornou um processo simples na capital. "Você faz o processo de limpeza e torna a usá-lo. É a praxe, não tem segredo", completa o secretário.
Além da descontaminação, para construir o centro de convenções ou um estádio, a Prefeitura precisa fazer a desapropriação, cujo processo não tem previsão de início. Dona da maior parte do terreno, a Companhia City diz que ainda não foi procurada pelo governo. Se a empresa discordar do processo de desapropriação, o caso pode se arrastar na Justiça por até cinco anos.
Areia. Segundo a City, a área de Pirituba é monitorada ano a ano. Mas a empresa tem outra explicação para a contaminação: o passivo viria desde a década de 1960, por causa da areia usada em fundição de motor que era jogada no terreno por empresas da região. Ainda assim, a City afirma que não é toda a área em Pirituba que está contaminada - o projeto que a empresa apresentou para a região, de um grande condomínio de casas, não estaria em local contaminado.
Cronologia
13 de abril
O Estado obtém a informação de que o Estádio do Morumbi seria vetado para a Copa de 2014
14 de abril
O Estado revela que a construção de uma arena em Pirituba seria a alternativa
16 de junho
Anunciado, na África do Sul, o veto oficial ao Estádio do Morumbi

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100714/not_imp580905,0.php

OESP, 14/07/2010, Metrópole, p. C1, C3

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