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Aracruz sob fogo cruzado

Jornal do Brasil, Economia, p. A17 (Rio de Janeiro - RJ)
Autor: Alberto Komatsu
11 de Ago de 2002

Empresa inaugura fábrica em meio a protestos de índios, produtores rurais e ambientalistas

Do lado de fora da festa de inauguração da terceira unidade de produção de celulose da Aracruz, realizada na semana passada, cerca de 700 pessoas gritavam palavras de ordem contra a empresa. Eram representantes de comunidades indígenas, de quilombos, de organizações não-governamentais, da Igreja católica, do Movimento dos Sem Terra e ambientalistas, entre outros, que formam a chamada Rede Alerta Contra o Deserto Verde. Não estavam indignadas por não terem sido convidadas para a cerimônia, que contou com a presença do presidente Fernando Henrique Cardoso, além de autoridades e empresários. Os manifestantes estavam ali para reafirmar uma luta que vem sendo travada há anos. Os índios reclamam terras; os pescadores e as ONGs denunciam a degradação do meio ambiente; e pequenos produtores buscam solução para o êxodo rural que o eucalipto plantado pela Aracruz teria causado.
De acordo com Fábio Martins Villas, coordenador do Conselho Indigenista Missionário do Espírito Santo, 10.511 hectares de terras que são hoje da Aracruz pertencem originalmente aos índios. Em 1997, a Fundação Nacional do Índio identificou 18.070 hectares que seriam de propriedade das comunidades indígenas. Mas, em 1998, o Ministério da Justiça só reconheceu 7.559 hectares para os índios. ''Queremos a terra de volta. Antes da Aracruz chegar (fim dos anos 60) aqui era cheio de mata, de liberdade. Em 1979 houve desmatamento e depois secou tudo por causa do eucalipto'', diz o cacique da tribo Tupinikim e chefe da Comunidade Pau Brasil, Antonio dos Santos, mais conhecido como Antonino.

Mas os índios que vivem na região (são seis comunidades, com cerca de 1.800 moradores ao todo) não reivindicam só terras. O cacique da Comunidade Pau Brasil, onde vivem cerca de 70 famílias, reclama que o repasse de dinheiro da Aracruz pelo uso das terras indígenas e para programas de agricultura é insuficiente. A reclamação foi feita mesmo após um acordo firmado na semana passada, entre a empresa e representantes de cinco comunidades indígenas da região, que garantiu um acréscimo de R$ 400 mil por ano aos R$ 800 mil que já eram pagos, desde 1998. Ou seja, os índios passaram a ter uma receita anual de R$ 1,2 milhão. ''O acordo não foi satisfatório. A comunidade vai crescendo e o dinheiro vai diminuindo'', diz Antonino.

O diretor Institucional e de Meio Ambiente da Aracruz, Carlos Alberto Roxo, considera o assunto encerrado. Para ele, quem falar após o acordo ''estará falando em nome próprio e não da comunidade indígena''. Além disso, lembra que a empresa bancará 35 bolsas de estudo para os índios cursarem faculdade. Sobre as terras reivindicadas, Roxo afirma que tudo foi acertado entre a empresa, os próprios índios e o Ministério da Justiça.

O presidente da Associação Indígena Tupinikim-Guarani, Evaldo Santana Almeida, no entanto, reconhece que o acordo feito com a Aracruz ''não fez a vontade de toda a comunidade''. Segundo ele, há quatro anos estava sendo reivindicado o aumento dos repasses.

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