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Aquecimento mata recifes de coral

FSP, The New York Times, p. 1-2
16 de Abr de 2016

Aquecimento mata recifes de coral
Onda de calor mata incubadora marinha

Michelle Innis

A OCEANÓGRAFA KIM Cobb, do Georgia Institute of Technology, já previa que os corais estivessem danificados quando mergulhou nas águas ao largo da ilha de Kiritimati, atol remoto perto do centro do oceano Pacífico. Mesmo assim, ficou chocada com o que viu quando desceu dez metros, até o topo de uma protuberância de coral.
"O recife inteiro está coberto de uma espécie de felpa marrom avermelhada", disse Cobb. "Parece coisa de outro mundo. São algas que cobriram o coral morto. Foi devastador."
Os danos em Kiritimati fazem parte de um processo maciço de branqueamento de recifes de coral em todo o mundo, o terceiro desse tipo já registrado e possivelmente o pior. Cientistas acreditam que o calor decorrente de vários eventos climáticos, incluindo o El Niño, pôs em risco mais de um terço dos recifes de coral do mundo.
Muitos talvez nunca se recuperem.
Os recifes de coral são incubadoras cruciais do ecossistema oceânico, garantindo alimento e abrigo a um quarto de todas as espécies marinhas e possibilitando a existência de populações de peixes que alimentam mais de 1 bilhão de pessoas.
Eles são compostos de milhões de animais minúsculos, chamados pólipos, que formam relações simbióticas com as algas, que, por sua vez, captam luz solar e dióxido de carbono para produzir açúcares que alimentamos pólipos.
Estimados30milhõesdepescadoresdepequenaescala dependem dos recifes para sua sobrevivência. "Uma crise planetária está se aproximando, e nós estamos enfiando a cabeça na areia", disse Justin Marshall, da entidade Coral Watch da Universidade de Queensland, na Austrália.
O branqueamento ocorre quando calor e luz solar fortes provocam um descontrole no metabolismo das algas - que conferem aos recifes de coral suas cores brilhantes e sua energia -, levando-as a produzir toxinas. Os pólipos recuam. Se a temperatura cai, os corais conseguem se recuperar, mas corais desnudos permanecem vulneráveis a doenças. Quando o calor se intensifica, eles morrem por falta de alimento.
Recifes danificados ou moribundos foram encontrados desde a ilha de Reunião, ao largo da costa de Madagascar, até East Flores, na Indonésia, e de Guame Havaí, no Pacífico, ao arquipélago de Florida Keys, no Atlântico.
O maior processo de branqueamento, na Grande Barreira de Coral australiana, foi confirmado no mês passado. Em uma investigação de 520 recifes que compõem a seção norte da Grande Barreira de Coral, cientistas da Força-Tarefa Nacional australiana sobre o Branqueamento de Coral encontraram apenas quatro recifes que não mostravam sinais de branqueamento. Quase mil quilômetros de recifes tinham sofrido branqueamento importante. Em pesquisas posteriores, cientistas que mergulharam nos recifes disseram que metade dos corais que viram tinham morrido.
Terry Hughes, do Centro de Excelência em Estudos de Recifes de coral, da Universidade James Cook, em Queensland, avisou que ainda mais corais vão morrer se a água não esfriarem pouco tempo.
Para cientistas, o branqueamento global decorre de uma confluência de eventos, cada um dos quais elevou a temperatura das águas, que já estavam mais quentes devido à mudança climática.
No Atlântico Norte, uma célula forte de alta pressão bloqueou o fluxo normal de ar polar para o sul em 2013, desencadeando o primeiro de três invernos consecutivos mais quentes que o normal que se estenderam ao sul até o Caribe.
Uma grande onda de calor submarina formou-se no nordeste do Pacífico em2014 e desde então se estendeu pela costa oeste da América do Norte, da Baixa Califórnia até o mar de Bering. Apelidada de The Blob, ou a Mancha, ela é dois graus centígrados mais quente que as águas em volta e é responsabilizada por vários fenômenos incomuns, incluindo o encalhamento de leões marinhos na Califórnia e a presença de atum-bonito tropical ao largo do Alasca.
Então chegou 2015, como mais forte El Niño em cem anos. O fenômeno espalhou o calor pelo Pacífico tropical e sul, branqueando recifes de Kiritimati à Indonésia, e pelo oceano Índico, de Reunião à Tanzânia, na costa leste da África.
Recifes que levam séculos para se formar podem ser destruídos em questão de semanas. É difícil prever a duração do branqueamento ou quando o próximo evento terá lugar. A temperatura da Mancha já caiu um pouco, e o El Niño, embora enfraquecido, está previsto para se estender até 2017.
C. Mark Eakin, coordenador do Coral Reef Watch na Administração Oceânica e Atmosférica Nacional, em Maryland, prevê que o branqueamento se prolongue por mais nove meses. Está claro que esses eventos estão ocorrendo com frequência e intensidade crescentes. Os branqueamentos anteriores, em 2010 e 1998, não parecem ter sido tão extensos ou prolongados quanto o atual. O branqueamento de 1998 matou cerca de 16% dos corais do mundo. Em 2010, os oceanos já tinham se aquecido tanto que bastou um El Niño moderado para desencadear nova onda de branqueamento.
Então, em 2013, disse Eakin, "houve muito branqueamento causado pelas mudanças climáticas, antes mesmo de El Niño começar". Os recifes branqueados em 2014 não tiveram tempo de se regenerar antes de sofrer novo ataque térmico do El Niño no ano passado.
O El Niño aquece as águas equatoriais em volta da ilha de Kiritimati mais que em qualquer outro lugar do mundo, fazendo da ilha um indicador da saúde dos recifes mundiais.
Por isso Cobb vem visitando esse pequeno atol pelo menosumavezporanohá18anos.
Embora o atol fique logo ao norte da linha do equador, os ventos alísios sugam a água das profundezas do oceano para a superfície, normalmente conservando as águas que cercam os recifes numa temperatura sadia e quase constante de 25oC. Em 2015, porém, disse Cobb, a ascensão prevista de água fria das profundezas não aconteceu. Assim, a água no atol estava 6,5oC mais quente que o normal e não chegou a esfriar o suficiente para permitir a recuperação dos corais.
"O pior aconteceu", disse Cobb. "Isso mostra como as mudanças climáticas e o aquecimento estão afetando esses recifes no longo prazo. Este recife talvez nunca volte a ser como antes."

FSP, 16/04/2016, The New York Times, p. 1-2

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