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Apyterewa: Posseiros não vão arredar pé de reserva

Diário do Pará-Belém-PA
Autor: Antônio José Soares
15 de Jun de 2005

Ibama e Incra marcam novo encontro com ocupantes da reserva indígena Apyterewa

A reunião, em São Félix do Xingu, entre os colonos e grileiros que estão na reserva indígena Apyterewa, de 773 mil hectares, dos índios Parakanã, acabou se transformando numa espécie de seminário do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis-Ibama e do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária-Incra, para mostrar como as atividades econômicas devem ser conduzidas na área, até que haja uma solução para o problema. A Fundação Nacional do Índio-Funai, o Conselho Indigenista Missionário - Norte II (Cimi), e a Comissão Pastoral da Terra-CPT não mandaram representantes ao encontro que durou dois dias e terminou ontem, às 14h. Também não compareceu o delegado regional do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Carlos Guedes, e nem representantes dos índios. Pelo Ibama, estava presente o gerente de Marabá, Ademir Martins, e pelo Incra, o executor de São Félix do Xingu, Fernandes Martins, que deve divulgar, até o final da semana, um documento com os principais pontos abordados nessa reunião.

O prefeito de São Félix, Denimar Rodrigues (PMDB) e a prefeita em exercício de Tucumã, Lucilei Martins Guedes (PT), estiveram presentes. Na próxima segunda-feira, em Marabá, sudoeste do Pará, acontece nova reunião, com representantes do MDA e a superintendente do Incra de Marabá, Bernadeth Tem Caten, quando as questões agrárias serão novamente tratadas. Mas desta vez, apenas três representantes dos agricultores serão enviados de São Félix do Xingu.

É quase impossível determinar quantos posseiros estão hoje na área dos Parakanã. No mês passado, o Exército e a Funai concluíram a demarcação da reserva localizada entre São Félix do Xingu e Altamira, no sul do Pará, logo abaixo da reserva dos Araweté, do Igarapé Ipixuna. A grande maioria dos invasores é constituída de grileiros e madeireiros. Por isso, a reserva já foi reduzida de 980 mil hectares para 773 mil hectares.

Mas, o Ministério Público Federal não aceita essa redução, cuja finalidade era deixar fora da área a maioria dos grileiros, como Benedito Lourenço da Silva, o "Ditão", "Renes", "Daniel" e "Miltinho", que se opunham à demarcação da reserva, determinada pela desembargadora federal Selene Maria de Almeida, do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1ª Região (Brasília). Selene determinou a retirada da Peracchi e dos grileiros, das áreas conhecidas como Paredão e Pé de Morro.

Fazendeiros prometem reagir

Os grileiros estabelecidos na reserva Apyterewa, dos Parakanã, não estão dispostos a sair da área e apontaram, na reunião encerrada ontem, em São Félix do Xingu, novas propostas para recuar os limites da reserva, deixando o assentamento São Francisco (criado pelo Incra), fora da reserva. Também querem que o governo do Estado reveja o seu projeto de Zoneamento Econômico Ecológico. Pela definição atual, quase toda a atividade produtiva será inviabilizada. Pelo menos é o que acredita o maior fazendeiro da área, o mineiro Benedito Lourenço de Lima, 58, conhecido na região como Ditão. Ele está muito preocupado com o futuro das atividades rurais naquela região e acha que Incra e a Funai não devem mais mexer com os colonos que vivem na terra dos Parakanã. Ditão chegou à região em 1980. Nesses 25 anos, construiu um enorme patrimônio, constituído de fazendas, casa e postos de gasolina. "Ninguém chegou aqui com dinheiro. Tucumã se desenvolveu por iniciativa do povo", recorda o pioneiro.

Novos colonos - Com a expansão da agricultura em Tucumã, São Félix do Xingu, Ourilândia do Norte, Altamira e demais municípios da região, face à implantação de grandes projetos de mineração, novos empreendedores estão sendo atraídos para a área. Ditão disse que está esperando 150 agricultores, oriundos do Triângulo Mineiro, atraídos pela perspectiva de um novo surto de progresso. Eles querem investir em agronegócio, mas só virão se o governo paraense lhes assegurar boas condições. Esse grupo de 150 foi contatado pelo prefeito de Tucumã, Alan de Souza Azevedo (PL), cuja campanha, segundo voz corrente na cidade, foi patrocinada por Ditão. "Ele ajudou, mas não foi o patrocinador de nossa campanha", defende-se a prefeita em exercício, Lucilei Martins Guedes (PT).

Tucumã conta, hoje, com 2,7 mil agricultores e fazendeiros. Entre os que estão na reserva Apyterewa, o medo é que tenham de retirar das terras indígenas pelo menos 300 mil cabeças de gado, 10% do rebanho total da região, que conta, segundo dados do IBGE, com cerca de 3 milhões de cabeças de gado. Esse rebanho é suficiente para abastecer dois frigoríficos, em fase de implantação. Esse sonho está ameaçado, segundo os empresários, pela postura do Ministério Público diante da idéia de manter na reserva Apyterewa, o grupo invasor. Por isso, Ditão já está aplicando parte de seus recursos na construção de um grande posto de combustíveis, no início da cidade de Tucumã, num amplo terreno que lhe foi cedido gratuitamente pela prefeitura local.

Parakanã: crise entre Rondon e Barata

O povo Parakanã se autodenomina Awareté, que significa "gente de verdade". A língua dos Parakanã pertence à família Tupi-Guarani.

Os Parakanã sempre se situaram entre os rios Xingu e Tocantins, área do atual município de Tucuruí. A construção da Estrada de Ferro Tocantins, a partir da década de 20, trouxe os primeiros conflitos dos indígenas com os brancos. Esses conflitos provocaram uma crise entre o Marechal Rondon e o governador paraense Magalhães Barata. A crise começou em 1944, quando engenheiro-diretor da Estrada de Ferro Tocantins, Carlos Teles, estando na presença de Barata, autorizou os funcionários da empresa a atirarem nos índios, assim que os avistassem na ferrovia.

Uma incursão com 30 homens armados, chefiados por Teles, não encontrou os Parakanã, mas destruiu os seus ranchos. Em 1949, Magalhães Barata enviou telegrama ao Marechal Rondon, reclamando que o representante do SPI (Serviço de Proteção ao Índio), em Tucuruí, estava impedindo os policiais de afugentarem os Parakanã, os quais, armados com rifles, ameaçavam os moradores da cidade.

A resposta de Rondon negava que os Parakanã usassem armas de fogo e declarava que os ataques indígenas eram revides aos ataques que sofriam e às chacinas em que se destacavam as perversidade do paranóico "Pá Virada", contra indefesos curumins assassinados pelo infame processo de esfacelar-lhes os crânios de encontro aos troncos das árvores. "Pá Virada" ou "Pá Torta" era um bandido famoso pela crueldade e violência que empregava contra os indígenas. Na década de 70, com a abertura da Rodovia Transamazônica e a construção da Hidrelétrica de Tucuruí, iniciaram-se os contatos da Funai com os Parakanã, que viviam dispersos, formando vários grupos isolados. Somente em 1984 foi contatado o último grupo. A população indígena Parakanã, em 1984, era de 347 pessoas. Em 1991, de acordo com informações da Funai, eram 307 os Parakanã. Hoje os Parakanã habitam três aldeias, duas delas situadas nos municípios de Itupiranga e Jacundá, e a terceira nas proximidades do rio Xingu.

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