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Aprendiz entre mestres

FSP, Mercado, p. A23
Autor: PASSOS, Pedro Luiz
14 de Jul de 2017

Aprendiz entre mestres

Pedro Luiz Passos

Apesar do poderio econômico, do maior orçamento militar do planeta e da tradição de liderar consensos globais, os EUA do presidente Donald Trump não estiveram na vanguarda nem da fotografia oficial do G20.
Este Trump surpreendentemente tímido para quem se fez famoso como apresentador de reality show indicou que há forças no mundo mais fortes que sua oposição à globalização, ao acordo do clima e ao unilateralismo do lema "America First".
Ao contrário das cúpulas anteriores do G20, a declaração final desta feita, ratificada por Trump, foi menos vaga que de costume. Prevaleceu o viés de uniformização da regulação econômica no plano do G20, destacou a "The Economist".
O documento, por exemplo, tratou os compromissos de redução de emissões de poluentes, subscritos em 2015 sob influência do então presidente Barack Obama, como "irreversíveis", apesar de Trump ter retirado os EUA do Acordo de Paris.
Por outro lado, o pragmatismo entrou em cena com a inclusão do compromisso, validado por Trump, de que os EUA vão trabalhar "em estreita colaboração com outros países para ajudá-los a acessar e usar combustíveis fósseis de forma mais limpa e eficiente".
Assim também foi com as práticas comerciais. Estudos indicam que o comércio mundial segue crescendo de maneira sincronizada, apesar da ameaça protecionista de Trump e do "brexit".
A diplomacia de Angela Merkel, aliada à plataforma pró-globalização defendida por França e China, além do anúncio do acordo comercial UE-Japão, deram um nó em Trump. Ou não.
Observadores do G20 viram o dedo de diplomatas dos EUA nos termos da declaração conjunta sob o lema "Criando um mundo interconectado". Mas com flexibilidade para Trump dizer que "a questão fundamental de nosso tempo é se o Ocidente tem vontade de sobreviver".
Seus antecessores na Casa Branca moldaram uma ordem global mais ou menos consensual. De olho num eleitorado que culpa a globalização pela perda de seus empregos, Trump reintroduziu a doutrina segundo a qual os EUA não têm amigos, têm interesses.
Felizmente, megatendências globais, como a integração produtiva entre os países, graças às quais milhões saíram da pobreza no mundo, superam ideologias e demagogias populistas. Mas também trazem efeitos sociais, gerando reações contra o livre-comércio e o avanço tecnológico. Só que não há como atrasar o relógio global.
O jeito é preparar as pessoas para os novos tempos, abrir-se à modernidade e desafiar soluções historicamente equivocadas. O Brasil já está há muito tempo na contramão do que se passa lá fora, com economia defasada e superprotegida.
Entre as dez maiores economias, temos a maior tarifa sobre importações, 8,3% em média, acima da Índia (6,3%) e da China (3,4%), segundo o Peterson Institute for International Economics.
Nem a crise política alimentada pelo impedimento de Dilma e, em uma única semana, pela condenação de Lula e pela discussão na Câmara dos Deputados da denúncia contra o presidente Temer foi suficiente para deter o avanço da agenda econômica.
A reforma trabalhista, sancionada nesta quinta (13) pelo presidente, é a prova de que queremos erradicar o atraso que inviabiliza o progresso e a paz social.
Abandonar o isolamento em relação ao mundo é parte desse projeto em construção. Quem sabe na cúpula do G20 de 2018, na Argentina, talvez com a consagração do acordo entre Mercosul e UE, o país já esteja com a cabeça feita. Qualquer outra coisa implicará cenários mais adversos do que estamos vivendo.
O mundo não para e o Brasil precisa deslocar o farol na direção do desenvolvimento.

FSP, 14/07/2017, Mercado, p. A23

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/pedropassos/2017/07/1900985-g20-re…

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