FSP, Dinheiro, p. B12
29 de Jul de 2005
Área de soja deve cair até 7% na nova safra
Pela 1ª vez nos últimos dez anos, terreno plantado será reduzido; colheita pode ser recorde no período 2005/06
Alessandra Kianek
Da redação
As primeiras perspectivas para a próxima safra brasileira de soja trazem boas e más notícias. A boa é que a produção poderá ser recorde. E a ruim: é que, pela primeira vez nos últimos dez anos, a área plantada será reduzida.
Segundo as estimativas iniciais divulgadas ontem pelo Instituto FNP, a diminuição da área cultivada de soja pode chegar a 7%, para 21 milhões de hectares, contra 22,7 milhões na safra 2004/05.
Para Daniel Dias, analista de mercado e consultor do Instituto FNP, a redução acontece em razão da descapitalização do produtor. "O setor não tem dinheiro para continuar expandindo", diz ele.
A Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja) estima uma redução de área cultivada na safra 2005/06 de 4% a 5% em relação à safra deste ano.
Segundo o presidente da associação, Gustavo Gonçalves, o alto custo dos insumos é o principal fator da diminuição da área. Ele ainda acrescenta como fator negativo o fato de não estar havendo a abertura de novas fronteiras agrícolas, devido às normas mais rígidas contra o desmatamento.
Na opinião do presidente da Abrasem (Associação Brasileira de Sementes e Mudas), Iwao Miyamoto, como vontade de plantar não falta ao produtor, a questão é a viabilidade.O mercado de sementes ainda está parado, diz Miyamoto. Em safras passadas, nesta época do ano a comercialização estava a pleno vapor. Mas ele acredita que já na próxima semana as negociações devam engrenar.
Para o presidente da Abrasem, "o produtor está na expectativa de vários fatores: ajuda do governo de R$ 3 bilhões, prorrogação de prazos de pagamentos de dívidas e valorização do dólar".
O Instituto FNP estima que a produção brasileira de soja seja de 56,12 milhões de toneladas na safra 2005/06 -aumento de 7% sobre a safra 2004/05-, com ganho de produtividade de 15,2%, para 44,5 sacas por hectare.
Segundo o analista Dias, a queda da área no Paraná -o segundo maior Estado produtor da oleaginosa- irá acontecer porque muitos produtores substituirão a soja pelo milho, devido à maior rentabilidade obtida com o milho. Em São Paulo, áreas de cana-de-açúcar também devem tomar o lugar de lavouras de soja.
Já em Mato Grosso, a área também irá cair, mas em menor intensidade, "devido à ajuda do governo federal de prorrogar dívidas de custeio. No entanto, faltará crédito para repetir a mesma área da safra passada", afirma Dias.
No Rio Grande do Sul -que sofreu perda de cerca de 80% da lavoura devido à estiagem na safra 2004/05-, a descapitalização do produtor é o principal fator para a queda da área plantada.
FSP, 29/07/2005 , Dinheiro, p. B12
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