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Aranha formiga e sapo morcego: os 'segredos' revelados da Amazônia

G1 - http://g1.globo.com/
Autor: Gabriela Brumatti
14 de Mai de 2019

Aranha formiga e sapo morcego: os 'segredos' revelados da Amazônia
14/05/2019

Por *Gabriela Brumatti, Terra da Gente

Animais são algumas das descobertas de pesquisadores na região entre 2014 e 2018.

Mais de 301 espécies foram descobertas e registradas nos últimos quatro anos, no Brasil, por pesquisadores e colaboradores do Museu Paraense Emílio Goeldi. O número representa uma frequência de 60 espécies novas a cada ano, cinco a cada mês ou uma por semana. O resultado é fruto do trabalho de pesquisadores que se aventuraram em catalogar, mapear e descrever a biodiversidade amazônica.

Um desses profissionais é Pedro Peloso, biólogo e pesquisador do Museu Goeldi, uma instituição com mais de 150 anos vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações do Brasil, localizada em Belém (PA) e responsável por organizar esse processo de descobertas.

Um dos registros importantes que Peloso presenciou foi o do "sapo-morcego". A espécie chamou atenção dos observadores pela habilidade especial de se comunicar por meio de cantos de alta frequência. O estilo agudo e potente do som fez os pesquisadores se lembrarem da vocalização de um morcego.

Fãs de rock'n'roll, os cientistas presentes na descoberta decidiram homenagear o "pai do Heavy Metal", Ozzy Osbourne, que ficou marcado por arrancar, com uma mordida, a cabeça de um morcego atirado no palco de um show. A nova espécie recebeu, então, o nome científico de Dendropsophus ozzyi e, até o momento, só é conhecida no Brasil.

Outra descoberta feita durante esse período foi a da Myrmecium nogueirai, uma das 141 novas espécies de aracnídeos catalogadas entre 2014 e 2018. O diferencial dela está no visual: com aparência de formiga, a aranha utiliza da vantagem do disfarce para se passar como inofensiva e conseguir se aproximar de presas.

O fenômeno, conhecido como mimetismo, pode ocorrer quando uma espécie se assemelha a outra pela aparência e costumes, ou até pela semelhança ao ambiente que vive, para não ser encontrada. O desafio de realizar novos flagrantes para a biodiversidade também é dificultado por esses obstáculos na visualização.

No caso da descoberta da bióloga Ana Prudente, porém, os entraves foram outros. "As espécies que estou descrevendo estavam, até então, misturadas com espécies semelhantes na morfologia", completa a pesquisadora.

A mais nova espécie de cobra coral foi observada e catalogada por um grupo do qual fazia parte. "Para qualquer pesquisador a descoberta e descrição de uma nova espécie é extremamente satisfatório e desafiador", destaca.

O biólogo Ulisses Galatti, também pesquisador do Museu, afirma que a catalogação de novas espécies permite, por exemplo, distinguir dois tipos de serpentes e compreender que vão desenvolver venenos de composições diferentes. "Isso implica que, tanto a produção do soro para o tratamento da picada como as pesquisas para a produção de medicamentos, devem considerar que se tratam de duas espécies distintas".

Tempos difíceis

De acordo com Peloso, diversas espécies de plantas e animais brasileiros ainda permanecem "desconhecidas" e a Amazônia conserva áreas completamente inexploradas. "Sem dúvida nenhuma a maior dificuldade é a falta de recursos financeiros e incentivos a esse tipo de pesquisa, considerada básica. Os cortes no investimento em educação, ciência e tecnologia, nos últimos anos, foram enormes", explica.

Galatti sugere que o maior entrave que impede o conhecimento sobre a biodiversidade tem sido a falta de especialistas e de centros de pesquisas sobre fauna, flora e microrganismos. "A Amazônia ocupa mais de 60% do território brasileiro, mas o número de doutores atuando na região é menor do que o do estado de São Paulo", contextualiza.

Ele ainda destaca que a descrição de uma espécie e sua diferenciação compreendem à base de todo o conhecimento que se pode acumular sobre ela. Prudente, ainda complementa: "Na prática, além do incremento no conhecimento, esses dados sobre diversidade são importantes para medidas de conservação de grupos ou de ambientes".

*Supervisionado por Fábio Gallacci

https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/2019/05/…

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