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Aquecimento global

OESP, Vida, p. A15
Autor: LAPOUGE, Gilles
30 de Jan de 2007

Aquecimento global

Gilles Lapouge

O termômetro está presente na arena política. Na França, é o capítulo menos terno nos discursos dos candidatos à presidência. Na sexta, o presidente Jacques Chirac abrirá uma conferência para uma "governança ecológica mundial." E começou ontem, em Paris, uma semana de discussões sobre o clima sob a égide do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), que apresentará seu relatório.

Essa sessão do IPCC é apaixonante, de um lado, por sua dimensão e seu alto nível científico e, do outro, por abrigar ao mesmo tempo cientistas e delegados dos governos. O perigo do aquecimento é atacado pelos sábios e os homens de poder, essas confrarias trabalhando "de mãos dadas": exemplo de "lobby científico" nunca conseguido com tanto brilho desde a bomba atômica.

O veredicto do IPCC é conhecido: perigo e pavor. Esperemos pelo relatório. Por enquanto, daremos palavra a um dos raros "desviantes" nessa massa antiaquecimento, o ex-ministro francês de Educação Claude Allègre, cientista mundialmente admirado.

Há alguns meses, Allègre criou celeuma ao considerar exagerada a ameaça ao clima. Ele recoloca isso no Figaro, mostrando-se um pouco mais "consensual" ao admitir que há uma deriva climática, mas teme que os "aiatolás" da ecologia proponham remédio pior que a doença.

Aquecimento. De acordo, o aquecimento existe. Mas medidas tomadas hoje terão efeito daqui a 50 anos! E as previsões são de que, em um século, teremos um aquecimento de 2oC apenas e uma elevação dos mares de 30 a 40 cm. Ora, pedem-nos para reduzir em três quartos as emissões de gases-estufa, o que desempregaria 200 mil por ano na França.

Segue-se um quadro de economia controlada pelos ecologistas extremados: cada pessoa teria direito a 2 mil km de carro por ano, a 40 km/h, e a uma viagem de avião. Nada de aquecimento doméstico. Os trens seriam movidos a vento? Interdição de organismos geneticamente modificados (OGM). A França os destrói, importando soja da Argentina. A França está errada. Os OGMs permitirão dispensar inseticidas, pesticidas, parte dos adubos. "Ajudarão as plantas a resistir à água". Combaterão epidemias e a fome.

Energia nuclear. "O uso da energia nuclear," diz Allègre, "não é muito seguro, segundo os ecologistas, por causa do lixo. Desenvolvamos, pois, reatores de quarta geração!"

Sobre todos esses pontos, o ex-ministro ataca tanto os ecologistas como a esquerda. Ele explica: no passado, à força de trabalho e inteligência, os homens resolveram problemas ecológicos: "Substituímos o chumbo na gasolina. Banimos os CFC para proteger a camada de ozônio substituindo-os por outro produto. Diminuímos as chuvas ácidas. Em cada caso, isso criou empregos e estimulou a economia. São exemplos a serem seguidos."

A conclusão: "Viva a ecologia, motor do crescimento! Abaixo a ecologia do declínio... Ninguém pode se dizer de esquerda sem essa filosofia". O artigo de Allègre será comentado, acidamente, durante a semana do IPCC.
Giles Lapouge é correspondente em Paris

OESP, 30/01/2007, Vida, p. A15

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