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Após ferrovia, MST invade hidrelétrica da Vale

O Globo, O País, p. 12
12 de Mar de 2008

Após ferrovia, MST invade hidrelétrica da Vale
Militantes sem-terra, da Via Campesina e do MAB ocuparam outras quatro geradoras no Sul, no Ceará e em Rondônia

Adauri Antunes Barbosa, Chico Otavio e Isabela Martin

Cerca de 400 manifestantes liderados pelo Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), MST e Via Campesina, ocuparam e paralisaram, na manhã de ontem, as obras da hidrelétrica de Estreito, na divisa do Maranhão com Tocantins. Uma das principais obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para a geração de energia, a usina é construída pelo Consórcio Estreito Energia, formado pelas empresas Tractebel, Alcoa, Vale e Camargo Correia.

A ocupação do canteiro de obras foi a maior de uma série de ações desencadeadas ontem pelas três entidades. Também houve ocupações em outras quatro geradoras de energia no Paraná, na divisa de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, no Ceará e em Rondônia. Em Estreito, os manifestantes fizeram o terceiro protesto contra uma obra da Vale em menos de uma semana.

- Foi um movimento orquestrado, feito por pessoas de fora. É lamentável que, nesta altura do campeonato, a gente enfrente esse problema - disse o presidente do consórcio, José Renato Ponte.

Cerca de 200 ativistas ocuparam a entrada de acesso ao canteiro de obras, às margens da BR-010, por 11 horas. Quando chegaram, a maior parte dos 1.800 trabalhadores do consórcio já não estava no local - diante dos rumores de invasão, o consórcio os dispensou. A assessoria de comunicação do Estreito Energia informou que os invasores teriam depredado as futuras instalações de uma batalhão da PM, localizado em frente ao local.

O coordenador estadual do MAB, Cirineu Rocha, disse que, na primeira tentativa de ocupação, os policiais militares que esperavam pelos manifestantes deram tiros para o alto. Os sem-terra, impedidos de entrar, levantaram um acampamento e não permitem a entrada dos funcionários e passagens de veículos.

Juiz concede liminar de reintegração de posse O juiz Gilmar de Jesus Emerton Vale, de Estreito, concedeu liminar ao consórcio Ceste, no fim da tarde, determinando à polícia medidas de reintegração de posse. A ocupação, alega o consórcio, acarreta sérios transtornos ao processo de construção e põe em risco a integridade física dos trabalhadores.

Cirineu Rocha disse que a manifestação tem três reivindicações: a abertura do diálogo com o consórcio e a criação de um fórum de negociação, a aplicação de direitos já conquistados em outras barragens e o respeito aos direitos dos indígenas atingidos.
O diálogo não existe.
Também queremos os mesmos direitos conquistados na hidrelétrica de São Salvador, onde as famílias atingidas recebem 27 hectares de terras ou carta de crédito de R$ 70 mil. Aqui, estão oferecendo apenas 12 hectares ou carta de R$ 35 mil - diz Cirineu.

Maior projeto de geração de energia em curso no país e integrante do PAC, a hidrelétrica de Estreito terá capacidade para gerar 1.087 megawatts a partir de 2010. A barragem deve inundar uma área de 430 quilômetros quadrados, onde estão 12 municípios de Tocantins e do Maranhão. Na área há aldeias indígenas e um assentamento do MST.

Nosso relacionamento com a população local é o melhor possível. Fizemos 39 convênios socioambientais e temos acordos com a maioria dos municípios da área de abrangência - disse o presidente do consórcio.

Consórcio só mantém trabalhos de concretagem
José Renato Ponte disse que, embora os manifestantes não tenham entrado no canteiro, o consórcio decidiu paralisar a obra para não expor os trabalhadores e os próprios ativistas a riscos, uma vez que o local guarda explosivos e opera com caminhões de 90 toneladas. Uma pequena equipe foi mantida, segundo o consórcio, para não afetar o processo de concretagem.

O consórcio alertou que a manifestação pode causar sérios transtornos ao empreendimento e comprometer gravemente o cronograma de obras da hidrelétrica.

Outras obras também foram alvo do MAB, MST e Via Campesina. No Ceará, uma invasão de aproximadamente 700 pessoas paralisou obras do trecho três do Canal da Integração, que compreende 66 quilômetros, localizado no município de Morada Nova, a 161 quilômetros de Fortaleza.

Os manifestantes apresentaram uma pauta diversificada de reivindicações, desde a conclusão de obras de infra-estrutura nas casas dos reassentamentos à implantação de projetos de irrigação com subsídio de água e energia, sem custo para as famílias.

Em Saudade do Iguaçu (Paraná), cerca de mil pessoas ocuparam a hidrelétrica de Salto Santiago. Na divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, 400 manifestantes ocuparam a hidrelétrica de Machadinho. Em Porto Velho, capital de Rondônia, outras 700 pessoas ocuparam a termelétrica Rio Madeira.

Anteontem, cerca de 800 ativistas bloquearam a ferrovia da Vale que atravessa o município de Resplendor, no vale do Rio Doce, afetando a exportação de minérios da empresa.

No sábado, foi ocupada a sede da Ferro Gusa Carajás, da Vale no Maranhão.

O Globo, 12/03/2008, O País, p. 12

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